46 | um lunático de palavra

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— Estão prontos? — ela perguntou com um sorriso ao pousar as mãos na cintura após colocar-se em frente à entrada do quarto da Eris

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— Estão prontos? — ela perguntou com um sorriso ao pousar as mãos na cintura após colocar-se em frente à entrada do quarto da Eris.

Eris... Sempre achei que esse nome soava bem. Tão suave e delicado quanto a aparência da minha irmã mais nova. A minha mãe, Vivienne Fermi, dizia que era o nome de uma deusa de algo bastante mau, mas que o meu pai havia gostado e por isso ela não o mudou. As duas tinham os olhos azuis e os cabelos ondulados e escuros; traços faciais delicados e quase angelicais, enquanto que de terceiros eu apenas escutava que era uma cópia do meu pai, Marco O'Connell, e que a única característica que puxara da minha mãe eram os leves cachos nos cabelos. Fora isso, não existia mais nada.

— Sim! — Eris sibilou ao juntar as mãos em uma palmada pouco audível, toda empolgada. As fitas azuis nos cabelos presos combinavam com as pequenas flores que enfeitavam o tecido suave do vestido branco, e ela carregava à volta do pulso esquerdo uma pulseira idêntica à minha, oferecida pela nossa mãe, com o nome assinado no fecho.

— Idris, também estás pronto?

Com a ponta da língua fora da boca e o olhar atento preso aos cardaços dos sapatos, dei o último nó e ergui a cabeça logo depois para assentir, sinalizando que sim.

— Muito bem... — disse num suspiro, ainda sorridente — Vamos, então!

Levantei-me num pulo, verificando se a barra da camisa branca continuava por baixo do cós dos calções. O cinto que combinava com os sapatos foi por mim alisado por um segundo, pois eu precisava ter certeza que me encontrava impecável para um dos momentos mais raros que passava desde que me entendia por gente: um almoço em família, e fora de casa.

A minha mãe trazia um vestido longo do que eu sabia ser cetim, branco e justo. Acessórios dourados e delicados enfeitavam o corpo esguio, e ela deixava o aroma do seu perfume em cada canto pelo qual passava. Os cabelos estavam casualmente soltos, e não foi difícil perceber o quão feliz estava naquela tarde.

Ela estava linda; tão linda quanto um anjo.

Eu tinha sete anos na altura, e a Eris apenas cinco. Mesmo tão novo, eu percebi, assim que chegamos ao hall de entrada, que o meu pai daria más notícias logo que coloquei os olhos no seu rosto. As íris escuras e opacas fixaram-se na face da sua mulher e depois caíram nas nossas mãos, que estavam dadas. Não demorou para que sentisse a da minha mãe tremer, e percebi que tentou fingir que estava tudo bem quando baixou a cabeça para me encarar e sorrir.

— Nós... — a voz saiu num fio, vacilante — Nós estamos prontos. O Idris estava apenas a terminar de calçar os sapatos.

Ela não estava nada bem, e isso tornou-se notório quando desvencilhou-se do meu aperto para acariciar a minha cabeça. Eu mordi o interior da bochecha e estremeci, esperando pelos gritos e que a Irina aparecesse para puxar a mim e a Eris para a estufa, bem distante da mansão.

IDRISOnde histórias criam vida. Descubra agora