CAPÍTULO 16 - SOBRE MENINOS E HOMENS

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Como eu já estava acostumado, momentos de tranquilidade no colégio Pracinhas eram apenas a calmaria do mar que precedia a tormenta. E assim, entramos no ritmo das provas do segundo bimestre. A rotina alucinada de estudos logo tomou conta de todos nós, de forma que sequer conseguimos comemorar sobre nossa atuação na noite dos cordeiros e lobos.

O que por um lado foi bom também, já que nos poupou de qualquer revanche que pudesse vir. Se bem que, observando bem, não senti mudança no clima entre mim e os majores. Tirando Santos, que me fuzilava com os olhos de vez em quando, os demais agiam normais. Castro se tornou mais próximo. De vez em quando comentava que ia ter troco, quando cruzava comigo no corredor. Mas eu não sentia raiva ou qualquer sentimento negativo em sua voz. Só aquele desejo reprimido o qual eu já estava familiarizado e parecia presente em praticamente todos os alunos dali.

Mas reais ou não, sua ameaça teria de esperar. As provas estavam ali

Todavia, aquela maratona de provas foi mais fácil de vencer do que a anterior. Como prometido, recebi a ajuda de Siqueira nos estudos de matemática, e isso, mais um trabalho extra que consegui negociar com o professor, me colocaram novamente na média. Raspando, mas estava no páreo novamente.

Estava na cantina com Pedro e Elias, conversando sobre nossos planos para as férias de meio de ano que começariam. Por tradição, eu sempre passava uma semana na casa dos meus avós maternos, enquanto meus pais viajavam, aproveitando esse período que coincidia com seu aniversário de casamento. Normalmente, na segunda semana, fazíamos uma viagem breve em família. Esse ano, meus pais chegaram a cogitar não fazer a viagem, uma vez que pouco estávamos juntos devido ao regime internato dos Pracinhas. Mas eu logo descartei:

- Nem pensar. Se tem uma coisa que aprendi aqui, é que tradições são importantes. Vocês precisam dessa viagem. E já pensaram na vovó? Como ela ficaria se esse ano eu não fosse? - Usei esse argumento para convencer minha mãe. Não que eu adore ficar na casa de meus avós. Era calmo demais e eu logo me entediava, mas minha vó gostava e meus país mereciam aquele momento para eles.

Elias iria passar as férias com os tios. E Pedro apresentaria oficialmente o noivo a família. E estava muito nervoso

- Mas seus país não sabem que você é gay? - Elias questionou. - E o Soares não mora no mesmo bairro, então eles devem conhece-lo.

- Claro que sabem. E sim, conhecem o Henrique. Mas daí a saberem que namoramos, não. Até porque, nunca tive ninguém sério. Henrique é o primeiro

- Ah. Que fofo - fiz minha voz mais melosa

- Tão bonitinho. Nosso menino está crescendo - Elias me acompanhou e o rosto de Pedro queimou.

- Parem vocês dois - pediu, quase enfiando a cara debaixo da mesa.

Rimos bastante juntos.

Naquela sexta, as aulas acabaram mais cedo e arrumamos as malas. Os pais de Elias e Pedro os buscaram cedo e eu fiquei no dormitório lendo enquanto esperava. Foi quando Siqueira entrou.

- Boa tarde, Mendes. Estou indo

- Já vai? - E me levantei e apertei sua mão - e quais os planos?

- Eu e minha mãe vamos fazer uma viagem. Um sitio em Campos do Jordão. Vai ser bom pra ela. Descansar, ar puro.

- Que maravilha. E sem seu pai, pelo visto - comentei malicioso.

- Exatamente. Tinha como ficar melhor? - Ele comemorou. - Mas eu tenho que ir logo. Só vim pra me despedir e te dar um recado. O diretor quer te ver.

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