XXV: O Espírito das Leis, de Montesquieu

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— Às vezes eu penso que nada faz sentido — Drogo tinha falado baixinho. Ele andava meio confuso ultimamente. Nada parecia fazer sentido: quem ele era, como as coisas estavam se desenrolando. Sua mente estava uma bagunça.

Parecia que o mundo estava desabando em sua cabeça. Amybeth geralmente fazia sentido, no entanto. Ela era como um pontinho de luz em meio à penumbra. 

— Apesar de você fazer — ele tinha dito pra ela. — Estamos indo fazer algo arriscado.

— É — ela confirmara. — Estou feliz de estarmos fazendo isso juntos.

— Vai dar tudo certo — Drogo sorriu. — Vamos acabar com toda coisa. Talvez ir pra uma ilha.

— Odeio praia.

A última conversa que eles tiveram juntos. Algo tão banal e despreocupado. 

Drogo era amigável, até certo ponto, mas não era do tipo que se apegava rapidamente. Ele fazia mais o tipo apático ou taciturno. Ele era muito popular, mas era um traço superficial. Ele sabia que era. As oportunidades não surgiam graças à sua vontade ou esforço para criá-las. Era o seu sobrenome que abria portas. Ele nunca precisou batalhar de verdade por nada. Coisas boas simplesmente aconteciam com ele. 

Ele era muito rico, futuro dono de um abastado condado e outras múltiplas propriedades em todos os quatro cantos do mundo. Ele era famoso desde que nascera; o peso de seu sobrenome era gigantesco. Ele era um Báthory. O mundo lhe pertencia; nunca rodava em um sentido contrário ao que ele desejava. Entretanto, no momento, Drogo desejava queimar o mundo. Sua mente conseguia acompanhar todos os eventos, mas não era como se eles estivessem sendo sentidos. 

Pelo menos não da forma que deviam. 

Ele mal saía de uma provação e já entrava em outra. Em momentos de profundo estresse, parecia que um mecanismo específico de seu cérebro responsável por sentir e processar emoções dava folga a si mesmo. Ele, então, se tornava uma crosta de gelo, impenetrável e fria.

As coisas estavam se ajeitando. No entanto, as perdas se somavam e o seu luto era evidente.

Ele nutria sentimentos especiais por Amybeth desde que se beijaram numa sala de poções. Ele não estava exatamente apaixonado — afinal, o amor era algo que se desenvolvia com o tempo —, mas ele poderia tê-la amado muito, sem sombra de dúvidas. Por que não? Amybeth era boa. Doce e altruísta, atenciosa e modesta. Deus, ela era boa em tantos sentidos. 

Ele estava numa agonia sem lágrimas. Sentia que não ser capaz de derramar uma só lágrima por Amybeth era algo inexplicável e incompreensível. Amybeth, com quem ele havia caminhado durante o nascer do sol. Amybeth, com quem ele trocara um beijo apaixonado numa sala de poções. 

Mesmo com tantas lembranças bonitas em mente, Drogo não produzia uma lágrima sequer. Nada de lágrimas, só uma apatia enorme, atormentadora. Nem mesmo a confusão com Morgana havia extraído uma reação decente da parte dele — estava com raiva, mas era só. 

Morgana Le Fay era uma manipuladora sem escrúpulos. Estava enganando a todos desde o princípio. 

Os pontos desconexos deixavam de ser tão desconexos. Benedith Le Fay e Morgana Le Fay não eram irmãs gêmeas: eram, na verdade, a mesmíssima pessoa. 

Depois de ter sido derrotada por Merlin, o grande mago, ela teria fugido para terras distantes, no ínterim em que convenceu Alasgor Montreaux a fundar a Universidade de Artes Místicas com ela e assumiu a identidade de Benedith Le Fay: a suposta irmã gêmea de Morgana Le Fay.

Seguindo os mesmos passos da "suposta irmã", Benedith iniciou sua própria guerra com o co-fundador da universidade. Não que ele estivesse certo também. 

Le Fay e MontreauxOnde histórias criam vida. Descubra agora