XII: Hamlet, de William Shakespeare

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A tarde daquele dia estava, como de maneira costumeira, radiante; o crepúsculo era de tirar o fôlego, com as flores de eflúvios redolentes se desabrochando num ar primaveril, enquanto as árvores de folhas verde-jade davam uma impressão de realeza à paisagem. O ar de realeza fazia-se completamente presente naquele suntuoso castelo, cuja beleza assimilava-se divinamente aos dos contos de fadas.

No salão principal, uma roda de amigos, qual já era amplamente conhecida pelo colégio, atraía olhares pela discrepância de personalidade das pessoas que a integrava. Estava nítido que eram bons amigos, pois caso contrário já teriam azarado uns aos outros devido a tamanha falta de semelhança. Os olhares enxeridos geralmente faziam questão de prestar atenção em suas individuais personalidades: tão diferentes, tão parecidas, eram completa, arrasadora, e inumanamente abstrusas.

Estavam sempre - ou melhor, quase sempre - juntos. Pareciam uma alcateia inteiramente inabalável, por mais que alguns parecessem, de vez em quando, distantes; distantes de cada um ali, distantes dos outros alunos, distantes de qualquer coisa em particular: como se não pertencessem ou não estivessem interessados naquele mundo do qual aparentemente faziam parte.

- Não cansam de olhar pra gente - Nêmesis comentou com um ar apático e indiferente, já acostumada com tamanha atenção em cima de sua roda, embora ainda se incomodasse com a dita.

Era semelhante ao purgatório - a Báthory também se perguntava o que diabos havia feito para merecer tamanha penalidade -; cada santo dia parecia-lhe cada vez mais monótono que o outro, e se não fosse pela festa que estava ajudando Dominique a planejar, imaginava que ia morrer de tédio.

- Estão olhando pra mim, querida - Noah se gabou com um sorriso convencido, inclinando levemente o seu maxilar. Parecia estar querendo dar a impressão de ser uma celebridade americana, o que claramente ele não era. - Eu sou demasiado famoso.

- Se você diz. Continue assim e logo logo vai aparecer na Tribuna da Bruxa. - Mihaela fez um biquinho quase debochado, mas não culpava os outros por secarem seu melhor amigo com o olhar; ele era realmente bonito.

A Tribuna da Bruxa era um jornal bastante conhecido no mundo bruxo, que se popularizou entre meados de 1939 e 1945, ou seja, durante a Segunda Guerra Mundial dos não-mágicos. Como os bruxos estavam, desde aquela época, integralmente incluídos na sociedade dos trouxas, muitos deles foram soldados da guerra. E muitos deles perderam a vida nela.

- E menos, Noah, bem menos. Você não é tudo isso - Freya alfinetou, recebendo uma risada do rapaz como sua única resposta.

- Mas tem uma explicação bastante lógica para tantos olhares, pessoal - Dominique pontuou com um sorriso ladino. - O cara mais gostoso dessa universidade está sentado na mesa.

- Não, velho - Drogo discordou, aparecendo de supetão no meio da roda, trazendo consigo o seu sorriso com covinhas arrebatador. - Eu só cheguei agora.

Foi então que, também de supetão, Amybeth Campbell, Thomas Belmont e Amina de Obhrai apareceram diante dos amigos, ambos nitidamente agitados e com expressões nada serenas. Enquanto a ruiva trazia um semblante que se assemelhava bastante ao de um mortal que acabara de se esbarrar com um fantasma, o loiro suava frio e parecia prestes a ter um piripaque ali mesmo. Amina era a mais calma de todas, embora possuísse uma raiva oculta dentro de si.

- Aconteceu algo? - Siegfried indagou, genuinamente curioso, ao notar que ambos provavelmente não iriam dizer nada nada até que alguém os chamasse a atenção.

- Eles chegaram - Nêmesis comentou com Noah. - Drogo, você não leu as mensagens no grupo?

- Não, apenas vim porque você me chamou.

Le Fay e MontreauxOnde histórias criam vida. Descubra agora