A Vítima

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Escolho um clássico que eu amo: O Massacre da Serra Elétrica.

Fico ansiosa esperando Pamela voltar. Como se isso fosse um encontro. É tão bizarro, mas não consigo evitar. Deve ser porque eu nunca tive um encontro de verdade com ninguém. Eu nem saberia como. Sou muito desengonçada.

Ela volta com um balde cheio de pipoca amanteigada, dois copos plásticos enormes cheios de coca-cola, além de uma sacola cheia de chocolates. Kit-kat, twist, hershey 's, maltesers. Só os meus favoritos. A desgraçada realmente me "pesquisou" bem, se é que posso colocar dessa forma.

Às vezes acho que Ivy quer me conquistar.

Ainda tenho dúvidas sobre suas pretensões comigo, porém desconfio que sejam de cunho sexual. Não só pelo flerte que tivemos, porque isso poderia ter sido só encenação para me enganar e me trazer para cá. É que toda a energia que Ivy exala é sexual, mesmo que ela se mantenha quieta e atenta com esse olhar felino para mim. Às vezes ela me olha como se fosse me devorar e isso me deixa tão excitada quanto aterrorizada.

Eu só queria sair correndo daqui, fugir para bem longe das garras dela, mas como isso não é uma opção...

— Escolheu o nosso filme? — pergunta com um sorriso polido.

— Sim.

— Ótimo.

Ela senta no sofá ao meu lado, coloca o balde e a sacola entre nós e me entrega um dos copos. Estamos há poucos centímetros de distância, o suficiente para que o seu cheiro amadeirado e com notas de pimenta preta cheguem às minhas narinas.

Eu poderia facilmente trabalhar no ramo de perfumaria, porque tenho memória olfativa muito boa. Sei identificar as notas dos perfumes. É algo que me agrada muito, e Pamela tem um cheiro excepcional.

— O Massacre da Serra Elétrica? — me olha ainda sorrindo quando vê qual filme escolhi. Parece excitada com minha seleção. — Boa pedida.

— Eu gosto de sentir medo. — deixo escapar este segredo.

Suas sobrancelhas arqueiam e seu olhar para mim é mais interessado do que antes. Um sorriso muito maldoso cruza seu belo rosto e eu sinto que falei demais, um maldito defeito que não consigo controlar.

— É mesmo? Interessante informação, Harley.

Não a respondo, apenas encolho meus ombros.

— Posso dar play?

— Sim.

Eu o faço, o filme começa.

Enquanto assisto a uma história que já conheço bem pela quantidade de vezes que vi, fico pensando em como não há nada de fictício sobre O Massacre da Serra Elétrica ou qualquer outro filme de terror trash.

Pessoas violentas e com mentes sombrias dispostas a sequestrar, torturar e matar existem e estão à solta, muitas vezes camufladas em nossa sociedade como vizinhos sorridentes, entregadores de carta, professores universitários, médicos e todos os tipos de profissão. É muito difícil identificá-los, porque nem todos vêm com esse aspecto de monstro tal qual o Leatherface. Acredito, aliás, que a maioria é como Pamela Isley.

Sinto um calafrio que gela cada parte do meu corpo e me faz me encolher no sofá. Pamela percebe.

— Está com frio?

Nego com a cabeça.

— Se enrole na coberta. — sugere. — O tempo esfriou mesmo hoje.

— Eu estou bem. — digo meio grossa, mantendo meus olhos fixos na tela da televisão no alto, tentando ignorar sua presença intimidadora.

A Caçadora [harlivy]Onde histórias criam vida. Descubra agora