Com o olhar fixo no teto e os cabelos bagunçados, deixei que a fumaça escapasse com lentidão pelos lábios e prendi casualmente o inferior entre os dentes. O quarto era, naquele momento, apenas iluminado pelo candeeiro aceso sobre a mesa de cabeceira, e o que me pareceu ser o barulho da fechadura soou pelo quarto antes que o moreno de cabelos cacheados aparecesse no meu campo de visão, vestindo apenas boxers pretos.
Os cabelos húmidos e bagunçados deixaram-no com uma aparência mais casual do que a de costume; ele apresentava-se sempre impecável, e talvez fosse por isso que parecia bem mais à vontade naquele momento. Eu havia tomado um banho antes dele, e vestia uma calcinha limpa e uma blusa de alças finas. Não me surpreendi, enquanto tragava novamente, ao vê-lo puxar as calças pelas pernas afim de vestí-las. Já esperava que ele fosse o tipo de pessoa que vai embora logo depois do sexo.
Suspirando, esmaguei a extremidade acesa do baseado num cinzeiro próximo e encostei o cotovelo no travesseiro antes de apoiar a bochecha na mão.
— Não há necessidade de ires embora agora, sabes? — comecei, vendo-o parar o zíper a meio do caminho para me encarar — Eu não irei te seguir que nem uma louca só por causa do que aconteceu hoje.
— Eu não-
Não havia mentira a ser contada, e nem formas de negar que era o que ele pensava que fosse acontecer. Portanto, ele mesmo deteve-se de falar. Estando de bom humor, senti vontade de irritá-lo, como de costume, mas não o fiz apenas para não piorar o clima estranho que se instalou no cómodo.
— Por quê não ficas mais um bocado? — estiquei o canto da boca em um sorriso leve, vendo-o segurar a carteira e enfiá-la no bolso traseiro.
— Eu preciso ir embora.
— Não sejas chato, Idris... — estalei a língua com suavidade — Eu pedi uma pizza, deves estar com fome... Vamos unir o útil ao agradável e conversar um pouco enquanto o entregador não chega.
Ele se calou por segundos, parecendo ponderar enquanto me encarava minunciosamente, o que me levou a sorrir com inocência. Dando um suspiro pesado, Idris sentou à beira do colchão e não fui capaz de reprimir um riso breve ao notar o tanto de distância que manteve entre nós.
— Não aí... Deita do meu lado.
— Para quê?
— Para conversarmos melhor, ora...
— Conseguimos conversar muito bem assim.
Eu ainda era capaz de ver a criança insegura e amedrontada dentro dele; a que conheci anos atrás e conseguia manipular muito bem sempre que precisasse saber que alguém sentia algo por mim, por mais desagradável que tal coisa fosse. Parecia que ele tentava esquecer que a mesma existia, fazendo e sendo tudo o que representasse o oposto dela. E eu sabia também que uma das coisas que mais o apavorava era poder gostar de algo em mim pelo facto de eu tê-lo magoado. Eu não o culpava; também acharia estranho gostar de alguém que me fez mal.
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IDRIS
Fiction généraleAyla Costello se achava uma deusa. Sua beleza e corpo atraentes eram chamativos e ela sabia bem disso. Portanto, usava e abusava desses atributos para ter quem e o que quisesse. Não estamos aqui para julgar suas escolhas e nem o seu leve narcisismo...