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Era uma loucura, total e completa, porém, quando Elain disse que revindicava a parceria deles, Lucien teve que se agarrar no autocontrole já que sua parte de macho imbecil queria agir, agir e beijar Elain, toca-la... Então, se agarrou no seu senso e teve uma das piores conversas que tiveram em toda sua longa existência. Mas agora estava decidido por ela e por ele, obviamente, aceitariam aquela parceria para que o laço os deixassem em paz, o único problema, no entanto... Era a família de Lucien.

— Você só pode estar de brincadeira — disse Helion andando de um lado para o outro na varanda coberta que dava para um jardim particular dele e de sua esposa que estava sentada num divã coberto por uma manta vermelha. O jardim era impecável, com pavões e faisões, um riacho particular cheio de peixes dourados enormes.

— Infelizmente, eu não estou — disse Lucien mantendo a postura reta, ombros para trás, mãos as costas. — Elain revindicou...

— Ela não pode fazer isso — disse Helion pensativo, andando de um lado para o outro ainda com os olhos da mãe de Lucien sobre si a cada passo que o corpo grande e musculoso dava.

— Na verdade, acredito que ela possa — disse Aideen e o marido a olhou, os hos âmbar dourados arregalados.

— Não pode estar concordando com isso, Ai — disse.

A mãe de Lucien o olhou, um olhar compreensível, até demais. Os ombros estreitos e femininos subiram de desceram bum gesto elegante.

— Se Lucien acha que é o melhor a se fazer — disse ela ajeitando a saia do chiton e Lucien fechou os olhos respirando fundo. Ao menos tinha total apoio da mãe, porém seu pai...

Helion grunhiu, um grunhido que fez o chão tremer de leve assustando os pavões. Os cabelos ônix sedosos balançando a cada passo duro e raivoso.

— E Lírio? Já pensou em como ela vai se sentir? — disse parando e olhando para Lucien que sabiamente abaixou a cabeça. — Ela não é apenas uma fêmea, Lucien, ela faz parte dessa Corte, do nosso Círculo Íntimo, eu a vi nascer e crescer...

— Eu sei de tudo isso, meu pai — disse Lucien o olhando. — E eu realmente tenho sentimentos por Lírio, mas...

— Mas? — Helion se aproximou e Lucien olhou bem em seus olhos.

— Ela não é minha parceira, pai.

A raiva nos olhos de Helion fora aos poucos se dissipando, a expressão do rosto menos tensa e os lábios carnudos se entreabriam... Agora o olhar dele era compreensão, talvez, mas também de angústia. O Grão-Senhor da Diurna olhou para sua amada que olhava para Lucien, ouro brilho de compreensão e apoio ao filho... Pelos deuses.

— Está bem — disse Helion por fim e Lucien quase deu um suspiro aliviado. — Mas seu noivado com Lírio não acabou.

— Como é? — perguntou Lucien franzindo as sobrancelhas ruivas mais escuras e sua mãe ergueu as dela confusa.

— Disse que sua parceira irá passar os fins de semana aqui, não é? — Lucien assentiu. — Então, eu dou o máximo de seis fins de semana para que você e ela se acertem, caso isso não ocorra, você e Lírio se casarão.

— Helion! — disse Aideen se levantando indignada, deixando transparecer aquelas emoções. Para ser sincero, nem Lucien estava acreditando naquilo e não evitou o baixo riso de escárnio.

— Quer que eu e Elain fiquemos íntimos em doze dias? Isso é um absurdo...

— São parceiros, não são? — continuou Helion. — Há parceiros que sequer precisam de tanto tempo. E como você disse, nenhum dos dois parece fazer questão de ter uma união romântica e feliz.

Lucien abaixou a cabeça, bom, seu pai não estava totalmente errado.

— Direi a Corte Noturna os seus termos... — ia dizendo.

— Não precisa, eu mesmo comunicarei a família dela — disse Helion. — Afinal de contas, seremos agora mais do que unidos.

