F R A N Ç A, 1 5 7 0.
Debaixo do nosso sangue ruim
Nós ainda temos um santuário
Lar, ainda é um lar, ainda é um lar aqui
Não é tarde demais para reconstruir ele
Porque uma chance em um milhão
Ainda é uma chance, ainda é uma chance
E eu prefiro apostar nessa chance.
Train Wreck | James ArthurPhilip declarou guerra à França.
Um arrepio percorre toda a extensão de minha espinha quando tento com todas as minhas forças obrigar meu cérebro a raciocinar a situação diante de mim, as vozes no cômodo tornando-se apenas névoa ao redor do caos que instala-se nas paredes frias repletas de tapeçarias do recinto, o calor que me abraçou há poucos segundos atrás indo embora do meu corpo como se nunca sequer tivesse existido.
Algo martela em minha cabeça quando sinto uma forte dor atingir todas as barreiras que construí ao longo dos anos, meu coração despencando da caixa torácica. Posso senti-lo em minha boca, bem como a adrenalina correndo por minhas veias silenciosamente aconselhando-me a manter a calma, mesmo quando sinto os dedos de Charles entrelaçando-se com os meus no momento em que a última frase escapa pelos lábios de Saymon.
Sinto uma carícia suave em minha pele, como se me reconfortasse diante ao horror que as palavras do general representam para essa nação falida. Respiro fundo, a vergonha abandonando minhas feições.
Charles ainda cobre meu corpo com o seu, os ombros largos e desnudos claramente tensos com a notícia, e mesmo que não consiga observar a exata expressão em seu rosto, sei que está apavorado. Consigo distinguir na maneira que aperta minha mão, embora sua real intenção fosse me acalmar.
Saymon, acompanhado por uma legião de guardas que nos observam com certo receio, provavelmente envergonhados por terem interrompido um momento íntimo entre seus soberanos, não esboça reação alguma quando seus olhos finalmente encontram os meus. O conheço há tanto tempo, e ainda não consigo decifrar quais emoções ele esconde dentro de sua armadura, muito menos suas reais intenções ao tomar frente de uma notícia tão trágica quanto essa, principalmente quando não prometeu lealdade alguma ao meu marido.
As sobrancelhas grossas repletas de pequenas cicatrizes estão franzidas, o que demonstra um pouco de preocupação quanto à situação diante de todos nós. Os maridos das filhas de seu imperador estão em guerra, é claro que está tão apavorado quanto eu. É seu dever auxiliar no desdobramento dessa guerra, mesmo que isso signifique aliar-se à França para que isso ocorra.
Demora alguns segundos até que a voz grossa de Charles preencha o cômodo outra vez.
— Onde está a declaração? — pergunta seriamente, e acho que nunca em toda a minha vida presenciei algo tão assustador.
Não há qualquer resquício do rei bêbado que constantemente fui alertada em meus tempos como princesa da Áustria, ou o homem que me beijou como se o mundo estivesse prestes a explodir.
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CHARLES IX: The Malevolent King
RomanceElisabeth Habsburgo, arquiduquesa da Áustria e filha do imperador do Sacro Império Romano-Germânico, tem apenas dezoito anos de idade quando é enviada à corte francesa para se casar com o rei da França, Charles Valois, considerados por muitos um sob...