Capítulo 8

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F R A N Ç A,  1 5 7 0.

(Você vai desejar nunca ter me conhecido)
Rolando nas profundezas
(Lágrimas cairão, rolando nas profundezas)
Você teve o meu coração na palma da sua mão
(Você vai desejar nunca ter me conhecido)
E você brincou com ele, no ritmo da música
(Lágrimas cairão, rolando nas profundezas).
Rolling In The Deep | Adele

Simplesmente não tinha como dar errado

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Simplesmente não tinha como dar errado. A adaga pressionando seu pescoço, minhas mãos tampando seus lábios macios, o desespero estampado em seu olhar, a luz da lua sendo a única coisa iluminado o aposento macabro e principalmente, acima de qualquer outra coisa que minha mente podre e calculista poderia maquinar, o plano precisamente planejado em detalhes minuciosas pairando sobre nós dois ali — minhas pernas pressionando suas coxas para que não se mexesse e seu corpo abaixo do meu, bêbado e tolo. Patético.

Ele para de se debater quando sussurro as palavras com certa fúria e me observa como se eu fosse o monstro que mora em seu armário. Um dos quatro cavaleiros do apocalipse vindo busca-lo para um inferno agonizante e repleto de maus presságios. Seu pior pesadelo tornando-se realidade à medida que pressiono a adaga contra seu pescoço magro e pálido, e sinto uma pequena gota de sangue escorrer em meus dedos, mas não afrouxo a pressão. Não é o seu sangue. É o maldito corte em minha mão que provoquei no escritório de Saymon noites atrás. Provavelmente as cicatrizes se abriram com a força que aplico no cabo da faca.

    Os olhos verdes com uma camada fina de castanho me encaram silenciosos, as pupilas movendo-se de um lado para o outro examinando minhas feições, e me pergunto se está pensando a mesma coisa de quando estava bêbado naquele bosque, se quer dizer que sou linda outra vez. E por um segundo, no momento em que suas mãos agarram os lençóis em agonia e o olhar se finca em meu rosto como um imã, acredito que está refletindo sobre a mesma coisa. Afasto o pensamento de imediato. Preciso manter o meu foco.

    Aproximo de seu ouvido, podendo ouvir claramente as batidas aceleradas de seu coração e a respiração ofegante pairando sobre meus dedos, e observo quando seu corpo tenciona, totalmente vulnerável. Ele fecha os olhos.

— Se você gritar — sussurro, e os pelos de sua nuca se arrepiam no mesmo instante. — Vou rasgar a sua garganta e qualquer chance de viver que você tenha. É melhor fazer o que digo se quiser seguir com a sua vida patética de brincar de ser rei.

    Volto minha atenção para sua face, agora completamente tomada por sentimentos que desconheço a profundidade e até onde o levam. Ele parece refletir, talvez pensando se vale a pena gritar para chamar a atenção dos guardas, mas deve saber que estará morto antes mesmo que qualquer soldado altamente treinado adentre o quarto para acabar com seu tormento.

    Muito lentamente, afrouxo o aperto em sua boca e retiro minhas mãos de seus lábios, agora completamente vermelhos e inchados como se tivesse acabado de beijar metade de um salão de baile, e saio de cima do seu corpo, logo ficando meus pés do chão e retirando a espada do coldre para que não duvide de minhas ameaças, como sempre acho que alguém irá fazer. Ele fica sentado na cama, os cabelos desgrenhados escondendo os olhos, e me observa enquanto ergo a lâmina em sua direção.

CHARLES IX: The Malevolent King Onde histórias criam vida. Descubra agora