Dúvida

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"Está instaurada a dúvida
Seja bem-vinda era da razão
Não há que se temer a revisão
Nada que se diga ou que foi dito
Merece estatuto de dogma irrestrito
Cuidado com a verdade
Que se pretende
Maior que a realidade
Pois, os fatos são os fatos
E fluem diante de nós
Que estupefatos
Assistimos ao espetáculo." - Galileu Galilei, 1638.

-Vai Júliaaa. - grito por cima do ombro quando vejo Júlia correndo pra atacar.

-Passooooouuu, a gente passou caralho. - Gabi grita puxando o grupo inteiro para um abraço coletivo. O ponto de Júlia fechou o 4º set contra a Sérvia em uma vitória de 3x1 para o nosso time.

-Ai eu to tão feliz . - Kudiess fala em meio a lágrimas sendo abraçada por mim e Carol.

-Eu também to feliz, criança, e muito orgulhosa de você. - respondo a mais alta.

-Eu também Júlinha, muito orgulho. - Carol diz levantando a menina no ar.

-Sua família tava assistindo o jogo?? - pergunto lembrando do que a mais nova havia falado alguns dias atrás.

-Tá sim, olha eles ali. - Júlia responde animada apontando para a arquibancada. - Vem pra vocês conhecerem eles. - a central arrasta eu e Carol segurando nossas mãos.

-Olha Laura, é a Gattaz e a Rosa. - a morena diz animada como se aquela informação não fosse óbvia para a irmã dela. - Ela é fã de vocês. - a menina revela para eu e Caroline.

-Oi Laura, prazer te conhecer. - digo apertando a mão da irmã mais velha de Kudiess e observo Carol fazer o mesmo.

-O prazer é todo meu, fico muito feliz que Júlia esteja em tão boas mãos. - a Kudiess primogênita cumprimenta nós duas com um abraço.

-E seu pai Júlia ? - Carol pergunta sentindo falta do outro membro da família que a menina disse que estaria presente.

-Ele tá voltando do banheiro, tá vindo bem ali ó. - Laura é quem responde a pergunta apontando para um senhor que vinha em nossa direção. Ao olhar para o homem eu sinto uma sensação de que já o conhecia de algum lugar. Sua expressão era séria e de poucos amigos.

-Oi papai, o que você achou do jogo?? - Juju pergunta abraçando o homem mais velho.

-Acho que você foi ótima, minha querida. - ele responde retribuindo o abraço da garota.

-Olha, pai, essas são a Caroline Gattaz e a Rosamaria. - a garota fala nos apresentando.

-Tudo bom? O senhor tem uma filha de ouro. - Gattaz fala apertando a mão do homem. Eu ainda estou paralisada tentando me recordar da onde conheço ele, mas concordo com a fala de Carol e o cumprimento.

-É uma honra conhecer as senhoritas, obrigado por cuidarem da minha filhota enquanto eu estou longe. - o senhor fala com um sorriso forçado no rosto e uma expressão de claro desconforto. Havia algo ali, algo nele que eu não conseguia decifrar, mas que me preenchia de dúvidas. -Então vamos meninas, eu programei um resto de dia especial com minhas duas filhas. Tenham um bom dia, senhoritas. - o senhor faz um aceno e se retira sendo acompanhado por Júlia e Laura.

-Tchau, meninas, foi um prazer. - Laura diz antes de acompanhar seu pai.

-Tchau, Rosa, tchau, Gattaz. Depois a gente se fala. - Júlia diz abraçando nós duas de uma vez só.

-Tchau, pirralha, se cuida. - digo dando um beijo na testa da menina.

-Tchau, Júlinha, aproveita muito sua family. - Gattaz fala bagunçando os cabelos da mais nova e nós duas observamos ela indo acompanhar seu pai e irmã.

-Você não tem a impressão que conhece o pai de Júlia ?? - perguntou assim que eles estão distantes o suficiente.

-Hmm..acho que não, mas que ele é bem estranho ele é sim. - Gattaz responde em um tom de desconforto.

-Parecia que ele queria fugir da gente, sei lá, mas deve ser porque ele não gosta que Júlia jogue vôlei, ela me falou sobre isso uma vez. - revelo pra minha mulher.

