06 - Coincidências... ou paranóia?

39 17 71
                                    

Quando você espera muito por algo, é inevitável não criar várias versões na sua mente, nem que seja em nossos mais secretos pensamentos. Não posso ser hipócrita, eu ja imaginei por várias vezes como seria com Pedro. Talvez por isso tinha mantido uma distância segura dele. Estar com alguém depois de tanto tempo é estranho no início, mas logo entramos na mesma sintonia. Eu conseguia sentir o que ele esperava de mim, e no fim foi como dançar a dois. Mas uma dança intensa, com pressa pra amar. Ja tínhamos esperado por tanto tempo. Mesmo que eu tivesse certa de que não queria nada sério, me entreguei de corpo e alma. E foi a melhor noite da minha vida. Não quero colocar todo o mérito nele, e nem tirar também. Mas pela primeira vez em toda a minha vida, eu arrisquei. Fiz o que meu corpo tinha vontade, e deixei de me julgar pelo menos uma vez. A antiga Luisa jamais iria ser tão ousada, ainda mais com um <quase/> estranho. Mas a nova Luisa sim, eu estou me apaixonando por ela.

- Agora eu nem quero ir pra festa nenhuma mais, quero ficar aqui com você. — disse Pedro, me aconchegando nos seus braços.
- Eu também. — me sentia protegida aqui dentro, tinha a sensação de quando saísse do quarto todo o encanto acabaria, e eu teria que lembrar da realidade.

Então Pedro continua.

- Sabe, desde a primeira vez que eu te vi, naquele elevador, nunca mais consegui tirar você da minha cabeça. — disse olhando nos meus olhos.
- Você diz isso pra todas, certeza! — disse pra tentar disfarçar meu desconforto, mas eu também Pedro, eu também.
- Por que eu iria mentir sobre isso? Sei que você ta fugindo de mim, mas vou ser sincero no que eu sinto. Você que lide com esse medo que tem. Ou medo do que sente por mim, né linda.
- Você é convencido, chefe Pedro. Mas eu estou em uma fase muito desapegada. — e rimos, depois do que aconteceu o clima era diferente entre a gente, de intimidade.
- Isso por que eu ainda não cozinhei pra você, estou guardando a melhor parte pra conquista final.
- Eu sou uma conquista então?
- Qual o mal nisso? Minha conquista mais linda! To feliz em ta aqui com você.

Enquanto estava ali nos braços dele, parecia que encaixava. To até começando a achar que estou sendo muito dura com ele. Quem sabe eu não me permito amar de novo. Ele fica me dizendo tantas coisas lindas, que me faz eu me sentir especial de novo.

Meu telefone toca, me tirando da bolha de amor que estávamos.

Helô: Amigaaa, finalmente! Não esquece que vamos sair mais tarde, não me faça ir ai te buscar hein!!
Luisa: Acho que vou ficar de boa hoje amiga, vamos deixar pra ir amanhã.
Helô: Não não, jamais que eu vou deixar você ai sozinha curtindo a fossa. To indo ai te buscar agora mesmo!
Luisa: Não, espera ai! Eu vou! Te encontro ai quando estiver pronta.

Olho pra Pedro.

- Temos um problema, elas querem me arrastar pra sair de qualquer jeito.
- Vamos pra festa que eu tava indo então, chama elas.
- Boa ideia, vou ver pra onde elas querem ir.

Mando mensagem pra Helô, e por muita coincidência, elas ja iam pra mesma festa. Olho pra Pedro ali deitado na minha cama, e volto pra deitar mais um pouquinho e curtir o primeiro momento de paz que tenho em semanas.

- Sabe outra coincidência muito louca, você vai rir disso com certeza, mas esse resort aqui é da minha família também. Eu te disse que quem ta me perseguindo é você né. — rindo.
- Mas a sua família é dona de tudo pelo visto, que culpa eu tenho? — digo rindo, mas então a ficha cai.

COMO ASSIM? Será que o "problema" da Sheila, é o Pedro?
Tomara que seja um irmão, não pode ser verdade.
O clima de amor se vai bem rápido e eu tenho a necessidade de tirar essa história a limpo. Ele mentiu pra mim, disse que eles não tinham nada. MENTIU.

- O que foi? Você ficou distante de repente. — pergunta Pedro.
- Eu preciso que você vá embora, não devia ter acontecido — o desespero me invade, me sinto suja de repente, traída.
- Para de negar o que sente por mim, eu sinto por você também. Você não vê pelo jeito que eu te toco? — me pergunta sem entender nada e senta na cama.
- Não. Não da, preciso ficar sozinha. Por favor. — me afasto dele, sinto uma dor forte no estômago, de tristeza.
- Não entendi nada agora, Luisa. Você é muito confusa. Tava tudo certo, eu disse algo errado? — levanta da cama, ainda sem roupa, e parece procurar a roupa.
- Por favor, eu não quero ir mais — me levanto e vou alcançando as roupas dele bem rápido, que vontade de chorar, mas não na frente dele — Vai embora.
- Você vai ter que arranjar uma desculpa melhor pra isso que aconteceu agora. Meu Deus! Você parece um homem com essas atitudes, me mandando embora depois do que acabamos de fazer nessa cama. — diz com raiva apontando pra ela. Se vestiu bem rápido , e então ele sai do quarto se achando o dono da razão e nem olha pra trás.

