A Cobaia

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Já faz meses que estou aqui debaixo da terra.

Sendo bem específica, seis meses e quinze dias. Todo esse tempo vivendo dentro dessa maldita cela, embora eu possa me beneficiar vez ou outra de passeios supervisionados e rápidos lá fora. Seis meses em que estou completamente apaixonada pela minha sequestradora e que tenho vivido o relacionamento mais maluco da minha vida, a paixão mais arrebatadora, o amor mais intenso e mais assustador.

No começo, eu estava tão cega por Ivy e por toda a novidade de me sentir assim que acabei ignorando o meu próprio desconforto com essa posição na qual me encontro. Mas a verdade é que nunca deixei de desejar ser livre novamente, como qualquer pessoa normal o faria. Eu sinto falta de poder ir e vir, de ir aos lugares que frequentava antes, de não ter que me contentar com banhos de sol supervisionados como se eu fosse uma maldita prisioneira. Só que a verdade é que agora eu sou. Foi exatamente o que me tornei.

Em seis meses, muita coisa mudou. É um fato. Minha cela está cheia de livros empilhados e distribuídos em prateleiras que Ivy colocou para mim. Ela também fez uma penteadeira e um espelho onde eu me arrumo diariamente com a maquiagem que me concedeu. Eu tenho uma quantidade considerável de roupas levando em conta o fato de que não tenho onde usá-las já que eu basicamente só vivo aqui nesta maldita cela.

Ivy me arranjou um caderno, várias canetas coloridas, lápis de cor, tinta, tudo para que eu pudesse me manter ocupada e distraída. Me disponibilizou todos os tipos de streamings existentes no momento, e qualquer série ou filme que não esteja nos catálogos, ela dá um jeito de me trazer seja comprando o blue-ray ou pirateando pela internet. Seus esforços são notáveis, não tenho como negar isso. Ela faz tudo para me agradar. Não há nada que eu peça que Ivy não faça, exceto me libertar.

Todas as comidas que eu desejo me são trazidas. Sextas e sábados ela traz cerveja e qualquer outra bebida que eu queira. Nós dançamos e filosofamos até sermos vencidas pelo tesão. Nos domingos, geralmente ela me concede mais tempo lá fora. Às vezes a gente pesca com o Bruce ou cuida da sua estufa, embora eu não me sinta tão à vontade por lá por razões óbvias. Mas o que eu mais gosto é de ficar em sua casa. Eu me sinto livre e realmente amada por ela quando Ivy me permite sentar em seu sofá, mexer na sua cozinha, tocar nos seus objetos pessoais. Isso faz com que eu me sinta realmente próxima dela, como se estivéssemos de igual para igual.

Só que nós não estamos.

Enquanto eu for sua prisioneira, nossa relação será de poder. E quem o detém é ela.

Temos discutido muito por causa disso. Sou insistente quando quero algo. Pamela até tenta fugir do assunto, acha que pode me enrolar com sua lábia ou com seus beijos viciantes, mas eu estou determinada a sair daqui. Não porque eu quero fugir de seus braços; ao contrário. Minha intenção é nunca mais sair deles. Eu amo Ivy de todo o meu coração, eu aprendi a amar cada parte dela e hoje consigo entender a sua cabeça de uma tal forma que a deixa chocada, porque ela nunca pensou que alguém fosse compreendê-la assim. Mas me recuso a continuar sendo uma escrava igual as outras.

— Quando você vai me libertar? — pergunto.

Acabamos de foder. Estamos deitadas na minha cama. Eu acabei de acender um cigarro. Depois de muita insistência, consegui fazê-la me permitir fumar, já que Pamela era contra por causa das enormes chances de isso me trazer um câncer.

— De novo esse assunto?

— Você sempre evita falar a respeito, sou obrigada a insistir.

Ela rosna como um cão bravo, empurra os lençóis e se levanta nua da cama.

— Eu não sei porque você insiste nessa conversa, Harley. A sua teimosia me irrita demais às vezes.

Fico observando sua bunda perfeita enquanto ela pega suas roupas do chão e se encaminha em direção ao sofá. Pamela veste a calça de moletom sem nada por baixo e depois uma regata branca.

A Caçadora [harlivy]Onde histórias criam vida. Descubra agora