CAPÍTULO 6 - CEDER, SERVIR, OBEDECER

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No dia seguinte, salvei meu precioso vídeo no meu e-mail e na minha nuvem, aguardando o momento em que poderia usar. Esperei, obviamente, o meu dormitório esvaziar, para não acabar esbarrando com um possível alcaguete. Mas talvez essa arma ainda demorasse um pouco para ser usada.

A semana seria agitada, de acordo com as notícias. Pois além da iminência da semana de provas, todo o colégio seria convocado para a festa de centenário do Pracinhas. Que ocorreria em duas semanas. Cada turma seria responsável por fazer uma apresentação artística e patriótica, além de esse fim de semana ficar suspensa nossa ida pra casa, já que o evento seria comemorado no sábado seguinte, e nesse fim de semana iriamos nos dedicar na organização do mesmo. Durante a semana, iniciamos uma grande faxina das instalações. Foi puxado. Estudos, ensaios extras com a banda. Além de um ensaio da marcha que todos os alunos participariam.

Nesse contexto, não tive tempo de pensar em minha Bomba A, e nem Siqueira teve de me atormentar. Então ficamos no zero a zero mesmo. Na quinta, eu e Elias fomos designados para limpar o vestiário dos fundos. O qual estive com Pinheiro dias atrás.

A turma do segundo ano o estava usando, então sentamos nos bancos com nossos baldes e esfregões e esperamos eles acabarem de se banhar para então começar a limpeza.

Eu tinha pouco contato com os alunos do segundo. Esses eram de fato mais reclusos. Não conhecia o nome de ninguém ali. Então, me limitei apenas a uma saudação geral.

Elias e eu estávamos cansados da semana agitada, então ficamos calados mesmo, um ao lado do outro enquanto esperamos.

Fiquei observando os alunos do segundo enquanto isso.

Nem todos os caras que entram no Pracinhas tem alguma musculatura como eu e Elias. A maioria só vai ter uma rotina de atividades físicas aqui no colégio. E o pessoal do segundo ano estava justamente naquela fase que meu pai havia contado, do corpo começar a ganhar a forma de um militar ativo. Um abdômen definido aqui, um braço forte lá, uma bundinha empinada ali.

Olhei para eles se banhando, reparando nessas coisas. Avaliando. Assim como Pinheiro fez comigo na tarde em que estivemos ali. Nunca foi novidade pra mim ficar nu na frente de outros homens. Vestiário, entre meus colegas, exames médicos. Nunca tive problemas com isso. Mas daí, a realmente reparar no corpo, avaliar, assim, descaradamente, sem pudores. Aquilo ainda era novidade. Mas eu estava me acostumando. E ao julgar pelos olhares que os do segundo ano trocavam entre si, era um hábito extremamente comum ali. Elias ainda estava no estágio inicial em que eu me encontrava há pouco tempo atrás. Que não tem problema de estar perto de um homem nu, mas não gostava de olhar diretamente pra um.

Foi então que dois saíram do chuveiro mais cedo que os demais, e vieram para perto de nós.

- Boa tarde, soldado. Dá uma licença, por favor? - Pediu e então eu me liguei que estava no caminho dos armários.

- Pode ficar sentado, só quero pegar minha roupa aqui. - acrescentou

Eu então apenas me cheguei para o lado e Elias para o outro. O garoto ficou entre nós, pica balançando enquanto se esticou e pegou a roupa. Elias virou para o lado o rosto e eu achei graça.

- Vocês são calouros, né? - Perguntou o garoto, enquanto terminava de se secar.

- Acham - respondi, olhando-o nos olhos. De fato não era comum um oficial menor encarar nos olhos um superior naquele colégio. Senti que ele ficou, por um momento, estranho. Tal como Siqueira ficava quando eu o encarava.

- E o que estão achando? Dureza? - Falou enfim, após se recobrar.

- Dias bons, dias ruins. Tento não me queixar. - Falei com simplicidade e sorri. O outro garoto também sorriu.

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