A Vítima

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Estou lidando com uma psicopata de alto nível. Disso estou certa.

Só não estou certa do quão perigosa ela é.

Pamela Isley sequestra mulheres metodicamente igual fez comigo e as mantém refém aqui nesse lugar esquisito. É uma das poucas coisas que sei. Também sei que ela já fez isso com homens, o que me dá mais medo, já que isso só prova que além de muito inteligente, Pamela também é bem forte. Se bem que já pude comprovar isso nas duas vezes em que cometi o erro de atacá-la. Sua força física é algo impressionante.

Eu sei muita coisa sobre psicopatas porque é um tema que sempre me atraiu. Inclusive estava fazendo uma pesquisa acadêmica sobre seriais killers, o que chega a ser irônico, se não fosse muito trágico sob minhas atuais circunstâncias.

Posso afirmar uma coisa: ela não é uma maníaca impulsiva e desorganizada, embora seus instintos sejam visivelmente incontroláveis. Ivy é metódica, dedicada e cuidadosa. Provavelmente não deixa nenhum rastro, o que torna impossível às autoridades encontrarem suas vítimas.

Chegar nessa conclusão me causa calafrio.

Estou deitada de olhos fechados há algum tempo. Precisava ser convincente para ela acreditar que estou dormindo. Só tenho coragem de abrir meus olhos quando ouço sua respiração pesada e ritmada ser o único som do quarto, porque até meu coração disparado parece ter se silenciado.

Me sento devagar e olho em sua direção.

Ivy dorme de barriga para cima com as mãos cruzadas sobre o abdômen. A serenidade em seu semblante não indica que essa mulher é capaz de sequestrar, torturar ou até mesmo estuprar e muito menos matar alguém. Na verdade, olhá-la assim dá uma falsa impressão de que ela é indefesa, coisa que sei que é a última coisa que de fato ela é.

Não posso presumir que Pamela seja estupradora ou assassina. Presumir qualquer coisa na minha situação seria um grande erro. Mas o que posso esperar de alguém que construiu uma prisão debaixo de sua casa para manter pessoas aqui com ela com o objetivo de "conhecê-las"? É uma insanidade total. Mas também não posso resumi-la à louca. Um louco não teria tanta destreza para fazer o que ela faz. E Pamela têm total consciência de seus atos.

Dizer que não estou com medo seria mentir. Sinto medo dos fios dos cabelos até os dedos dos pés. Porém sinto outra coisa também. Uma curiosidade quase que irracional de me aproximar da minha carrasca e conhecê-la. E fazer isso é o mesmo que dizer que concordo com o meu sequestro e seus métodos nada ortodoxos de relacionamento.

Acho que estou ficando louca também e não faz nem uma semana que estou aqui. Preciso preservar minha saúde mental se quiser sobreviver, mas é difícil fazer isso quando não posso nem respirar ar fresco. Pelo menos tenho os meus remédios e agora posso assistir a filmes, séries e desenhos. E pelo visto eu ganharei sempre livros para ler e talvez mais algumas regalias.

Fico me perguntando se Pamela fez o mesmo com as outras. A ideia não é agradável.

Sendo sincera, nunca fui muito de sair. A companhia das pessoas não me atrai. Geralmente gera o efeito contrário e a culpa disso é dos meus pais, que mais do que ausentes sempre foram cruéis comigo e me mostraram o pior lado da espécie humana. Talvez daí eu tenha pego tanta aversão. Aversão e medo.

Do ponto de vista financeiro, não posso me queixar de nada. Não apenas nunca passei fome como também tive quase tudo que o dinheiro pode comprar. Roupas de marca, aparelhos eletrônicos de última geração, acesso à educação de primeira qualidade, viagens internacionais... nada me faltou. Aliás, acho que tive tudo isso em excesso. Um excesso que esconde uma enorme falta. Falta de afeto, porque nunca tive realmente uma família. Mas não quero pensar nisso agora.

A Caçadora [harlivy]Onde histórias criam vida. Descubra agora