Tomara

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"Tomara que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz
E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais" -Vinicius de Moraes, 1973.

-Então...não vai me contar o porquê você tava chorando mais cedo? - pergunto pra Júlia depois de alguns minutos em silêncio na mesa, nós já estávamos saboreando nossos sorvetes sentadas na sorveteria que eu sempre frequentava quando ia pra Saquarema.

-Eu não gosto muito de falar sobre essas coisas. - Júlia me responde ainda encarado o próprio sorvete de chocomenta que ela havia escolhido. Não deixo de lembrar que aquele era o sabor preferido de Carol, mas isso era algo que eu não precisava compartilhar com a garota.

-Que coisas ? - pergunto curiosa e recebo o olhar da mais nova sobre mim, concluo pela vermelhidão de seus olhos que ela estava se segurando para não chorar, então resolvo encerrar o assunto - Desculpa, criança, eu não queria ser invasiva, mas se você precisar conversar com alguém eu to aqui - quando termino de falar coloco minha mão em cima da sua e faço um carinho nela com meu polegar, recebendo um sorriso agradecido de Júlia.

-Tudo bem, Rosa, obrigada por isso. - a central fala em um tom suave e calmo, cheio de gratidão. Percebo que ela muda de expressão e suspira fundo logo em seguida, provavelmente criando coragem para me contar sobre o ocorrido. Me afasto um pouco, ajeitando minha postura, para dar o espaço que ela necessita para se sentir confortável. - É que eu tive alguns problemas familiares, sabe? - sua pergunta vem acompanhada de uma careta de desconforto.

-Sei, família é fogo mesmo, os maiores problemas vem de lá - falo tentando parecer compreensiva sem pesar o clima, aliás a menina resolveu confiar em mim sem nem me conhecer direito.

-Pois é... e meu pai não gosta muito que eu jogue vôlei, sabe? - a pergunta retórica da menina faz um semblante confuso se formar em meu rosto. - E ele meio que me ligou bastante zangado mandando eu voltar pra casa, sem motivo nenhum, só surtos dele mesmo. - Júlia deixa escapar um suspiro que indicava que ela estava realmente cansada dessa situação.

-Sério? E por que ele não gosta de você jogar vôlei? - pergunto com certo receio de parecer invasiva novamente.

-Na verdade eu não sei direito, mas acho que não é o que ele idealizou pra minha vida.

-E o que ele queria pra sua vida? - pergunto com mais segurança por perceber que a garota já estava à vontade para conversar comigo sobre esse assunto, e por algum motivo isso enchia meu peito de alegria.

-Ele queria que eu fosse médica igual ele, igual minha irmã que faz faculdade de medicina - Kudiess falava enquanto brincava com a colher de plástico do seu sorvete recém acabado - Logo logo eu termino o ensino médio e ele quer que eu vá focar em estudar pros vestibulares, mas tenho certeza que não é isso que eu quero pra minha vida.

-Nossa, não sabia que seu pai era médico, Júlia, que bacana - falo com certa surpresa em meu tom de voz - Mas é uma droga isso dele querer decidir seu futuro né, tenta falar com sua mãe pra ela conversar com ele, ou ela é da mesma forma ?

-Não, minha mãe só quer me ver feliz.

-Então, fala com ela sobre a situação, ela vai conversar com ele e vai dá tudo certo. Precisamos de você na seleção, garota prodígio - me viro pra fazer cócegas em sua barriga na intenção de melhorar o clima tenso que se instalou no ambiente.

-Para, Rosamaria - a mais alta tentava se esquivar enquanto sorria já sem ar.

-Parei, parei - falo enquanto termino as últimas colheradas do meu sorvete - A gente tem o resto da tarde livre, você quer ir pra algum lugar? - pergunto tendo toda atenção da menina.

Até a próxima vida Onde histórias criam vida. Descubra agora