— Finalmente de volta ao trabalho...
Andrei vinha na minha direção com a camisa off-white de tecido suave aberta, descalço, com uma garrafa de vinho na mão esquerda. As calças do mesmo material e cor literalmente esvoaçavam a cada passo dado, os cabelos ondulados encontravam-se bagunçados e as manchas arroxeadas espalhadas pelo pescoço deixavam em evidência o quão acompanhado ele estava. Passando por mim, levou o gargalo da garrafa alsácia aos lábios e engoliu um gole de forma ruidosa, chupando depois o ar por entre os dentes.
— Eu li e vi as notícias... — voltou a sibilar, lançando-se de forma descuidada num dos sofás. A casa na qual ele recomendou que nos encontrássemos daquela vez era decorada em tons de branco e bege com toques de dourado e objectos de adorno visivelmente caros e provavelmente raros, o que tornava claro o quão gordas as suas contas bancárias deviam ser. Por vezes, ainda me perguntava em quais condições o seu pai e o Donovan viviam para que chegassem ao ponto de um tirar a vida do outro, e por quê até mesmo o Andrei havia se envolvido nisso de forma tão descuidada sabendo do perigo que corria no caminho do seu suposto padrinho. — Tens um irmão gêmeo?
— Não somos gêmeos. — murmurei ao enfiar as mãos nos bolsos da jaqueta bomber preta.
Ele sacudiu a mão com o olhar fixo no meu rosto, aparentemente impaciente, o que me fez franzir o cenho de leve. O seu pequeno complexo de deus na terra me irritava, por vezes, e eu perguntava a mim mesmo se era assim como as pessoas me viam também.
— Estou à espera dos detalhes.
— Isso não te diz respeito. Eu não procuro saber sobre a tua vida, e tampouco deverias fazê-lo a respeito da minha.
— Uau! — ergueu as sobrancelhas, ironia rastejando em cada traço facial — Estás todo afiadinho hoje, é a tua namorada quem te ensina a ser assim?
Pisquei com vagar em descaso e tomei o assento mais próximo, onde me fiz confortável antes de semicerrar os olhos com o olhar preso a uma das esculturas minimalistas de coloração esbranquiçada e detalhes discretos do que presumi – quase jurei – ser ouro.
— Diz-me logo por quê me chamaste para cá...
— Está a ser um pouco — simbolizou ao separar minimamente o polegar do dedo indicador e estreitar o olhar — complicado manter o Yannick na 73. Vamos ter de libertá-lo em breve, portanto, preciso que sejas mais flexível. Disseste que tens acesso à casa da advogada, e concordamos que pode haver algo sobre o Donovan nos pertences dela, já que eles se conheceram há anos, não?
Cocei a barba rala, sentindo-me instantaneamente exausto. Havia sido bom esquecer aqueles problemas por um momento, porém, ele claramente não duraria para sempre.
— Eu esqueci-me completamente de fazê-lo. — confessei. Há dias havia estado na casa da Ayla e não recordei-me daquilo, nem de fazer algumas perguntas a respeito do Hendrix, Elliot ou Adonis. Era surpreendente como ela conseguia me distrair das maiores prioridades e responsabilidades com tão pouco.
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IDRIS
Genel KurguAyla Costello se achava uma deusa. Sua beleza e corpo atraentes eram chamativos e ela sabia bem disso. Portanto, usava e abusava desses atributos para ter quem e o que quisesse. Não estamos aqui para julgar suas escolhas e nem o seu leve narcisismo...