"Memento mori" é uma expressão latina que significa, literalmente, “lembre-se da morte” ou “lembre-se que vai morrer”. A mais resoluta e pura verdade da vida: todos vamos morrer, no fim das contas. Uma verdade dolorosa. Inescapável. A única certeza que todos têm nessa vida.
Depois dos últimos acontecimentos, essa alegação tornou-se mais notória entre os alunos. Não, ninguém havia morrido, de fato. Porém, era como se um fantasma rodeasse o lugar, e todos temiam o inevitável. Não importava se seria por uma maldição que ameaça a existência de toda a existência, uma doença ou a velhice, absolutamente nenhum de nós iremos, de fato, viver eternamente.
Houve muito barulho, houve muita confusão. A aparição de Dominique no espelho de um dos corredores da universidade trouxe uma onda de preocupação à escola. Uma das conclusões que se foi possível tomar é que, apesar da quietude trazer um sentimento ruim de noite escura, quando algo acontece e essa “quietude” cessa, a sensação é pior ainda.
A Diretora Morgana Lispect decretara que aquele corredor seria vedado aos alunos. Ninguém deveria passar por lá. Noah não tinha ficado bem com isso e mesmo assim, resolveu desobedecer a restrição. Tinha ficado noites e madrugadas encarando seu namorado, que não dizia nada, e nada, e nada. Apenas o olhava com um olhar frio. Há quem diga que o medo fosse frio. Mentira. O medo queimava. Queimava a pele. Doía, agonizava.
Intimamente, Noah sabia que precisava ser forte. Aquilo, apesar dos pesares, era uma prova de que ele estava vivo. Ele precisava ser forte pelos dois. Acabaria com aquela maldição, custasse o que tivesse de custar, sofresse quem tivesse de sofrer. Noah tinha abandonado sua posição passiva e decidira que iria agir.
Ele lembrou-se de Nêmesis e no que ela falara aos outros. Tal como ele, ela estava disposta a se arriscar investigando. E ele pensou que, com o talento de persuasão de sua melhor amiga, seria fácil convencer os demais a participar de uma pequena loucura.
O coma de Anaha seguia implacável e a direção de Morgana, rígida. As aulas que não considerava essencial tinham sido proibidas. As corridas eram impensáveis. Um toque de recolher fora instaurado na escola. Todos na cama, às oito horas, em ponto.
Os alunos não estavam felizes com as novas restrições. A maioria resolveu fugir da universidade; outros, tinham o aval dos próprios pais. O conselho da magia emitiu uma nota, na qual, dizia que o lugar não poderia mais ser considerado seguro, mas que não se intrometeriam. A imprensa de todo o mundo bruxo atacava com duras críticas a posição do conselho e exigia uma atitude.
Não fizeram nada a respeito. O conselho da magia preferiu fingir-se de surdos e cegos. Alheios a tudo que acontecia, queimaram o bom-senso e enterraram a sua responsabilidade para com a segurança de todos.
A grade curricular também tinha se tornado relativamente limitada.
— Poções, transfiguração, história da magia e necromancia continuam — dissera Morgana aos professores — Antropologia não é essencial. Ecologia e os clubes também não.
— E o que acontece conosco? — perguntou o professor de antropologia, Sylph Amigad.
— Não acontece nada. Estão em hiato até a segunda ordem. Não era você que vivia pedindo por férias?
Morgana, que então assumira o cargo de diretora e conciliava-o como professora, sentia-se cada vez mais frustrada. Antes que fosse afundada pelas trevas que rodeavam-na, ou por seus próprios segredos, acabaria enlouquecendo.
O pior ainda nem tinha acontecido. Tinha sido numa de suas aulas que ela realmente tinha se sentido extremamente impotente. Sua turma tinha doze alunos naquele dia. A sala que já tinha sido lotada e barulhenta, agora estava vazia, praticamente.
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Le Fay e Montreaux
FantasyNa renomada Universidade de Artes Místicas Le Fay e Montreaux, excêntricos bruxos e bruxas desenvolvem suas habilidades místicas, ampliam seus horizontes e evoluem seus dons naturais. Com as portas finalmente abertas, os dias prometem ser perfeitos...