A Vítima

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"Ei

Eu sou a sua vida

Sou eu que te levo lá

Ei

Eu sou a sua vida

Eu sou o único que se importa

Eles

Eles traem

Eu sou seu único amigo agora

Eles

Eles trairão

Comigo você sempre poderá contar."

Estou tão confusa agora que não sei se isso tudo é um sonho, uma alucinação que minha cabeça chapada criou. Mas, independente do que seja, eu não quero que acabe, porque apesar de haver um cadáver caído bem aqui do lado e eu estar coberta de sangue, a felicidade que sinto por ter retornado aos braços de Ivy - seja de verdade ou não - é gigante.

Só consigo me lembrar que há poucas horas estava sozinha na livraria e tive a sensação de ser observada. Torci para que fosse Ivy e quando recebi seu bilhete eu confirmei minhas suspeitas, mas em momento algum ela apareceu para mim, o que me deixou chateada e me fez aceitar esse convite louco de ir à uma balada e depois para essa festa na casa de alguém que nem conheço.

Estou bêbada e chapada, meu raciocínio é lento e rápido ao mesmo tempo, como se duas coisas excludentes pudessem acontecer na mesma hora, dentro da mesma cabeça, o que me dá a sensação de que vou explodir. E eu meio que explodo, já que estou chorando feito doida. Então começo a rir ao mesmo tempo, tendo a certeza de que realmente exagerei nas drogas.

Ivy pisca devagar enquanto me encara de sobrancelhas erguidas. Apesar das roupas pretas que lhe dão um ar de assassina sanguinária que sai à noite para caçar (o que não deixa de ser algo verdadeiro), ela está bem sexy com os cabelos bagunçados após tirar o boné, o rosto com respingos de sangue, os lábios mais arroxeados que o normal, os olhos faiscando para mim. Ela parece estar cheia de adrenalina assim como eu. Mas quem não estaria depois de matar alguém?

— Você está aqui mesmo ou eu estou sonhando?

Ela gargalha, com uma expressão de quem desacredita do que ouve.

— Eu estou aqui, Harley.

— Não sei se acredito nisso. Usei drogas demais.

— Isso é verdade, você usou. — não parece contente por isso. — Mas eu estou aqui, sim. Me toque de novo.

Eu o faço, apertando seus braços musculosos por cima do moletom, subindo até seu rosto quente, tocando-a com certo desespero. Então eu beijo seus lábios com vontade várias vezes e encosto as nossas testas.

— Eu senti tanto sua falta que ainda não sei se posso acreditar que estamos juntas agora, ainda mais nessas circunstâncias... — suspiro em seus braços.

Ela me aperta com força e me puxa, fazendo nós duas ficarmos de joelhos sobre a cama e nossos corpos extremamente colados. Ivy não parece preocupada com o cadáver no chão, com o sangue em nossas roupas nem nada do tipo. E, sinceramente, eu também não dou a mínima. Talvez se eu estivesse sóbria já teria surtado e vomitado, mas...

— O que tenho que fazer para provar a você que sou real e estou aqui? — sussurra com aquele tom de voz que me arrepia da cabeça aos pés. Estrategicamente coloca a mão direita em minha nuca, por baixo dos cabelos. — Eu vim atrás de você, Harls.

— Veio me salvar... — meu coração dispara e sinto que estou lhe encarando como uma idiota apaixonada. — Veio me levar para casa?!

— Sim, eu vim.

A Caçadora [harlivy]Onde histórias criam vida. Descubra agora