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Não fora fácil a mudança, levar todos os seus pertences para a Corte Diurna, se despedir de suas irmãs, de seus cunhados, até o adeus a Azriel e Gwyn fora um pouco dolorido, pois pensar que agora veria aquelas faces novamente apenas quando desse era algo que o coração de Elain teria que se acostumar, mas ela sentia, ela sabia, que aquela mudança era necessária.

Sabia que não iria ficar ao lado de Lucien o tempo todo, pela Mãe, seria idiota se pedisse algo como aquilo, afinal ele era o príncipe da Corte, todo lugar precisava dele.

Elain suspirou ao guardar a última peça que havia trazido consigo da Corte Noturna no enorme closet de seu novo quarto. Outra coisa que ela sabia era que não iria mais usar tanto aquelas roupas e que iria usar as da Diurna que em sua himildade opinião mostravam pele demais.

Ainda vestindo um lindo vestido da cor lilás pálido, a fêmea parou no meio de seu enorme quarto e olhou em volta... Tão sozinha.

Mas escutou batidas na porta e olhou para ali.

— Pode entrar — disse passando as mãos na saia do vestido em seguida e então o vislumbre dos cabelos ruivos quente como fogo aqueceu seu coração.

— Lucien — ela disse com um enorme sorriso ao ver o parceiro que entrou com calma no quarto.

Ele manteve a porta aberta, se colocou ao lado dela com as mãos para trás numa postura invejável... A postura de um príncipe, afinal.

— Vim ver se está bem — ele disse com um pequeno sorriso no canto da boca carnuda e Elain sentiu as bochechas corando apenas por olhar os lábios deles.

— Sim, tudo bem, terminei de arrumar as minhas coisas — abaixou a cabeça como uma corça medrosa.

— Ah, então está livre? — ele perguntou a fazendo levantar o olhar para o dele.

Elain apenas assentiu com a cabeça.

— Então, poderia me acompanhar?

— Claro.

Ela não pensou nem duas vezes ao aceitar o convite de seu parceiro e ir até ele que lhe ofereceu o braço como o exímio cavalheiro que era.

Andaram pelos corredores que eram quase labirintos e pararam em frente a uma enorme porta dupla, Lucien abriu a passagem e deu espaço para Elain entrar primeiro e ela se deparou com um enorme quarto, maior do que o dela, vazio e empoeirado. Havia uma pequena sacada solitária e então três degraus que levavam ao piso elevado onde haviam mais cinco sacadas, todas com as portas abertas deixando os raios de sol entrarem por ali fazendo com que a poeira flutuante brilhasse como pó de ouro.

— Que lugar é esse? — perguntou ela fazendo com que sua voz ecoasse no vazio assim como seus passos lentos e cuidadosos pelo chão de mármore branco.

— Apenas um quarto vazio — disse Lucien indo até ela. — Mas é por ele que vou te mostrar uma coisa.

Com cuidado, como se estivesse com medo de ferir Elain ele pegou em sua mão e ela aceitou o toque segurando a mão dele que os guiou até os degraus e subiram ao piso elevado. Passaram pela porta da sacada do meio e Elain arregalou os olhos vendo o jardim morto que sua futura sogra já havia lhe mostrado.

— O jardim morto? — perguntou Elain e Lucien assentiu.

— Não é o melhor presente do mundo, mas é seu agora — ele disse a deixando surpresa. — Ninguém conseguiu revive-lo, mas... — a olhou com aquele olhar solitário e o olho de metal. — Eu sinto que talvez você consiga fazer isso. Então, ele é seu.

Ela abriu os lábios ainda um pouco desacreditada e olhou para o jardim seco e sem vida, as ravinhas secas que se enrolavam no parapeito da sacada. Elain levou os dedos a uma rama seca e a quebrou segurando com cuidado.

— Obrigada — disse ela sorrindo pequeno e ergueu o olhar para Lucien. — É um ótimo presente, você sempre acertou todos.

Lucien deu uma pequena risada e assentiu.

— Fico feliz em saber — disse ele e Elain o olhou vendo que o parceiro olhava para o jardim, para o coreto caindo aos pedaços, as estatuas quebradas.

Ela também já havia dado presentes a ele, mas nenhum era carregado de sentimento como os que ele a entregava... Só de pensar o quanto o feriu a feria agora, ou sempre feriu e preferiu fugir, como uma corça medrosa.

Elain soltou a rama e se aproximou mais de Lucien, com cuidado levou sua mão ao braço dele sentindo o músculo rígido por debaixo da camisa branca e aos poucos o ruivo fora se voltando para ela. Com as mãos trêmulas como varas verdes, Elain levou as mãos ao rosto de Lucien que não disse nada, não recuou, não fez nada, apenas fechou os olhos enquanto ela passava lentamente as pontas dos dedos pelas linhas do rosto dele, pelo contorno nos olhos, pelas sobrancelhas, nariz, boca e pela cicatriz e que assim que ela tocou ele tremeu.

Sentia que estava vendo ele verdadeiramente, como nunca o havia visto, notando cada linha de seu rosto, como se uma cegueira havia sido curada.

— Você é lindo — sussurrou ela fazendo os olhos dele se abrirem, o castanho avermelhado brilhava como fogo e o dourado de metal acompanhava reluzindo a luz do sol.

— E você é perfeita — ele sussurrou de volta e Elain suspirou tremula, abriu um largo sorriso e se aproximou mais sem tirar as mãos dos lados do rosto de Lucien.

Não disseram uma palavra sequer, mas também não havia necessidade quando o laço entre eles dançava fluido, amarrando suas almas juntas e os puxando para o outro e quando as mãos grandes de quentes de Lucien seguraram a cintura fina de Elain um choque passou por todas as suas veias, o coração batia tão rápido que poderia parar, a respiração estava ficando para vez mais ofegante enquanto o rosto dele ficava mais perto do seu, suas respirações se misturando, uma morna e a outra mais quente, a dele.

— Tem certeza? — perguntou ele com a ponta do nariz tocando o de Elain.

— Sim.

Respondeu fechando os olhos e entreabrindo os lábios esperando pelo toque dos lábios carnudos e quentes de Lucien e já podia sentir eles quase tocando os dela, milímetros faltavam.

— É... Com licença, meu Príncipe — disse um criado fazendo com que se distanciassem e o olhassem. — O Grã-Senhor requisita sua presença.

Lucien fechou os olhos e respirou fundo, depois olhou para Elain que apenas deu um pequeno sorriso e se distanciou dele.

— Diga que já estou indo. — disse Lucien.

Com isso o criado se foi os deixando sozinhos novamente.

— Sinto muito... — ia dizendo ele e Elain negou.

— Não se desculpe, está tudo bem, é a sua função — ela disse acariciando a mão dele. — Te vejo no almoço?

— Com toda certeza — ele disse pegando a mão dela e a levando até a boca dando-lhe um beijo nas costas da mão delicada de Elain.

Aquela fora a despedida para que Lucien fosse resolver os problemas que apenas o príncipe poderia resolver e ela ficou ali naquela sacada sozinha, apoiou a mão no parapeito apertando as ramas secas, mas para sua surpresa não ouviu som de galhos secos ou folhas secas sendo esmagadas. Quando Elaine tirou a mão viu que uma parte das ramas havia ficado verde, totalmente verde e com o direito a uma rosa da cor rosa clara.

A fêmea sorriu largo e olhou para aquele enorme jardim... Daria trabalho mas o faria ficar florido novamente. 

O Laço Partido (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora