04 | DA PRÓXIMA VEZ: VINHOS

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LENNON FRASSETTI

Toquei o interfone do prédio há alguns quarteirões do meu e informei meu nome junto com meus dados. Não demorou muito para que eu fosse liberado para subir. Estacionei o carro na vaga de visitante. No elevador, apertei o botão do penúltimo andar e encarei meu reflexo no espelho e dei risada ao olhar o abacaxi em minhas mãos. Eu era patético. Arrumei meus óculos no rosto e revisei a minha roupa mais uma vez. Todas as peças eram caras e estilosas, já que a garota que me esperava parecia não estar de brincadeira quando o assunto era grife. E até mesmo gastei algumas - muitas - borrifadas do meu perfume mais caro para vir até aqui.

Saí do elevador e soltei o ar pela boca ao tocar a campainha, negando com a cabeça ao ver aquele abacaxi em mãos mais uma vez. Que idiota, Lennon.

Mudei minha feição ao vê-la abrindo a porta com um sorriso gigantesco no rosto, vestindo um roupão branco e com duas presilhas rosas no cabelo, na região da testa. Notei que faltava alguma coisa em seu rosto, provavelmente o restante da maquiagem que ela estava fazendo. Conclui que ela ainda estava se arrumando.

— Oi! — exclamou, abrindo sua porta preta de madeira maciça. Me assustei ao ser recebido com um abraço.

— Oi — murmurei surpreso, abraçando sua cintura e deixando aquele abacaxi longe de nós dois.

— Desculpa, estou um pouco atrasada.

— Sem problemas, temos tempo. — Sorri despreocupado e ainda tímido.

— Eu estou vendo coisas ou tem mesmo um abacaxi na sua mão? — Ela franziu o cenho ao me soltar, apontando para a fruta.

— Sim, é um abacaxi. Normalmente as pessoas dão vinho para comemorar a casa nova, mas eu não sei escolher e nem sei se você ainda odeia vinhos. Então, trouxe sua fruta favorita. Sei que fará melhor proveito dela ao invés de um vinho que ficará guardado. — Dei de ombros, ouvindo seu riso.

Lhe entreguei a fruta e ela fez sinal para que eu entrasse. Enfiei as mãos no bolso da calça jeans e observei ela fechar a porta e nos guiar até a cozinha em conceito aberto. Ela colocou o abacaxi em uma fruteira sobre a ilha de mármore. É, as coisas ficaram mesmo boas para Lis, seu apartamento era todo em conceito aberto e as janelas abertas davam uma perfeita vista para o mar logo à nossa frente. Com tudo planejado, perfeitamente organizado e pensado, dava para ver que aquela era a casa dos sonhos de Lis. No mesmo momento, fiquei imensamente feliz por ela.

— Tem razão, eu farei um ótimo proveito desse abacaxi, e vai ser agora mesmo. E não, eu não odeio mais os vinhos. Aprendi a degustá-los e fiz uma boa amizade com eles.

Ela apontou para uma pequena adega próxima de nós, recheada de vinhos. Ela sorriu e pegou o liquidificador de dentro do armário. Logo depois, apareceu uma tábua e uma faca em sua ilha.

— Trazer vinhos da próxima vez que eu vier para compensar o abacaxi. Anotado. — Fingi dar um "check" em uma lista imaginária e ela riu.

— Eu adorei o abacaxi, fique tranquilo. — Assisti ela cortar a fruta com uma destreza incrível. Fiquei impressionado, confesso. — Ah, meu pai está aí.

— Jura? — Meu rosto sorriu e fui até a sala, ouvi a porta se abrir e Jorge saiu do que parecia ser um lavabo, esfregando as mãos.

— Ah, não acredito! — Ele sorriu ao me ver e me abraçou fortemente. — Que saudades, Lennin.

— Seu Jorge! Estava mesmo dando migué em mim, né não?

Ele riu.

— Claro que não, Lennin. Eu só estava trabalhando muito. E estaria se a mocinha ali não me arrancasse do trabalho — disse, encarando Lis enquanto ela colocava as frutas no liquidificador.

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