↬ Capítulo Um ❧

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Draco estava cansado dos dias chatos dentro de sua cabana, ele queria sair e observar o mundo, queria pedir aos seus olhos que o deixassem ver o rosto das pessoas sem morrer de medo, porque não, Draco não queria machucar os outros, ele apenas teve azar, desde o momento em que nasceu.

Ele sabia, porque se lembrava do frio e dos pássaros que lhe traziam abrigo, ninfas que o alimentavam com dificuldade, sempre longe do seu olhar, pois o evitavam quando a criança estava com frio e só precisava de um abraço depois de pesadelos.

Ele aprendera com dificuldade, mas finalmente soube, no dia em que nasceu Medusa foi morta, sua cabeça cortada, suas cobras mortas, mas sua maldição passou direto para ele.

Sem família, sem ninguém para amar, Draco se acostumou com a ideia de ficar sozinho após por engano transformar uma família em pedra, havia um bebê nas mãos da mulher, de quem Draco tentou cuidar, mas assim que o menino olhou em seus olhos, perdeu o fôlego e ficou ali, atordoado com as lágrimas ainda em seu rosto.

Daquele dia em diante, Draco se afastou, conseguiu construir uma cabana na floresta, com a lenda em torno dele sobre o monstro que te transformava em pedra, ele mal olhava para você, com a solidão que o corroia e a música dos pássaros que ele também não podia ver.

As ninfas traziam presentes todas as semanas, elas deixavam na porta dele à noite e é assim que Draco tinha um confortável colchão de penas e cobertores, os potes, comida e roupas da mesma forma, ele já viu o rosto de uma valente uma vez, que fechou os olhos por ele e deixou que ele tocasse seu rosto, para se lembrar dela, mas ela não conteve a curiosidade, disse a ele que sua voz era como um feitiço que a fazia abrir os olhos, e ainda mantém um sorriso, bem longe dali, como os outros que lhe tiraram a imagem.

Nenhuma delas tentou novamente, por medo, mas elas não o abandonaram por compaixão. Às vezes falavam com ele pela porta, cantavam para ele.

Mas esta tarde elas não estavam lá para ele e ele não ouviu nenhum som, logo decidiu sair um pouco, abriu a porta na expectativa e via a floresta clara sem uma alma por perto, o verde era difícil de reconhecer, opressor, o vermelho e o amarelo das flores eram belos, o céu é azul, suas mãos pareciam pálidas, mas Draco sorriu, feliz por sentir algo naquele momento, e desejou que fosse sempre assim.

— Olá? — ouviu uma voz trêmula perto dele. — Tem alguém aqui?

Instintivamente ele se virou para o dono da voz, lamentou um segundo depois, justamente quando já era tarde, justamente quando viu os olhos preocupados de um menino não mais alto do que ele, com roupas sujas e rasgadas, com medo no rosto.

O silêncio durou enquanto Draco esperou, mas nada aconteceu, nada mudou e o menino ainda não se transformou.

— Alguém? — o menino repetiu em voz baixa, virou o rosto quase desesperado, como se procurasse algo, como se não visse.

— Estou aqui. — Draco disse sem tirar os olhos dele, surpreso com aquele comportamento.

— Com licença. — falou o menino. — Não sei onde estou, deveria ter chegado a Correrrio, mas devo ter me confundido no caminho, pode me dizer onde estou?

— Bem longe de lá. — Draco falou com ele em um tom monótono, ainda sem deixar seu espanto, ainda sem entender.

— Você pode me dizer para onde devo ir? — o menino falou com pressa.

— Saindo a essa hora você chegaria lá à meia-noite, sem descansar. — disse ele e olhou para os pés do menino, ele não trazia sapatos e estava com muitos ferimentos. — Agrediram você? — perguntou com cuidado.

— Não senhor, eu estou bem, por favor me mostre o caminho, estou atrasado, eu tenho que pegar um pacote.

— É perigoso nos arredores. — Draco insistiu. — Você poderia... você poderia esperar até amanhã?

— Não posso senhor, está frio e é tarde...

— Você pode ficar na minha casa. — continua.

Draco queria saber um pouco mais sobre aquele garoto, talvez entender o que o tornava diferente e por que ele podia vê-lo.

— Não quero incomodar. — disse ele.

— Não é um incômodo... — ele disse imediatamente. — Você... você pode... você pode me ver? — decidiu perguntar.

— Me desculpe. — ele inclinou a cabeça. — Você não tem que me dar acomodação, eu posso dar um jeito. — ele mal sorri. — Obrigado pela sua gentileza. — ele começou a avançar sem direção.

Draco apenas percebeu porque os olhos do garoto pareciam tão pálidos, ele podia perceber a razão pela qual o garoto se virava a cada som e embora por um momento uma esperança tola tenha vibrado nele, aquele garoto era alguém para quem ele podia olhar.

— Não é um problema. — Draco o interrompeu. — O sol se põe e eu sei que não é um incômodo para você, mas tem animais por aqui que caçam à noite, então eu realmente acho que é uma boa ideia ficar. — Draco disse enquanto se deliciava na experiência de olhar para um rosto sem medo dele, ou medo de machucá-lo. — Mas a decisão é sua.

O menino estava indeciso, pareceu trêmulo e Draco pensou que deveria ser o medo de um estranho, ou das feras da floresta, o que fazia sentido, mas Draco não iria machucá-lo, só que o menino não sabia.

— Como posso te pagar? — perguntou.

— Só... me diga seu nome. — ele não podia ver, mas Draco estava sorrindo.

— Harry. — respondeu ele. — Posso saber o seu nome, senhor?

— Não me chame de senhor, apenas me chame de Draco.

— Draco... obrigado.

— Bom. — ele disse antes de se aproximar e pegar o pulso de Harry para guiá-lo, ele ficou tenso, mas o seguiu.

Draco pensou em como sua cama era pequena, mas ele tinha alguns cobertores para fazer uma cama improvisada no chão e deixar Harry descansar na cama. Antes claro, o menino tinha que tomar banho e ele se certificaria de que ele saísse com os sapatos e a roupa em bom estado e lhe daria comida, aquela que ele inventou nos anos que passou sozinho, porque para ele era deliciosa mas ele queria outra opinião, ele lhe contaria sobre a música das musas e das ninfas que às vezes o visitavam, ele lhe contaria sobre Morfeu e como ele permitiu que ele visse seu rosto em seus sonhos.

Ele diria a Harry tudo o que pudesse antes dele sair pela manhã. 

Tulipanes Azules「DRARRY」Onde histórias criam vida. Descubra agora