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Os primeiros dias naquela casa foram muito além do que as fantasias de Elain haviam chegado um dia, era como se vivesse em um conto de fadas, com direito a um "castelo", lindos jardins e o melhor de tudo... Seu príncipe de cavalo branco, literalmente.

Lucien adorava cavalgar, sempre montava em um cavalo e saia a galope pelo dia ou ia caçar junto de alguns criados enquanto ela ficava em casa cuidando dos jardins, cozinhando e quando ele voltava a primeiro coisa que fazia era procura-la onde quer que estivesse e a dava um longo beijo apaixonado.

Ele era além das expectativas dela, sempre a surpreendia de alguma forma, fosse com cortejos, presentes, ou palavras, ele conseguia fazer ela se sentir a fêmea mais feliz de todo universo quando estava deitada em seus braços enquanto conversavam até altas horas da madrugada escutando o quebrar das ondas na praia logo a frente de sua Casa de Verão.

Por mais que já estivessem dividindo a mesma cama, trocando carícias e beijos, ainda não havia de fato chegado a fazer amor, na verdade, o máximo que Elaine vira do parceiro fora ele sem camisa enquanto caminhavam na beira do mar e ele também não havia visto muito dela, na verdade quase nada além dos decotes do vestido e saia levantadas até as coxas quando se enroscavam nos lençóis curtindo o corpo o outro sem mais nada. Mas... De certa forma, aquilo estava começando a deixar Elain impaciente, as vezes apenas de ver Lucien ela já sentia o meio da pernas molhado, quente e formigando, se contraindo e pela Mãe, quando trocavam beijos e carícias mais salientes e o sentia duro contra si era quase uma tortura.

Era óbvio agora que ela desejava ele de forma carnal, de uma maneira muito superior do que quis seus antigos amantes, era uma necessidade, uma vontade que a fazia ficar com o corpo quente e um desejo que até a fazia salivar quando olhava para Lucien. Pensava que se estava sendo uma tortura para ela, para ele então devia ser quase uma sensação de morte. Ele nunca tomava banho no quarto, sempre ia para outro e demorava bastante, e ela sabia por que, afinal o laço não o deixava se esconder muito dela.

Mas, o que importava era que estavam bem, estavam seguros e cada vez mais felizes na presença do outro, Lucien até mesmo já havia dado a ideia de assim que voltassem para Solano planejassem a cerimônia de parceria. Ela não fora contra a ideia.

Então, Elain dormia profundamente na cama de casal com lençóis brancos e bagunçados, a brisa do mar adentrando pelas janelas refrescando o ambiente e o cheiro de damas-da-noite perfumando o ar, tudo estava bem e tranquilo, porém, a vidente começou a se mover na cama de forma angustiada, estava tendo um pesadelo, e neste pesadelo ela estava em um funeral, todos vestidos de preto em luto, suas irmãs, cunhados, sobrinhos, seus sogros e membros de todas as outras cortes velavam um caixão e Elain estava ao lado dele, olhando para o defunto... Não, olhando para a face pálida e fria de Lucien que estava de olhos fechados dentro daquele caixão.

No sonho, Elain deu um frito de pira dor e agonia do fundo de sua alma, um grito estridente que destruiu tudo a sua volta.

A fêmea acabou acordando de supetão, assustada e suando frio, se sentou na cama tremendo e de olhos arregalados. Passou a mão entre os cabelos e escutou a porta do quarto se abrir e olhou para ali espantada.

Lucien havia acabado de voltar do banho, tinha apenas uma toalha branca em volta da cintura, a pele bronzeada escura úmida e com algumas gotas de água, os cabelos longos e ruivos soltos e molhados caindo sobre os ombros largos.

— Está tudo bem? — perguntou ele se aproximando aos poucos da cama.

Elaine deslizou os dedos por entre os longos fios de seu cabelo olhando para Lucien, vendo como mesmo na pouca claridade das luzes feéricas quentes parecia brilhar. O corpo dele era definido, não muito grande e forte como o de Cassian ou Azriel, era mais elegante, mas mesmo assim, grande.

