Alegrias violentas

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"Estas alegrias violentas
Têm fins violentos
Falecendo no triunfo
Como fogo e pólvora
Que num beijo se consomem." -William Shakespeare, 1597.

-Nyeme você é crente né ? - pergunto para a líbero que assistia o jogo do banco, assim como eu.

-Sou sim, por quê? - a mais baixa questiona tirando sua atenção do jogo.

-Acho que esse é o momento que você começa a orar. - respondo em tom sério para deixar claro que não era brincadeira. A reação inicial da jogadora foi de surpresa, ela ficou me encarando por alguns segundos,  esperando que eu falasse alguma outra coisa, até que se deu por convencida e resolveu se acomodar no banco unindo suas duas mãos enquanto dava início a uma oração.

A situação da nossa equipe era realmente desesperadora, estávamos enfrentando novamente uma final contra a Itália, assim como na VNL. O placar atual tirava a nossa paz, que só durou até o final do 1° set, o jogo começou com um 25x22 para o nosso time, já no 2° e 3° set as italianas reagiram nos derrotando por 25x23 e 25x21 respectivamente, agora dependíamos de uma vitória no 4° set para forçar um tie break.

-Que droga. - digo pra mim mesma e escuto algumas outras jogadoras também resmungarem chateadas. Naquele momento Bosetti se encarregava de piorar ainda mais nossa vida marcando o 20° ponto da Itália, nos deixando 5 pontos atrás. Observo a jogadora comemorar com suas colegas e logo após se virar em direção a nossa quadra procurando por alguém. Ao me encontrar no banco a minha ex colega de time sorrir e joga um beijo em minha direção, apesar da situação adversa minha memória afetiva se encarrega de me levar ao dia do treino em que eu apresentei para a ponteira a jogada que ela tinha acabado de utilizar ao marcar o ponto, automaticamente esboço um sorriso sincero para ela, me recordando que eu a fiz jurar que sempre que utilizasse aquela tática teria que me dar os créditos.

-Ih, parece que alguém não gostou nada disso. - Roberta, que também estava no banco, interrompe meus pensamentos.

-Ah, eu achei fofo ela se lembrar que eu ensinei essa jogada pra ela. - respondo de imediato.

-Não to falando de você, olha a cara da Gattaz..- a levantadora me alerta e eu rapidamente procuro Carol na nossa quadra, a mulher estava com um semblante sério de poucos amigos e oscilava seu olhar ameaçador entre eu e Caterina, parecia que a qualquer momento ela ia pular no pescoço da italiana.

-Eita. - digo pra mim mesma ainda encarando a mulher que já havia voltado toda sua concentração para o jogo. Apesar do seu foco ter mudado, o semblante de irritação permaneceu em seu rosto e em poucos segundos minha cabeça já estava longe daquela quadra imaginando como aquilo poderia interferir no jogo de Gattaz, se essa situação atrapalhasse o seu desempenho eu nunca iria me perdoar. Minha única vontade é entrar naquela quadra e dizer que não era nada disso que ela tava pensando, que não era necessário sentir ciúmes por tão pouco se eu já era completamente dela.

-Vamoooooooooo. - Meu conflito interno é interrompido por Roberta me abraçando para comemorar alguma coisa. Quando olho para quadra encontro Carol encarando Bosetti, que acabava de ser bloqueada pela central. A mais velha logo saiu em comemoração do ponto com as outras jogadoras. -Você viu isso, Rosa ???? O rally lindo que sua véia encerrou bloqueando sua amante?? - Betinha me pergunta sorrindo em clara provocação.

-Você não repete que a Caterina é minha amante nem de brincadeira, a Gattaz é ciumenta. - aviso a levantadora que sorrir ainda mais da situação.

-To vendo...ainda bem né! o ciúmes de Gattaz vai trazer o ouro pra nós. - a mulher continua a provocação fingindo agradecer aos céus. - Agora silêncio que GG10 vai sacar. - Roberta finaliza sem me dar chance de resposta.

Até a próxima vida Onde histórias criam vida. Descubra agora