Capítulo 10

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F R A N Ç A,  1 5 7 0.

Você acha que sou psicopata, que não tenho mais jeito
Diga ao psiquiatra que algo está errado
Fora da casinha, completamente insana
Você gosta mais de mim quando enlouqueço.
Mad Hatter | Melanie Martinez

Cruzo meus braços altura dos seios, caminhando lentamente em direção às enormes janelas do aposento que proporcionam a vista perfeita para a entrada do castelo, a vasta floresta na qual fui notificada ser o lugar onde os nobres gostam de realizar ...

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Cruzo meus braços altura dos seios, caminhando lentamente em direção às enormes janelas do aposento que proporcionam a vista perfeita para a entrada do castelo, a vasta floresta na qual fui notificada ser o lugar onde os nobres gostam de realizar suas caçadas reivindicando a paisagem para si, na qual guardas vestidos com armaduras reluzentes cuidam da entrada e saída de pessoas do palácio. Sinto minhas feições endurecerem, bem como a musculatura de minhas costas, tornando-se tensas à medida que o outono mostra suas garras e toma posse da paisagem, transformando as folhas verdes em alaranjadas.

Brinco com o anel em meu dedo, como se o simples ato fosse afastar todas as preocupações que assombram os lugares mais profundos de minha consciência, e imediatamente me recordo do sangue que esteve ali há poucas noites, assim como o sangue de Marcel pintando o chão de mármore da sala do trono há algumas horas.

Não sei ao certo como me retirei do recinto, ou como encontrei a coragem adormecida dentro de mim para caminhar até a porta, e muito menos como de repente a atmosfera do cômodo tornou-se tão densa ao ponto de arrancar o ar de meus pulmões — eu precisava sair imediatamente daquele lugar.

Era como estar submersa em águas muito profundas e com apenas o fundo do oceano como companhia, bem como os monstros aquáticos prestes a atacar segundo o que dizem as lendas de marinheiros que arriscam as próprias vidas ao se aventurarem nos mares sombrios do Atlântico em busca de novas riquezas, — que por vezes ouvi histórias assustadores a respeito —, e não há chance ou possibilidade alguma de voltar a respirar. Seus pulmões queimam pela necessidade de tomar fôlego e seu corpo é inteiramente feito de água, como se você tornasse parte dele, uma correnteza perigosa em busca de areia seca para quebrar, mas nunca há sinal algum de terra firme. Apenas um vasto oceano prestes a te engolir.

E após tantas tempestades e monstros marinhos repletos de tentáculos, finalmente cheguei à superfície.

Quando os guardas após tantas tentativas falhas conseguiram separar Charles do corpo ensanguentado de Marcel, já que o rei da França estava disposto a matá-lo na frente de todos contrariando todas as expectativas impostas a ele e a postura que um soberano deve assumir em meio à situações de catástrofe, a corte estranhamente em silêncio observando a cena com as faces terrivelmente espantadas em terror e surpresa, não pensei duas vezes quando me retirei para os corredores do palácio, meu coração ameaçando rasgar a minha caixa torácica se não me acalmasse. Eu precisava respirar, e o cheiro de sangue não estava ajudando em nada.

O barulho de carne sendo rasgada juntamente aos ossos da face de Antoine sendo quebrados ecoam no fundo de minha mente e arrepiam minha pele, essas lembranças levando embora consigo o resto da minha sanidade que tento com tanto afinco permanecer intocada, ainda que seja testada ocasionalmente por todos à minha volta e as situações que necessito lidar diariamente, mesmo sabendo que meu papel como rainha exige muito mais da minha capacidade cognitiva do que eu esperava.

CHARLES IX: The Malevolent King Onde histórias criam vida. Descubra agora