Depois de muito esforço, enfim estava naquela assembleia para recepção dos novos alunos do Colégio Militar Pracinhas, um Colégio de elite onde só os filhos de militar de alta patente poderiam ingressar.
Mesmo com a vantagem familiar, ainda havia uma prova rigorosa e um número de vagas muito limitado, tornando seu ingresso ainda uma vitória a ser comemorada por mim.
A estrutura do colégio incentivava a disciplina e a hierarquia. Além das aulas convencionais, aprenderíamos serviços domésticos (lavar, passar, costura, cozinhar e limpar) além de direitos civis e militares. Tudo com o foco no preparo para a vida em quartel. Até mesmo sua estrutura hierárquica se assemelhava a um.
Os alunos eram como oficiais, cuja patente era definida pelo ano de ensino. O terceiro ano era a elite, os majores, responsáveis, em conjunto aos professores, pela disciplina. Tinham autoridade inclusive de dar suspensão. Os do segundo ano não gozavam de muitos privilégios, uma vez que não poderiam mandar nos do primeiro ano já que as ordens já vinham de cima, do terceiro. Mas era um período para se relaxar, e focar nos estudos. Gozavam de uma imunidade. Uma vez que não tinham a responsabilidade do terceiro ano, nem as exigências do primeiro.
O primeiro ano era a fase de teste de qualquer cadete. Onde seríamos levados aos nossos limites. Meu pai contou que passou por trotes pesados quando estudou lá, e me deu um conselho:
- Tu vê se aprende a manter essa boca fechada lá, hein Fábio - falou enquanto me ajudava a me arrumar - Sei que você talvez não vá seguir carreira, mas é um colégio muito bom. Nível de ensino excelente. Mas a disciplina lá é fundamental
- Eu não sou um bom garoto? - Me fingi de ofendido e ele riu.
- Claro que é, seu idiota - e me deu um leve soco no rosto, carinhoso como sempre fazia - Mas você herdou dois defeitos de sua mãe: Ser esperto demais e ter a língua grande demais.
- Amor, o café está pronto - ouvi a voz de minha mãe no andar de baixo
- Estou indo, meu bem - respondeu com a voz doce
Ao me olhar, viu meu riso e apontou o dedo pra mim
- Cala a boca - e depois riu também e me abraçou - estou orgulhoso, filho
- Obrigado, pai - e o abracei com força.
Acabada a cerimônia, fomos para nosso dormitório. O primeiro ano dormia em um grande alojamento no centro do pátio. Todos os alunos no mesmo. O segundo ano se mudava para o prédio principal, no quarto andar, e ficavam em quartos de dois em dois alunos. Já o terceiro ano reinava no quinto andar, e cada aluno tinha seu dormitório. Chegar ao terceiro ano não era fácil. As médias tinham de ser altas e o colégio tolerava apenas uma única reprovação. Na segunda, já seria expulso. Muitos alunos desistiam logo no primeiro ano, não suportando a pressão.
Aquela seria nossa primeira noite no dormitório. Conversei com alguns alunos, começando a criar vínculos. Em particular, Pedro. O único rapaz negro do primeiro ano. Forte, cabelo curto, encaracolado. Rapaz de bem, bastante tímido. E também Elias, garoto bem boa praça, bem meu estilo. Cabelo encaracolado como o meu, mas loiro. Olhos verdes. Forte também, rosto de anjo.
Naquela madrugada, a sirene tocou e eu pulei da cama, colocando-me em posição de sentido. Meus colegas fizeram o mesmo. Logo após, a porta se abriu e as luzes acenderam. Os alunos do terceiro ano chegaram.
Meu pai já havia me preparado para aquilo. E pelo que pude perceber, os dos demais alunos também.
- Muito bem, soldados - falou o rapaz a frente. Cara alto, quase minha altura, forte, postura impecável. Traços fortes no rosto, olhos e cabelos castanhos, pele morena.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Colégio Pracinhas
RomanceEstruturas são como grilhões, que nos moldam e limitam, mas também podem abrir possibilidades para novas experiências quando as condições ideais são aproveitadas. Fabio ingressou no colégio militar Pracinhas e não imaginava o mundo de aventuras e po...