A barriga trincada parecia como a de uma escultura feita em mármore, o peitoral definido, os braços fortes com músculos delineados. Nada nele era fora do lugar.

O olhar dela subiu até o rosto dele, uma feição preocupada estampava o lindo rosto enquanto a fitava.

— Elain? — perguntou dando mais um passo.

— Eu tive um pesadelo — ela disse sem tirar os olhos do rosto dele e a imagem dele falecido veio em sua mente a fazendo abaixar a cabeça e fechar os olhos com força.

— Está tudo bem, foi apenas um pesadelo  — disse Lucien enfim chegando até a cama e parando ao lado dessa e se sentando na beirada.

— E se não for apenas um sonho? — perguntou ela baixinho abrindo os olhos e fitando as coxas expostas pela saia da camisola de seda cor lavanda que usava.

— Acha que pode ser uma visão? — perguntou ele a fazendo engolir em seco, mas assentiu bem discretamente com a cabeça. — O que você viu?

Levou dos dedos a barra da camisola e segurou ali roçando as pontas, mordeu k lábio inferior com força e então olhou para o parceiro. Ele a olhava com encorajamento, acolhimento, estava ali por ela e iria segura-la.

— O seu funeral — disse ela baixinho e com uma lágrima solitária descendo pelo lindo rosto.

Lucien enrugou a testa e ergueu as sobrancelhas, a boca carnuda se entreabriu e o olhar ficou perdido.

— Como sabe se pode ter sido apenas um pesadelo ou uma visão involuntária? — questionou e Elaine ficou em silêncio. — Pelo maldito Caldeirão... — ele levou as mãos ao rosto as passando por ali.

Ela então engatinhou no colchão e fora até Lucien, se colocou atrás dele e o abraçou passando os braços pelo peito espalmando as mãos ali dele e encostou a lateral do rosto contra as costas largas e quentes dele, suas lágrimas começando a molhar a pele bronzeada escura e macia.

— Primeiro aquela visão com Lírio e agora isso — ele disse abaixando as mãos e as levando sobre as de Elain, as cobrindo por inteiro. — Parece que o destino quer nos separar de novo por definitivo...

— Não! — disse ela puxando as mãos e se afastando fazendo com que Lucien se voltasse para ela. — Eu não vou permitir isso, não vou, eu vou fazer de tudo para que esse futuro não aconteça!

— Elain...

— Não vou permitir que te tirem de mim! — ela exclamou em prantos. — Não vou!

Lucien franziu as sobrancelhas tendo uma expressão dolorida no rosto e levou as mãos ao rosto dela o segurando ali e juntou duas testas. Elain levou as dela ao rosto dele, tocando ali apenas com as pontas trêmulas dos dedos.

— Eu não quero te perder de novo — ela disse baixinho, a voz saindo falha como o mudo de um filhote de gato. — Eu não vou deixar, eu não vou deixar...

Dizia sem parar agora encostando seu nariz ao dele que fechou os olhos.

— Eu sei, mas fique calma, por favor — ele disse levando os dedos de ambas as mãos a nuca dela a segurando por ali enquanto os polegares acariciavam o rosto de Elain. — Foi só um pesadelo...

— Mas e se...

— Foi apenas um pesadelo — ele reafirmou a fazendo soluçar entre o choro. — E se foi uma visão, ela não vai acontecer, por que nós dois, juntos, não vamos deixar isso a acontecer, certo?

Ela respirou fundo e trêmula, mas assentiu com a cabeça roçando o nariz ao de Lucien que sorriu sem mostrar os dentes, ela levou a ponta dos dedos até ali.

Depois ela o beijou, um beijo calmo e nada profundo, apenas um beijo de conforto entre eles, um beijo que fez o coração de Elain parar de acelerar por medo, mas acelerar pelo parceiro e logo uma calma e conforto tomou seu corpo e ela sabia que estava segura, não apenas ela, mas ele também estava, enquanto estivessem ali longe de tudo de todos, eles estariam seguros e aquelas visão estariam longe de se tornarem reais.

O Laço Partido (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora