XVII. Todo Dia, de David Levithan

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Morgana já estava sem paciência, preocupada com o rumo que Anaha havia tomado em sua projeção astral. A consciência estava pesada, principalmente por saber que fora ela, Morgana, quem havia a ajudado a ser perder no vazio. Àquela altura, a alma de Anaha poderia estar em praticamente qualquer lugar.

O corpo de Anaha parecia cada vez mais cadavérico, sem vida e sem cor, e tal visão a estava torturando. Morgana precisava fazer alguma coisa para que ela retornasse de onde quer que estivesse e recobrasse à consciência.

A universidade precisava dela mais do que nunca. E Morgana também.

Então, sem alternativa e sem esperanças de que Anaha retornasse a si ainda naquele dia, Morgana levou seu corpo sem alma até a Ala Hospitalar, onde a Madame Froadmine provavelmente poderia fazer alguma coisa para ajudar.

Mas, ao chegar lá, Morgana descobrira que não havia muita coisa que pudessem fazer por Anaha. As coisas não eram tão fáceis.

— Você só pode estar ficando gagá, Professora Lispect — bradava Ariadna Froadmine, indignada pela falta de competência de uma professora até então tão competente. — Onde já se viu, projeção astral em meio à uma…

Morgana levou a mão para fazê-la calar a boca por um momento.

— Acredite, a ideia não foi minha, Madame Froadmine — ela argumentou. — Anaha é quem está ficando gagá. E em minha defesa, eu a alertei sobre os riscos. Ela mesma já estava ciente deles. Mas, como todo e qualquer irresponsável do sol, nossa querida diretora resolveu arriscar e pôr a própria vida em perigo para saber sabe-se-lá-o-que sobre você-sabe-o-quê.

— Não é hora para comentários desse tipo, Morgana — advertiu Ariadna, sentindo-se ofendida por ser do clã solar. — Ela não foi para onde acho que foi, eu espero.

Morgana piscou.

— Ela foi.

Foi o estopim para Ariadna. Até aquele momento, ela estava se segurando.

— Porra, Morgana! — Ariadna Froadmine costumava ser uma mulher muito elegante, pois era uma madame e madames não usavam esse tipo de palavreado. No entanto, a notícia era revoltante demais para ser recebida com classe. Esmurrou a mesa. — O epicentro do Sol da Meia Noite? Pelo amor de Deus.

Morgana fez um beicinho culpado.

— Sei que foi irresponsável.

— Completamente. Completamente!

— O que pode ser feito em relação à Anaha?

— Ela está em coma — falou Ariadna, após um suspiro pesado. — Ainda não se pode presumir nada, mas seu quadro é delicado. Não sabemos o motivo dela estar em coma, nem o que aconteceu no plano astral. O corpo vai ficar aos cuidados da ala hospitalar.

— Mas e a direção da universidade ?

Ariadna sorriu com escárnio.

— Você é do Clã da Lua, não é? E os bruxos da lua sempre têm uma solução para tudo, não têm? Pois então, espero que consiga uma.

[…]

Noah suspirou fundo.

A ocasião pedia silêncio.   

— A maldição? — Nêmesis perguntou, após ele ter dito o que tinha acontecido. As olheiras na face do rapaz a inspiravam pena. Nêmesis estava seriamente preocupada. Dominique sempre fora o alicerce de Noah. Sem ele, Noah não sabia o que fazer.

Era como se tivessem tirado o coração do peito dele enquanto ele ainda estava vivo. O coração continuava batendo, mas estava fora do seu corpo e a sensação de vazio o preenchia de uma maneira que o dilacerava.

Le Fay e MontreauxOnde histórias criam vida. Descubra agora