11 - O que acontece quando apagam a luz?

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Quando criança, eu sempre quis saber o que acontece depois da morte. Desde pequena fui muito curiosa, e essa era uma dúvida quase sem resposta. Pensava que era muito triste partir sem ter realizado todos os sonhos, sem ter vivido todas as experiências, sem ter finalmente encontrado o que eu tanto procurava. O que me completasse e me deixasse ter uma vida leve e feliz. Me preocupava também em como iria partir sem me despedir das pessoas, sem ir uma última vez nos lugares que eu gosto, sem comer sorvete pela última vez. Sempre achei que deveríamos ser avisados do último dia. Assim eu teria certeza de que iria aproveitar muito mais, sabendo que seria a última vez.

Como o último abraço no meu pai, as vezes eu pensava que eu deveria ter apertado mais forte, se eu soubesse... Não que agora eu me importe muito, acho que parei de pensar nessas perguntas loucas sobre a vida e a existência. Quando somos pequenos pensamos tanto em como coisas naturais simplesmente acontecem, que me pergunto quando deixamos de nos importar. Provavelmente quando paramos de acreditar em Papai Noel e Coelhinhos da Páscoa, tudo perde a graça. O problema deve estar ai, quando nos tiram a inocência.

Eu fui criada pelos meus dois pais até o que eu me lembro uns 5, ou 6 anos de idade. Depois quase não lembro da presença do meu pai. Minha mãe foi os dois, e com muita maestria. Tão boa, que quase não sentia falta de um pai. Bem, quase. Os piores dias eram claro, os dias dos pais. A escola cheia, e nós a semana toda ensaiando cantos, versos, algo bonito, para encantar nossos pais. Sempre fui uma criança sonhadora, então sempre ensaiava com a esperança de que se eu me destacasse, meu pai iria voltar a se importar comigo. Pensava que de repente se eu me esforçasse muito, ele apareceria para assistir. O que nunca aconteceu.

Minha mãe nunca foi de falar dele, e eu nunca tive coragem de perguntar. Não queria a magoar com minhas perguntas, ou fazê-la se sentir insuficiente. Assim seguimos por toda a minha vida. E aquele que seria mais um assunto do qual eu deveria me acostumar, virou um tabu em nossa casa. Era algo que não faria diferença para mim de qualquer forma, a realidade ja estava escrita e nada do que eu soubesse iria remendar o que ja passou. Então eu sempre demonstrei que não me importava, e minha mãe nunca soube que enquanto eu cantava e recitava poemas para ela, era ele que eu esperava ver. Acredito que depois dos 10 anos, aquilo ja estava tão guardado, que nunca mais pensei sobre. Agora lembro, mas não tenho certeza do tamanho da dor. É tão antigo dentro de mim.

Com o passar dos anos, sempre senti uma sensação de que era insuficiente. Eu era uma boa aluna, mas por mais que eu estudasse e me esforçasse muito, sempre fui mediana. Nunca o destaque da turma. Os meninos também não me olhavam muito, pois eu era focada demais em meus livros. Isso demorou para aflorar a minha adolescência, o que vejo que foi bom. Pude aproveitar por mais tempo a inocência.

Quando comecei despertar a minha atenção em alguns meninos, ja estava com 16 anos. Mas só aos 17 anos tive meu primeiro beijo, e pasmem, foi com Vicente. Eu avisei que ele era um amor antigo, e bom, bota antigo nisso. Eu ja havia me apaixonado por ele aos 16, sempre o admirei, mesmo que de longe. Mas como tínhamos quase dois anos de diferença, é claro que ele nem me olhava. Eu no primeiro ano, e ele ja no terceiro, quase se formando. Mas foi no baile de formatura dele, que ele me viu sozinha em um canto e veio falar comigo. Me lembro como se fosse hoje...

~~~~~~~~ 🦋 13 anos antes...

Eu estava cansada depois de dançar muito com algumas amigas. Minha me cobrava para não chegar bêbada em casa, então depois de tomar um copo de um cocktail meio laranja e vermelho, comecei a ficar tonta e com peso na consciência. Era melhor sentar um pouco para dar uma respirada. Avistei de longe umas poltronas vazias e super confortáveis, então me guiei até lá. Eu me aconcheguei e consegui controlar a tontura, eu era tão fraca para beber. Decidi que ficaria mais tempo do que havia planejado, iria finalizar toda a garrafa de água que havia trago comigo. Algum tempo depois vejo ele se aproximando de mim. Eu jamais pensei que ele estaria vindo falar comigo, imagina o meu espanto quando ele sentou ao meu lado. Vicente não gostava de beber, então era um dos únicos que ainda estava sóbrio. Enquanto ele se acomodava na poltrona ao meu lado, eu sentia um frio percorrer toda as minhas costas. Desde novo, ele sempre teve um ar de "vida resolvida", e não era a toa, pois ele ja tinha toda a vida traçada pela família. E aquilo não parecia o sufocar, pelo contrário, o dava liberdade para não se preocupar. Ele ja era tão lindo e bem cuidado, que eu me perguntava se ele teria algum defeito. Por que eu não conseguia achar um se quer. Depois de alguns minutos sentado ao meu lado, ele iniciou o primeiro contato.

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