F R A N Ç A, 1 5 7 0.
Você nunca conseguiria sentir a minha história.
Scotland | The LumineersA França não é bonita. É a primeira coisa que consigo pensar quando coloco meus pés na grama verde, já tomada por folhas típicas do outono que caem como se quisessem marcar sua chegada. Saindo da carruagem dourada com arabescos rosas e brancos, onde tantos guardas e soldados estão postos e prontos para me proteger, caminho até um lago próximo, totalmente absorta à realidade ao meu redor. Todos os olhares estão sobre mim e tento me acostumar com isso, em ser observada.
Sinto a brisa fria da manhã me abraçar e balançar meus cabelos, um forte cheiro de vegetação molhada adentrando às minhas narinas.
Dou mais alguns passos à frente, tomando cuidado com bainha do vestido, e observo meu reflexo ser formado nas águas do lago. Tento procurar algum instinto, alguma razão que me faça voltar para Áustria, algum motivo que me torne menos apropriada para o fardo que carregarei pela frente, mas não encontro nada — apenas uma garota assustada e receosa sobre seu futuro, que não é corajosa, bondosa e muito menos segura.
Deixo o vento me abraçar, como se de alguma forma fosse deixar esse peso mais leve ou quase inexistente, mas não há nada nele. Apenas o cheiro horrível da França.
— Embaixador — Chamo sem virar para trás, e logo um homem baixo de cabelos grisalhos aparece em meio à multidão de homens. — Onde estamos?
Ele está ofegante — provavelmente correu quando ouviu minhas palavras —, e tem um semblante preocupado no rosto, como se me manter segura e aguentar todas as possíveis intrigas com a corte francesa custasse muito de seu temperamento. Ele limpa o suor que pinga em seu rosto quando diz, com a voz entrecortada:
— Acabamos de aterrisar em terras francesas, Majestade. — diz calmamente, mas seu desespero é óbvio, assim como o meu.
Meu rosto treme e meu coração dá um saldo. A última palavra me causa repulsa.
— Majestade? — pergunto atordoada demais para formular uma pergunta específica.
Sou tomada por uma avalanche de pensamentos, que todos os dias penso que irão me derrubar de uma só vez.
Eu tinha apenas dezesseis anos quando as primeiras negociações sobre o meu casamento foram feitas. Não que eu me importasse na época, mas desde muito cedo fui ensinada por minha mãe — e por qualquer governanta ou tutor que passasse ao longo de minha trajetória —, que um dia eu seria rainha. Minha mãe — a imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico e anteriormente uma princesa espanhola —, não estava disposta a oferecer minha mão a qualquer nobre alemão e possivelmente me tornar uma duquesa um dia, sua ambição era muito maior, e nunca tive ideia dela até hoje. Até este dia.
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CHARLES IX: The Malevolent King
Roman d'amourElisabeth Habsburgo, arquiduquesa da Áustria e filha do imperador do Sacro Império Romano-Germânico, tem apenas dezoito anos de idade quando é enviada à corte francesa para se casar com o rei da França, Charles Valois, considerados por muitos um sob...