Não deve estar acostumado a ser tratado assim, como mais um. Mas foi como ele fez eu me sentir. <Só mais uma./>

Quando ele bate forte a porta, meu coração bate mais forte junto. E me vem na mente... ele tem outra pessoa, e jurou que eles não tinham nada. As lágrimas vão caindo e eu me sinto uma idiota. O que eu pensei que seria? Acabei de sair de um casamento e o amor ja iria me procurar assim cedo. Mesmo eu falando que não queria nada, eu esperava sinceridade dele.
Passei o dia todinho vendo a menina sofrer por ele, e terminei o dia em cima dele. Com que cara que eu vou olhar pra ela agora.
Preciso falar com a Helô, só ela pode esclarecer isso. Coloco a roupa que estava usando antes, e saio correndo pro andar de cima procurando minha amiga. Quando acho o quarto, bato desesperada na porta.

- Hey hey, calma ai! Tem campainha sabia? — abriu a porta rindo, mas a expressão mudou quando me viu chorando — O que houve, Lu? Entra. — me puxando pra dentro.
- O Pedro, Helô. Ele ta aqui, o meu Pedro. Eu te contei sobre ele, lembra?
- Ta, mas o que ele te fez? Eu vou ter que matar esse cara, e olha que eu ja estava no time dele.
- Helô, calma e me diz uma coisa, qual o nome do seu amigo, o que a Sheila tem um rolo?
- É o Pedrinho, por que? — diz sem maldade nenhuma.
- Pedro amiga, Pedrinho... me diz que não são a mesma pessoa! — e volto a chorar.
- Não pode ser! — diz mais assustada que eu.

Eu não sei bem pelo que to chorando. Poderia ser por ele ter mentido, por pena da Sheila que tinha uma história com ele, ou então deve ser por eu ter me permitido amar outra vez.

- Então a Sheila que era a namorada da outra festa, amiga? Você não perguntou pra ele?
- Eu perguntei! Ele negou, disse que não tinha nada com a moça da festa, e eu não tinha visto que era ela. — mais choro, agora de culpa — Eu não sabia, Helô. Eu acreditei nele, e eu tava tão carente. — paro pra criar coragem.
- Ainda bem que você não deu trela pra ele! Que livramento hein.
- Ele acabou de sair do meu quarto agora amiga. — digo com vergonha.
- Meu Deus! — e ficamos em silêncio pelo que pareceu uma eternidade — Isso ta pior do que eu imaginava então. — ela para escolhendo o que dizer — E o que você quer fazer?
- Eu quero fugir! Não quero ver ele nunca mais, não acredito que eu me permitir gostar dele. Eu não queria aceitar, mas no fundo achei que ia ser diferente com ele.
- Você precisa resolver isso Luisa, fingir que não aconteceu não vai resolver nada. A dor vai continuar ai, e a incerteza do que poderia ter sido. A gente conversou tanto sobre isso aquele dia na tua casa. Senta aqui, vou buscar um copo de água pra você e vamos pensar juntas no que fazer.

Ainda bem que não estou sozinha, Helô me acalma e eu começo a respirar sem os soluços do choro. Dói tanto ser enganada, eu ja estava criando contos de fadas na minha mente, e agora fui jogada de um penhasco.
Começo a me questionar se fiz o certo em terminar com o Vicente, o mundo aqui fora é tão cruel. Eu não quero ser mais uma como Sheila, que fica sofrendo por alguém que não esta nem ai pra ela, que está indo pra cama com outras mulheres. Meu peito dói, como vou olhar pra Sheila agora?
Quando Helô volta com a água, eu consigo me acalmar melhor e conto tudo. As coisas que ele me disse, e que agora já não valem mais nada. Por que ele é mentiroso, falou isso só pra conseguir algo comigo.
Depois de muita conversa, a Sheila começa a enviar algumas mensagens perguntando se ja estamos prontas. Tinha até me esquecido dessa festa. Helô diz que passei mal, e que não vamos mais ir, mas como a Sheila ja estava pronta, decide ir sozinha.

- Pedro vai ir com ela, certeza amiga. — diz Helô depois de desligar o telefone — Ela ta toda felizinha, e disse pra não se preocupar que vai de carona.

Uma sensação de raiva me atinge. Que descarado! Ja foi correndo pra ela. Não vou deixar isso barato. Decido que vou colocar o Pedro contra a parede e dizer umas boas pra ele. Eu serei a última que ele enganou. Vou fazer ele se sentir tão mal, quanto ele fez comigo.

- Não, mas então agora mesmo que eu quero ir! — digo ja levantando e secando as lágrimas.

PROCURANDOOnde histórias criam vida. Descubra agora