Cibele: A Bruxa do Fogo

Epílogo

O primeiro dia de novembro amanheceu chuvoso em Awrudel, complementando o clima triste que ficara na cidade após o fim da Batalha da Lua de Sangue.

Durante a noite, os sobreviventes recolheram os cadáveres e os enterraram em um cemitério improvisado do lado de fora da muralha da grande capital, já que precisariam de muito espaço se levassem em conta a grande quantidade de mortos.

Neste primeiro dia após a batalha, várias pessoas fizeram placas e crucifixos de madeira para identificar os nomes dos cadáveres. Os corpos carbonizados e os outros que não conseguiam identificar, eram enterrados em um grande buraco para todos eles. Assim como os corpos dos darkalnianos, que tinham sua própria cova, onde foram amontoados e enterrados sem nenhuma identificação.

Na primeira hora da manhã, Kaon e Sarah foram apressadamente ao quarto de Lena para ver o que tinha acontecido com ela. Dormiram poucas horas durante a noite, pois o nervosismo não os deixava pregar os olhos. Estavam apavorados com a ideia de que Lena pudesse amanhecer sem vida.

Kaon abriu a porta do quarto e os dois entraram. Laion estava deitado ao lado do corpo de Lena, enquanto acariciava seus cabelos e chorava. Não estava chorando por vê-la morta, mas sim, por ter ficado muito feliz ao vê-la mais viva do que nunca assim que amanheceu o dia. 

- É tão bom estar viva! - disse Lena quando Kaon e Sarah foram até sua cama. - Acho que agora finalmente acabou. Galron está morto e não precisamos mais nos preocupar com ele.

Os quatro conversaram por um bom tempo no quarto. Não conseguiam conter a felicidade ao ver que Lena estava alegre e sorridente. Tinham se preocupado muito com a jovem, mas agora tudo estava bem.

Sarah preparou um café da manhã especial, junto das outras cozinheiras do castelo, com as mais deliciosas iguarias do reino de Keneian. A vida de Lena era algo a se comemorar.

Depois do café, Lena recebeu a visita da bruxa Húria, que era uma grande entendedora de magia:

- Eu sabia que te encontraria bem, Lena.

- Como é possível, Húria? Eu soube que matar pessoas na Lua de Sangue corrompia a alma de uma maneira irreversível. Nunca imaginei que acordaria viva hoje de manhã.

- Na magia, algumas regras nem sempre  podem ser seguidas à risca. É fato que, ao sacrificar uma alma durante a Lua de Sangue, sua força mágica cresce potencialmente e sua própria alma fica manchada para sempre. Quanto mais manchada sua alma for, mas tendenciosa para o lado do mal você será. Algo muito importante em toda essa equação, é a intencionalidade do sacrifício. Algumas bruxas costumam sacrificar almas puras para ganhar juventude e satisfazer o seu orgulho, ou sacrificam aqueles que mais odeiam para adquirir poder e invencibilidade. Porém, ontem a sua intenção era muito nobre e respeitável, você queria salvar as pessoas que você ama. Eu a parabenizo por sua evolução. Deixou o desejo de vingança de lado e, ao invés de fazer os outros pagarem pelo seu sofrimento, decidiu salvar outras pessoas de um novo sofrimento.

- Então você quer dizer que minha alma ainda está pura?

- Não completamente, pois você ainda matou várias pessoas. O que quero dizer é que não precisa se preocupar com isso agora. Você ganhou uma nova chance e uma nova vida. Aprendeu a fazer as escolhas certas e vejo que está cercada de pessoas maravilhosas que podem te ajudar.

Lena ficou completamente feliz com aquela notícia. Ela imaginava que a noite anterior seria a sua última noite com vida, mas agora tudo estava diferente. A sensação de alegria e liberdade dentro de si era enorme.

Durante aquele dia, Lena e Laion passearam pela cidade de Awrudel e conversaram com algumas pessoas. Ela era adorada pelo povo de Keneian, que sentia a falta da doce princesa Lena quando foi morar no reino de Darkalna.