04 - Amor Próprio.

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Não acredito, Pedro está bem na minha frente.

- Eu iria te devolver eles no restaurante mesmo, mas você só me deixou esse bilhete — fala segurando o papel em uma mão e me entregando os brincos na outra, enquanto me olha com a maior cara de pau. Claro que ele queria algo a mais.
- Eu... e.. eu — fico tentando achar palavras, mas não vem.
- Vem comigo, estamos no meio do caminho! — me conduz pela mão até o balcão do bar e me ajuda a sentar no banco alto.

Ficamos nos olhando por um tempo, e eu completamente sem graça e sem reação. Não sei mais como paquerar, eu falo o que agora? Pergunto do clima?

- Você é meio doidinha, parece que está sempre fugindo de alguma coisa, com cara de assustada.
- Eu ando fugindo de mim mesma ultimamente. — me viro pro barman e peço um Gin Tônica. Deixei muito séria a conversa, mas estou desconfortável.
- E uma dose de whisky com gelo pra mim, amigo. — ele parecia tranquilo, acostumado, enquanto eu bolava um plano de sair correndo.
- Eu não esperava que fosse você, nem imagino como posso ter perdido os brincos.
- Foi na semana passada, você esbarrou em mim no bar e saiu correndo. Tentei te procurar, mas você sumiu.
- Mas não adianta fugir, não é mesmo? Haha Você me encontra.
- É o destino querendo nos unir, linda. — disse rindo e já se inclinando pra cima de mim.
- Ei, calma aí.
- É que eu achei que...
- Achou errado. A gente nem se conhece direito. — mas gente, gastei toda minha ignorância atoa. Estou nervosa, só não sei como dizer isso.
- Perdão, eu achei que você tivesse na mesma vibe que eu. Não queria te ofender. — ele fica todo tenso de repente.

Por que não? Pensei. Me inclinei e beijei ele. E que beijo!
Sabe a sensação de estar entrando em um caminho sem volta? Esse homem vai desgraçar minha vida.
O clima vai esquentando e então ele faz o convite.

- Quer sair daqui? — e eu só balancei a cabeça que sim, virei o gin e pedi pra ele me encontrar lá fora.

Dessa vez fui avisar minhas amigas, mas falei qualquer desculpa, não queria que ninguém soubesse. Reencontrei ele do lado de fora, me esperando dentro de um carro. E uma sensação estranha de voltar a adolescência me pegou, mas fui com medo mesmo. Entrei no carro e perguntei pra onde iríamos, já imaginando se ele iria me levar pra algum motel ou pra casa dele. Mas tive uma surpresa.

- Tem um mirante aqui perto, a lua fica linda lá de cima refletindo no mar. É meu lugar favorito quando eu venho pro Rio.
- Você não é daqui?
- Sou sim, minha família é toda daqui. Eu que fui embora cedo pra estudar, e meio que vivo no mundo. Mas como todo bom filho, eu volto e fico uns meses por perto.
- Ah, entendo. Eu achei que você fosse o chefe no restaurante, que tivesse residência fixa aqui.
- Não não, aquele é um dos restaurantes da família, sempre que eu to por aqui gosto de ir pra linha de frente. Sou sim chefe de cozinha, mas por formação, não chefio uma em específico. Trabalho mais com consultorias, por isso to sempre viajando.
- Hmmm, entendi. Parece divertido.
- É sim, eu amo o que o faço. Opa, chegamos! — ele sai e abre a porta do carro pra mim.

O lugar é realmente lindo, a céu aberto, só não consigo ver muitos detalhes por estar bem escuro, mas as luzes ambiente deixam um clima romântico. Vamos até a ponta e sentamos em um banco com vista pro mar.

- A lua é realmente linda daqui.
- Eu não te disse? Meu lugar favorito, e agora pode ser o seu também. É muito bom pra se esconder, você que gosta tanto de fugir.
- Eu moro a vida toda no Rio e nunca tinha vindo aqui, obrigada pela indicação.
- Mereço mais um beijo por isso, então?
- Merece sim... — e ficamos ali, sentados nos beijando.

Algumas horas e muita conversa depois, peço pra me levar pra casa. Vou o caminho todo pensando se chamo pra ele pra subir, mas Vicente me vem na cabeça, e aquela sensação de estar fazendo algo errado me atinge. Eu tinha saído de casa tão decidida a aprontar, e sou minha maior julgadora agora. Trocamos os números e eu prometo que vou ligar pra marcar uma próxima, só não sei se devo.
Ver ele indo embora acaba comigo, mas do que iria adiantar chamar ele pra minha cama como um sexo casual, se eu já estava perdida antes mesmo do primeiro beijo. Isso não vai acabar nada bem, já vejo minha sentença.

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