-Isso realmente explica muita coisa. - Gattaz diz ainda observando eles se distanciando. - Mas enfim, quais seus planos para o fim do dia gatinha ?? - a mulher fala mudando de assunto.

-Descansar do lado da minha velha. - respondo me virando para encarar a jogadora mais alta e segurando minha vontade incontrolável de tocar em seu rosto ou de beija-la, pois estávamos em público e já bastava as fotos que circulavam ultimamente da gente mais próxima uma da outra e o caos que o twitter se encontrava.

-E quem é essa sortuda ?? - Caroline pergunta se fazendo de desentendida.

-Acho que você sabe bem. - pisco para a mais velha que sorrir do meu gesto. - Vamo tomar um banho no vestiário logo que já já o time vai voltar pro hotel.

-Você que manda, minha gata. - a mulher responde e nós duas nos encaminhamos para o vestiário. Durante a reta final dos campeonatos Zé Roberto não fazia mais momentos de encontro depois dos jogos, pois nessa etapa o técnico já havia falado tudo que queria para o time e não pretendia nos deixar mais nervosas ainda. Eu e Carol nos arrumamos e em poucos minutos já estamos dentro do ônibus voltando para nossa hospedagem.

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-Ai Rosa eu odeio esse filme. - digo emburrada enquanto a mulher coloca a animação "o cão e a raposa" na TV do nosso quarto. Eu e ela oficialmente trocamos de quarto com Sheibi, para a felicidade das mulheres e a nossa também. Já era de noite e nós havíamos pedido o jantar no quarto para não precisar sair de lá até o próximo dia.

-Ué mas por quê ?? Quem que odeia animação da disney, Carol?? - Rosamaria interroga incrédula.

-Essa aí é MUITO triste, cara, como que aquela velha teve coragem de abandonar a raposinha no meio da floresta. - defendo meu ponto de vista.

-Mas foi o melhor pra ele, amor, o caçador ia acabar matando o coitado. - a mulher deitada em meu ombro diz carinhosamente.

-Não gosto, pode mudar. - rebato irredutível arrancando um revirar de olhos da mulher que pega o controle e passa o catálogo novamente.

-Tá bom, então..Eu vou colocar esse aqui.

-Esse é de terror, também não gosto. - digo séria.

-Mas você é difícil ein, minha filha. - Rosa bufa e continua manuseando o controle. -Pronto, vai ser esse, comédia romântica adolescente sapatão, não tem como você não gostar.

-Esse deve ser bacana. - digo sorridente e me arrumando confortavelmente contra o corpo da mulher mais nova. O filme escolhido foi "crush" que contava a história de duas adolescentes atletas. Em certo momento a protagonista estava contando como sua mãe lhe concebeu através de uma inseminação artificial independente, a matriarca não se interessava em conhecer o doador e tinha criado a garota sozinha.

-Gattaz...eu já sei da onde eu conheço o pai da Júlia. - Rosa fala se levantando para me encarar um pouco em choque.

-Que ?? - pergunto sem entender como tínhamos chegado naquele assunto tão de repente.

-Ele foi o médico que fez o seu parto. - a revelação é feita como um puxar de curativo.

-Meu Deus?? Como assim??

-A Júlia já tinha me dito que ele era médico, mas eu nunca imaginei..

-Será que ele se lembra ?? Será que ele contou pra Júlia ?? - minha mente já estava explodindo com todas as possibilidades.

-Calma, Carol, vem cá, não vamos nos desesperar. Depois a gente ver isso, tá bom? - Rosa me conforta enquanto me aconchega em seu peito. Eu tento me recuperar e voltar a atenção para o filme, mas minha cabeça não deixa de pensar naquele assunto.


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Capítulo menor para finalizar a nossa maratona, daqui uns dias eu volto 😘
off: eu jurava q tinha postado antes de dormir mas ele só salvou cm rascunho e agr q eu vi qnd acordei (nn sou vagabunda juro, só to de férias da facu 🫶🏼)

Até a próxima vida Onde histórias criam vida. Descubra agora