03 | UNFORGETTABLE

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LIS BELCHIOR

Gemi ao sentir o gosto em minha boca, fechando os olhos e jogando a cabeça para trás.

— Eu senti tanta falta disso aqui, acho que teria um orgasmo agora mesmo se eu pudesse — balbuciei de boca cheia, devorando o prato feito que eu vinha sonhando.

Arroz, feijão, bife acebolado, fritas e uma porção de salada. E para fechar com chave de ouro, um bom suco de abacaxi com hortelã. Não podemos nos esquecer de deixar espaço para um açaí e um Guaraviton.

— Eu até concordo com você, fazia muito tempo que eu não comia um prato feito tão bom assim — Maitê disse, bebericando um refrigerante. — Hm... — Ela engoliu o refrigerante rapidamente ao chamar minha atenção em um balbucio. — Como está o tio? Ficou feliz?

— Nossa, demais. Ele me fez dormir em seu apartamento ontem, por isso fui embora mais cedo, ele estava me esperando acordado. Dormimos agarradinhos, quase morri sufocada. — Rimos em um uníssono. — Acordei cedo, fiz um cafézinho para ele e só voltei para o meu apartamento quando ele foi trabalhar. Mais tarde vou ao mercado fazer compras para casa e vou aproveitar para fazer uma janta para ele lá em casa.

— Nós cuidávamos dele, principalmente minha mãe. Mas é do seu cuidado que ele precisava.

— Eu sei. Me sinto aliviada por ter pedido um tempo da agência. Eu ainda vou ficar nesse vai e vem, mas quero ter mais tempo para ele. Ele precisa de mim mais do que nunca agora.

— Sim. Espero que as coisas se ajeitem logo e que você consiga convencer ele de ir ao psicólogo. Tentamos fazer ele ir, mas ele disse que não precisava disso e que era só uma fase.

— Sim, estou pensando em colocá-lo em um convênio. Não quero nem ver a última vez que ele fez um check-up. Querendo ou não, ele já tem quarenta e nove e eu fico preocupada com sua saúde. — Respirei fundo, afundando minhas mãos em meus cabelos ao apoiar os cotovelos na mesa.

— Vai dar tudo certo, Lis. Fica tranquila. Agora que voltou, as coisas ficarão mais fáceis, o tio é bem compreensível e não é tão cabeça dura assim. Ele só estava com saudades.

— É, eu também acho. — Me arrumei na cadeira e voltei a comer.

Maitê bebericou novamente seu refrigerante antes de mudar de uma expressão preocupada para uma expressão fofoqueira. Lá vem bomba.

— Então, se resolveram? — Ri fraco e neguei com a cabeça.

Eu sabia!

— Sim. Conversamos muito, meio que colocamos um pouco do papo em dia. Não foi muito, mas pelo menos foi alguma coisa. — Dei de ombros e coloquei uma garfada na boca.

— Ótimo, sabia que vocês iriam se resolver.

— Você sabia de tantas coisas... Que coincidência, não? — Franzi o cenho e vi ela se fazer de desentendida.

— Não sei do que está falando, Lis.

— Ah, não? — Arqueei o cenho. — Primeiro você começou a dizer que eu precisava me acertar com o Lennon, depois diz que o Léo tem, supostamente, um amigo gato que eu iria gostar. Logo depois, ele está em um churrasco da minha família, o que eu tenho certeza que não acontecia há muito tempo. E então, você diz que vai falar com o Léo rapidinho e do nada, Lennon aparece. Que coincidência!

Maitê segurou um riso e arregalou os olhos em um gesto nervoso, bebericando seu refrigerante mais uma vez. Taquei uma bolinha de guardanapo em sua testa, o que a fez rir e quase se engasgar com o refrigerante.

— Você poderia dizer um: "Muito obrigada, Maitê. Você estava certa". Seria de bom gesto, inclusive.

— Espere deitada, querida, porque até sentada uma hora cansa.

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