Helion começou a caminhar e passou pelo filho saindo do local deixando Lucien sozinho com sua mãe que ainda tinha uma feição desacreditada no rosto e se sentou novamente. Ele a olhou e se aproximou, se sentou ao lado dela entrelaçando seus dedos, ela o olhou como se ainda estivesse dentro de um labirinto.

— Tem certeza de que é isso o que você quer? — perguntou ela.

— Sinceramente, não — respondeu com clareza, as sobrancelhas se unindo, o rosto ficando tenso.

Por muitos anos Lucien imaginou sua vida com a parceira, de quando ela o aceitaria e depois como viveriam felizes em Velaris, que teriam filhos... Teriam um lar.

— Sabe que ainda pode ser diferente — disse Aideen novamente.

— Como? Voltando atrás na minha decisão?

— Não, Lucien — ela levou uma mão delicada ao rosto do filho passando a ponta dos dedos quentes ali e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha pontuda de Lucien. — Vocês podem ter um futuro diferente, um futuro feliz.

Olhou nos olhos castanhos avermelhados da mãe que tinham um brilho de esperança, um brilho que doeu no peito de Lucien, por que ainda o machucava pensar no futuro que ele queria para ele e Elain, pensar que desistiu e agora ter a chance de tê-lo... Não parecia real.

— Sei que o que mais deseja é a minha felicidade, mãe — disse ele olhando para as mãos deles juntas. — Mas não acredito que eu e Elain possamos ter um futuro além da obrigação.

Aideen comprimiu os lábios numa linha fina e então passou os braços pelo pescoço de Lucien o aproximando de si e reosirou a cabeça dele em seu peito enquanto ele retribua o abraço e sentia os dedos da mãe deslizando entre seus cabelos ruivos idênticos aos dela e naquele momento tudo o que Lucien mais queria era voltar a ser uma menino e ficar horas ali, deitado no colo da mãe no conforto de sua proteção.

— Eu e seu pai — ela disse. — Sabíamos que éramos parceiros, mas... Eu já estava casada com Beron e já tinha seus irmãos... Seu pai poderia ter me revindicado, poderia ter nos trazido para cá antes de você nascer, mas eu tinha seus irmãos e eu o implorei para não me separar deles... Aquilo nos machucou profundamente, mas seguimos nossos caminhos...

— A onde você quer chegar? — perguntou Lucien sem abrir os olhos enquanto ainda era ninado pela mãe que sorriu.

— Hoje estamos aqui, eu e ele, e você — continuou Aideen. — Não importa quando tempo, um dia estaríamos juntos. Então... Eu acho que você e Elain apenas precisam de tempo.

— Você e Helion eram apaixonados um pelo outro...

— E você não é por Elain?

Era como se sua mãe o tivesse citado de maneira certeira bem entre as costelas. Lucien se sentou e olhou para o lindo rosto de sua genitora que sorria com doçura.

— Eu te carreguei por dez meses, Lucien, se já alguém que conheço é você.

Ele abaixou a cabeça.

— Eu sei que você pode fazer com que ela se apaixone por você — levou os dedos ao queixo dele o levantando e o fitou. — Não digo por que sou sua mãe, digo por que o conheço como ser e sei que quando Elain o ver de verdade, ela vai querer mover céus e terra por vocês.

— Como pode ter certeza?

Aideen sorriu doce novamente e acariciou o rosto do filho, acariciou a cicatriz em seu olho esquerdo.

— Ela o revindicou, não foi?

Lucien ergueu as sobrancelhas, não fora claro quando disse que ela apenas o fez por que quer fazer com que o laço os deixe em paz? Mas... Por mais que não queria se deixar levar pelas palavras e falas bonitas de sua mãe, parte dele desejava que fosse verdade, de que Elain se apaixonaria por ele da mesma forma que ele era apaixonado por ela, desde o primeiro momento em que a viu.

O Laço Partido (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora