A Caçadora

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Claro que as coisas estavam indo bem demais, rápido demais.

Confesso que estava sentindo falta da "emoção" que só Harley consegue trazer quando seu humor oscila. Não que eu não estivesse gostando do nosso entendimento e das outras emoções mais... Doces, por assim dizer, que ela me causa. É que eu acho divertido e rejuvenescedor o que ela consegue despertar em mim quando surta desse jeito.

Eu não imaginei que Harley fosse querer falar sobre Kaya. Eu nem me lembrava de ter citado o nome da desgraçada para ela. Foi um erro gravíssimo meu. Nunca se deve falar o nome de uma cobaia para a outra. Mesmo que, neste caso, Harley seja muito mais que uma cobaia. Ela é imprevisível, temperamental e ciumenta, então eu deveria saber que isso poderia acontecer eventualmente. Um surto de ciúmes.

Ciúmes.

Harley tem ciúmes de mim.

Quando alguém sentiu ciúmes de mim antes?

Nunca.

Isso me faz sorrir internamente, mas me controlo para não sorrir de verdade, porque preciso ser séria e firme com ela para que Harley entenda que nem Kaya nem ninguém significam nada em minha vida.

Não gostei da parte sobre eu querer matá-la. Às vezes Harley ultrapassa todos os limites. Ela ama me testar. Deve ser porque não tem nem ideia do que eu sou capaz de fazer, mesmo eu tendo lhe confessado os meus crimes.

Eu não quero ser uma pessoa horrível. Porque eu sei que apesar de gostar de mim, ela ainda luta com a ideia de que sou capaz de matar e fazer outras coisas que sua mente julga errado. Sei que Quinzel trava uma batalha interna diária para aceitar o fato de estar apaixonada por alguém como eu, e embora eu não tenha a pretensão tola de querer ser outra coisa além do que sou, muito menos de começar a achar que minhas ações são erradas, eu pretendo melhorar o máximo possível para não decepcioná-la e muito menos perdê-la.

Não quero ferir Harley. Não assim. Não a ponto de fazê-la querer partir. Não posso cometer os mesmos erros que cometi com Kaya. Até porque, diferentemente dela, eu sei que Harley está sendo sincera comigo. Eu vejo isso em seus olhos, eu sinto isso em seus beijos.

Se bem que houve uma época em que vi a mesma coisa nos olhos azuis de Scodelario... Maldita seja!

Percebo que Harley recua depois de me ouvir. Não parece mais furiosa nem decidida a partir. Na verdade, por quase dois minutos ininterruptos, parece sem reação.

— Você está falando sério? — pergunta, piscando devagar.

Me levanto do sofá e caminho em sua direção em passos decididos. Eu a vejo estremecer sem conseguir se mover.

— Me diga você. Olhe nos meus olhos e fale se acha que estou mentindo.

Invado seu espaço pessoal, mas não a toco. Eu a encaro sem piscar com os olhos praticamente arregalados. Eu vejo sua imensidão azul, o medo misturado com a esperança de que eu esteja sendo sincera. Vejo o brilho do desejo e sei que Harley quer mais do que tudo ficar comigo.

— Merda, Ivy! Por que você tem de ser assim? — resmunga, lamentando com uma expressão de quem foi derrotada.

— Assim como?

— Tão fodidamente perfeita.

Começo a rir ao ouvi-la, é mais forte que eu.

— O que foi? — ela pergunta, abrindo um sorriso.

De repente o clima muda completamente, como se a tempestade de antes sumisse dando espaço ao Sol mais intenso possível.

— Eu não sei lidar com você, Harley. Sério. Você é imprevisível. "Fodidamente perfeita" foi a coisa mais engraçada e louca que você poderia ter me dito... — admito entre risadas, passando a mão em meu rosto. — Achei que fosse mandar eu me foder e me bater de novo.

A Caçadora [harlivy]Onde histórias criam vida. Descubra agora