XXIII. A Chave de Salomão, de Rei Salomão

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— Quebrar uma maldição não é, obviamente, uma tarefa tão simples — a Diretora Lispect disse. Eles estavam na diretoria. Aquele lugar costumava ser menos sombrio.

Morgana estava certa. Quebrar uma maldição não se tratava apenas de ir lá, lançar um feitiço e pimba. Não era só isso. Não se tratava de um encantamento meia boca, visto que ela havia sido lançada por ninguém menos que uma das maiores bruxas da história. Então, as consequências eram notoriamente inesperadas. E no processo, vidas poderiam ser perdidas.

— Como vamos entrar lá, diretora Morgana? — Drogo indagou, mantendo-se sereno, educado e encantador, ainda que intimamente estivesse a questionar a sanidade mental da Lispect. Ele não confiava nela, mas confiava em sua sabedoria. Morgana era competente, na maioria das vezes. 

— Que boa pergunta — a mulher de cabelos morenos disse. — Vocês bem sabem que a chave de Le Fay está no Conselho da Magia. Nós precisamos nos apropriar dela.

— Você quer dizer roubar? — Kentin indagou.

Morgana deu de ombros.

— Como podemos quebrar a maldição? — foi Nêmesis quem perguntou. 

Morgana pensou e pensou.

— Da mesma forma que se quebraria há alguns séculos — ela respondeu, evasiva. Ela não era, particularmente, uma mentirosa sem escrúpulos. Quando não queria ser franca, entretanto, usava as meias-verdades para se expressar, os subterfúgios, e respondia às perguntas que lhe eram feitas de forma ambígua. — Vocês têm aula agora. Nós nos vemos à meia-noite. Espero que vocês estejam lá.

— Desculpa, eu não entendi bem. Estar onde? — Albertiniz perguntou, sentindo-se confuso com as palavras igualmente confusas da diretora.

— Aqui, é claro — a diretora respondeu e voltou seu olhar para a sua gaveta. Abriu-a, subitamente, e, mesmo que não houvesse nada lá, fingiu tirar alguma coisa invisível. 

Morgana esperou os alunos saírem da sua sala para se acalmar. Não sabia exatamente o que estava fazendo. Ela não sabia o que estava fazendo. Ela não sabia o que estava fazendo!

— Você acha que se pedir “por favorzinho” a maldição vai se auto-revogar? — ouvia as duras palavras de seus colegas de trabalho. — Não! Ela vai destroçar você, os loucos que te acompanharem, a universidade e o mundo bruxo! 

Morgana ria na cara dos que diziam isso.

— Não subestimem eles.

Ela não estava louca. Ela não era louca. Ela era uma pessoa boa — tinha certeza disso, poderia jurar que sim. Tudo que estava fazendo tinha um motivo.

[…]

Drogo fungou o nariz. 

— Acho que estou tendo uma espécie de crise de ansiedade — constatou baixinho, falando consigo mesmo. 

Nêmesis estava na cama de seu irmão mais velho, pensativa demais enquanto encarava o teto do quarto. Em busca de alegria e entretenimento, girou a sua mão e, num movimento gracioso, tornou o teto do quarto completamente transparente, somente para poder ver as nuvens, branquinhas branquinhas, que decoravam o céu.  

— Parece um elefante — apontou para uma nuvem singela no céu. Tinha um formato enorme.

— E aquela parece um dragão — Drogo observou, apoiando sua cabeça no seu próprio joelho. 

 — Não, não — Nêmesis discordou, balançando a cabeça. — Se parece mais com um jacaré, ou um lagarto.

— É que eu estava falando de um dragão-de-komodo — Drogo deu uma risada nasal. 

Le Fay e MontreauxOnde histórias criam vida. Descubra agora