02 | CAMARIM

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LIS BELCHIOR

— Você prometeu, Lis — disse Maitê, enquanto eu andava de um lado para o outro na sala do meu apartamento.

— Eu sei que prometi, Maitê. Mas não tenho certeza se estou preparada para conversar com ele. Eu sei que anos se passaram, mas ainda dói, sabe? Eu demorei muito para me acostumar a viver sem ele e eu estou bem assim.

Ela me encarou sentada no sofá e suspirou, cruzando os braços.

— Acho que você está se precipitando demais. Vamos comigo, vamos curtir sem se preocupar com os meninos. Eu te chamei porque te quero comigo, porque eu senti a sua falta, tá legal? E ir nesse show não significa que precisa falar com ele. Eu só quero a minha irmã comigo — disse exausta, me encarando com olhos pidões.

— Eu também senti sua falta, Ma — murmurei e fui até ela, lhe dando um abraço. — Eu sei que parece besteira da minha parte ou que estou inventando desculpa. Não quero que pense que eu estou me desfazendo de você, é que...

— Eu sei, Lis. Ainda dói. Eu entendi. — Ela encarou meus olhos e eu os desviei. — Ele ficou meses sem sair de casa se culpando pela sua partida e achando que algo havia acontecido com você, já que você saiu e nos fez prometer que não lhe daria notícias de nada. Ele ficou sem nada, Lis. Ele também perdeu a melhor amiga dele. Demorou até ele seguir em frente e viver a vida, isso também doeu nele. E acho que você já o deu tempo demais para pensar no que aconteceu e já se deu tempo para poder assimilar tudo que ocorreu entre vocês dois. Não estou pedindo para que volte a ser sua melhor amiga e esquecer o que aconteceu, eu estou pedindo para que vá comigo nesse show e ao menos se esforce para tentar entender o que de fato aconteceu.

Respirei fundo e encarei seus olhos. Droga, ela estava certa. Era uma boa chance para deixar as mágoas do passado de lado e seguir minha vida sem esse fardo que era velho, mas ainda me machucava.

— E bom, é uma boa oportunidade para mostrar o partidão que ele perdeu. Você está um arraso, garota. — Ela sorriu de canto e me fez sorrir também, me empurrando com o ombro.

— Droga, me convenceu. — Rolei os olhos.

Maitê comemorou ao bater palmas e me abraçou antes de se levantar e dar pulinhos.

— Por favor, vamos nos arrumar juntas como antes, eu preciso disso! Eu preciso estrear seu closet e seu banheiro com duas duchas — pediu, unindo as mãos em minha frente.

— Urgh, sim! — grunhi e me levantei, sorrindo para ela.

O processo de tomar banho juntas, lavar cabelo e nos vestir em roupões nos trazia uma bela nostalgia do nosso passado, onde a vida não era tão fácil e boa como é agora, mas sempre nos dava a oportunidade de nos arrumar juntas para ir em um baile qualquer nos morros do Rio de Janeiro.

Enquanto eu secava meu cabelo, Maitê revirava meu closet recém organizado por mim e me pedia para usar alguma coisa minha que possuísse um logo de grife, o que era comum ali.

— Maitê — a chamei, arregalando meus olhos em sua direção com um sorriso. — Já sei o que vamos usar.

Larguei o secador na pia do banheiro e fui até a minha mala, pegando dois vestidos que havia comprado em um ato impulsivo. Eles eram colados, de mangas curtas e terminavam abaixo da polpa da bunda. Ele cobria o decote e caía perfeitamente bem no corpo. Havia um branco e um rosa.

— Eu fico com o rosa. — Ela o pegou rapidamente da minha mão e sorriu ao ver o vestido. — Puta merda, Chanel?

Dei de ombros e sorri de canto.

ANTES QUE VOCÊ VÁ | 𝙇𝟳𝙉𝙉𝙊𝙉 Onde histórias criam vida. Descubra agora