CAPÍTULO 8 - FAMÍLIA

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Durante a semana que se seguiu, uma questão criava um conflito em meu interior: O que eu deveria fazer com Siqueira? Seria minha ameaça o suficiente para garantir a paz? Ou nesse um ano que lhe resta ele ainda aprontaria alguma coisa? Teria eu que por logo um fim de uma vez e me garantir?

A festa chegou e tudo saiu como nos conformes. Muito bem organizado. Até meu tio Vitor e seu marido Lucas vieram. Meus pais estavam sentados comigo na plateia, antes de eu ter de me retirar para começarmos nossa apresentação. E foi ali, enquanto o diretor discursava, que parte do que ele falou pareceu ser direcionado a mim.

- A vida militar é assim. Se preparar para o que rezamos jamais acontecer. Treinamos. Não desejamos a guerra, mas estamos sempre preparados para ela. Estamos sempre prontos a defender a nós, nossos entes queridos e nosso país. Por isso, quando o dia inevitável do conflito chega, temos de ser implacáveis. Ganhar não só aquela guerra, mas todas as outras que estão por vir. Garantir que algo que nos ameaçou antes, jamais torne a acontecer

Aquelas palavras cravaram fundo em mim. Foi então que, duas filas a frente, vi Siqueira ao lado de um homem alto, cabelos grisalhos. Meu pai o havia identificado pra mim, era o Almirante Ivo Siqueira, pai de meu superior. Não vi alguém que pudesse identificar como sua mãe. Mas aquilo não me importava naquele momento.

Então, fiz minha apresentação e as demais turmas também. Tudo correu muito bem. Lá para os finais do evento, tomei minha decisão e pedi licença para meus país. Fui atrás do confronto final. A ideia vinha sendo arquitetada em minha cabeça ao longo das apresentações. Ia acabar com aquilo de uma vez por todas.

Mostraria o vídeo para o Almirante, e combinaria guardar para mim desde que o filho dele me deixasse em paz de uma vez por todas. O pai não iria arriscar. Não ia querer a imagem da família na lama. E Siqueira teria a lição que merecia. Xeque e mate.

Fui para os fundos do colégio, onde os vi pela última vez. Próximo a um galpão de mantimentos. Iria fazer a curva em torno do galpão quando ouço uma voz grossa dando bronca em alguém.

- Foi para isso que você me tirou dos meus serviços? Para ver uma apresentação de colégio? Francamente Gabriel, esperava que esse lugar tivesse te amadurecido. Mas continua sendo o mesmo maricas quando entrou.

- Sinto muito, pai - era a voz de Siqueira. - eu sei que não gosta dessas coisas. Mas era o centenário dos Pracinhas e eu imaginei...

- Imaginou errado. Sabe o que eu imaginei? Que tinha me chamado porque meu filho ia ser condecorado, alguma medalha. Mas não. Você não me deu esse orgulho e talvez não dê. Você só faz o básico. Nada mais. Não surpreende, não inova. Sempre acomodado. Nunca será um oficial de alta patente com essa postura. Com essa falta de pulso. Com essa falta de criatividade. Francamente, que apresentação foi aquela da turma? Você disse que ficou como responsável. E foi só aquilo que fez?

E a coisa foi continuando. Escutar a voz daquele homem foi me dando um aperto no peito. Não sei se foi o fato de eu ter país maravilhosos e achar inconcebível que alguém trate o próprio filho daquela maneira. Ou simplesmente pela injustiça que era cometida. Pois eu teria de ser justo naquele momento, Siqueira tinha não só tomado a frente da apresentação de sua turma, como basicamente organizou todo aquele evento, ficando como responsável. Lembro que ouvi vários comentários ao longo da semana de professores e alunos falando da atuação dele e como ele foi fundamental para a organização do evento. Não estava conseguindo suportar.

Queria que ele parasse, mas não parava. Aquele homem rancoroso, vil. Em um momento, não consegui mais resistir e saí.

Caminhei em direção a eles. Minha chegada fez o Almirante se calar. Quando Siqueira me viu com o celular na mão, seu rosto gelou.

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