CAPÍTULO 10 - SOLDADO DE CHUMBO

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Olhando superficialmente, pouca coisa mudou após eu abraçar ser um recruta. Continuei cumprindo meus deveres, continuei interagindo com todos no colégio. Siqueira, ou se tornou um homem mais agradável ou eu havia me acostumado a seu jeito mais ferino. Mas novidades me aguardavam.

Ao longo das semanas, recebemos um aviso estranho. Que a 'noite dos cordeiros e dos lobos está chegando'.

- O que diabos é isso? - Elias perguntou, vendo o aviso na porta do nosso dormitório, que amanheceu ali naquela sexta.

- Sei lá - Pedro ficou confuso.

Perguntamos a todos os calouros e ninguém fazia ideia. Deixamos passar, mas a coisa foi ganhando força. Isso porque sentimos que havia uma aura de mistério no ar. Comentei com um professor e ele sabia o que era, mas se recusou a me contar.

De tarde, Pedro veio comentar

- Pessoal, too ficando preocupado. Fui comentar com o Henrique sobre esse lance de cordeiros e lobos e ele disse que não podia me contar. Caramba. Tipo, nós nunca tivemos segredos um para o outro e ele não quis me contar.

Elias entrou no assunto.

- Cara, eu também. Fui falar com o Pinheiro e ele disse que a tradição manda não sabermos até a noite. E não me disse nem que noite vai ser isso.

Eu a princípio não levaria fé, mas também fiquei assim quando naquela tarde eu recebi uma ligação do meu pai e, entre conversa aqui, conversa ali, falei do anúncio que amanheceu em nosso dormitório. O senti desconversar, então insisti. Mas ele foi irredutível.

- Foi mal, filhão. Isso não posso te contar

- Mas que diabos é isso então? - Pedro estava nervoso.

- Eu não sei - desabafei.

Estávamos nós três no pátio, haviam acabado as aulas e estávamos relaxando, sentados no chão e batendo papo. Mas o assunto não podia ser outro. O que seria afinal a noite dos cordeiros e dos lobos?

Mas nosso papo foi interrompido pela chegada de Siqueira.

- Mendes, quando acabar aí, vou precisar de sua ajuda em meu quarto. Estou te esperando, não demora - e saiu, sem mais detalhes. Senti os olhares de meus amigos querendo perguntar algo.

- Assim, mudando de assunto - Elias começou - eu reparei que você e Siqueira estão mais... Amistosos um com o outro

- Verdade - Pedro continuou - Estou pra te perguntar desde aquela noite que você voltou do quarto dele. Quando ele pegou sua prova. Você voltou de um jeito estranho. Nem parecia você. Estava avoado. Perdido. Sei lá

- É cara, fiquei preocupado. Pensei que ele tivesse feito algo contigo - Elias completou.

- Até fez... - Falei meio evasivo. Engraçado, mas aquele assunto me deixou meio encabulado - a verdade é que estamos melhor sim. Resolvemos dar uma trégua

- Que bom - Pedro apoiou a mão em meu ombro. - Fico mais calmo por você. Sem querer ofender, mas briguento do jeito que você é, fiquei com medo da coisa acabar mal.

Eu ri

- Mas conta aí... - Elias se achegou - o que rolou naquele quarto? E seja o que for... vai rolar de novo? - Perguntou maldoso.

Senti meu rosto corar. Nunca tive problemas de falar sobre o assunto, mas naquela hora...

- Não sei. - Apenas respondi a segunda pergunta. - Mas bem, o dever me chama. De noite conversamos mais - e levantei. Em fuga

Me despedi dos meus amigos e fui. Eles ainda ficaram me zoando, dizendo que eu estava indo pro abate. Mandei o dedo do meio pra eles e segui, deixando-os gargalhando pra trás.

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