↬ Capítulo Quatro ❧

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Harry partiu de manhã cedo, recusando-se a ficar mais um pouco e com um convite aberto para voltar quando quisesse, desesperado ao sentir os raios do sol contra seu rosto. Avançando contando seus passos até chegar onde deveria.

— Eu estava te esperando ontem a noite. — disse-lhe um homem com a voz áspera. — Você se perdeu?

— Sim, eu sinto muito.

— Não importa, pegue. — Harry tateou mais perto até ter em suas mãos uma caixinha que continha o que sua família precisava. — Com isso o negócio com sua família termina, faça com que eles se lembrem disso.

— Eu vou. — diz se curvando antes de começar seu caminho de volta.

Ele contou 13 mil 436 passos para o caminho que o levaria de volta ao homem estranho que Draco era, ele quer voltar e ouvi-lo falar sobre ninfas e musas, mas essa não é a sua vida, porém espera poder voltar um dia.

Finalmente chega à sua aldeia à noite, seus pés doem, mas não tanto graças aos sapatos que Draco lhe deu, que ele espera manter, ele se move lentamente, não quer chegar, quer estender o tempo longe de casa, como se andar devagar aumentasse o tempo além de alguns segundos.

— Estávamos esperando por você pela manhã. — ouviu uma voz fria perto dele. — Pensamos em como comemorar uma boca a menos para alimentar.

— Eu me perdi mas...

— Claro, de qualquer forma, me dê isso. — diz pegando a caixa das mãos dele descuidadamente, fazendo com que Harry quase caísse por causa do puxão que recebeu, mas seus braços cansados ficaram gratos por isso. — Onde conseguiu essas roupas? Lovegood deu a você?

— N-não, um homem me deu quando me perdi, ele me ajudou a voltar para a estrada.

— O que você deu a ele?

— Nada...

— Está andando por aí sendo uma prostituta em outra cidade? Eu pensei que nossos pais já tinham falado sobre isso com você. — seu irmão disse zombeteiramente.

— Eu não dei nada a ele. — Harry respondeu defensivamente. — Ele não fez nada comigo.

— Se você diz. Eu levo isso para casa, se apresse ou vai dormir do lado de fora.

Harry avançou de cabeça baixa, tentando lembrar a contagem de passos e para onde deveria virar, até chegar na porta, aberta como sempre e entrou, tudo estava em silêncio menos a cozinha, ele imaginou que seu pai estaria ali, comendo como sempre fazia, e engordando até sua calça explodir para pedir outra depois.

— Você trouxe os tecidos? — perguntou o homem.

— Eu os dei para Henry.

— Você demorou muito.

— Eu me perdi.

— Bem... O que Lovegood te disse?

— Ele disse que com isso eles fecharam seus negócios, e que vocês deveriam se lembrar disso.

— Aquele velho infeliz, ele logo morrerá e suas terras ficarão sem dono, se você fosse mulher poderia ter se casado com ele, mas você nasceu um menino e estragou tudo. — o homem riu. — Minerva acabou de preparar uma torta de abóbora, termine comigo e vá dormir.

— Sim, pai. — respondeu sem rodeios e se aproximou da mesa, uma mão pegou a dele, macia e enrugada, ele sabia que era Minerva.

— Aqui jovem Potter. — ela o guiou para uma cadeira vazia. — Eu vou te trazer um prato.

— Obrigado Minerva. — Jimin respondeu.

— Essas roupas foram dadas a você por Lovegood? — seu pai perguntou de repente.

— Não... um homem me deu quando me perdi, ele também me ajudou a encontrar o caminho de volta.

Seu pai não disse mais nada, Harry podia imaginar o que ele estava pensando.

Como da última vez.

Harry nunca quis pensar nisso, não gostava, preferia muito mais a surra que sua mãe lhe dava, por fazer as coisas caírem do que aquele homem fez com ele, se sentiu mal só de lembrar.

Às vezes tentava encontrar os motivos pelos quais alguém tratava mal outra pessoa e não entendia, não entendia porque alguém deveria atirar uma pedra quando se podia dar uma moeda, ou insultar quando podia dar um sorriso.

Ou porque você precisava de mais dinheiro do que poderia gastar, Harry gosta de uma cama confortável como qualquer outra, mas por que ter duas se uma era a que ele ia usar?

Tom era meio que um guardião no começo, só que quando Harry completou 15 anos, a merda começou, porque aquele homem, se é que ele pode ser chamado assim, se aproveitou de sua condição, até hoje seus pais acreditam que Harry teve a culpa, eles ainda o repudiam.

E Harry ainda não entende completamente o que aconteceu com ele ou por que aconteceu justo com ele.

Minerva ficou com ele até tarde várias noites quando o mais novo não sabia o que fazer com a dor em seus braços ou nas costas, quando sua mãe bebia tanto e se tornava uma fera precisando descarregar sua raiva em alguém, o único que pagava as consequências era Harry.

Minerva curou suas feridas, Minerva o ajudou a dormir e o ensinou, Minerva nunca perdeu a paciência, Harry começou a chamá-la de "mãe" quando estavam sozinhos em casa.

Harry comeu um pouco da torta de abóbora antes de cair no chão.

— Novamente. — ele ouviu a voz de sua mãe. — Nojento! — ela gritou. — Fazendo coisas com seu corpo de novo!

Um tapa virou seu rosto.

— N-não. — disse trêmulo.

— Não minta para mim! Maldito Harry! Qual é o pecado que cometemos para ter você?

Os acontecimentos seguintes são confusos, porque Harry não sabe o que está por vir, ele só sente medo, os golpes não doem e ele cai no chão, os outros continuam falando, parecem gritar, Harry sente as costas molhadas e provavelmente é sangue, a voz de Minerva ressoa, ele ouve enquanto ela pede para eles pararem, mas não há ninguém para parar sua mãe agora, ele não percebe quando tudo acaba porque sente somente dor.

Eles o arrastam e o jogaram para fora de casa, deveria ser noite porque não há outro som além dos grilos.

— Você não vai colocar os pés nesta casa novamente! Eu tenho sido muito condescendente com você até agora, se quiser dormir terá de o fazer com os porcos porque não entrará aqui novamente.

Dormir? Como ele poderia dormir se tudo o que havia se tornado era um pacote de lágrimas?

Volte quando quiser.

Foi isso que Draco lhe disse.

E ele esperava que fosse verdade.

Tulipanes Azules「DRARRY」Onde histórias criam vida. Descubra agora