A Vítima

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Estou prestes a perder a coisa extraordinária que desejei a vida toda.

Eu deveria estar feliz com a possibilidade de ser liberta e retornar a minha vida, mas a ideia só parece me aterrorizar.

Desde que Pamela saiu por aquela maldita porta, me deixando aqui sozinha com tantos pensamentos inconvenientes e com a agonia de não saber o que acontecerá a seguir, não consigo fazer nada nem pensar em outra coisa senão o fato de que vou perdê-la.

Mas que merda eu estou pensando? Perdê-la? Como se Ivy me pertencesse. Como se nós duas fossemos algo a mais senão sequestradora e cativeira. Que coisa mais absurda a se pensar. E no entanto é o único pensamento fixo que se mantém na droga da minha cabeça.

Um pequeno filme começa a passar pela minha cabeça.

Me vejo na balada sendo abordada por Ivy e como me sinto à vontade diante dela desde aquele instante, sem sonhar com as consequências de que aceitar seu convite me trariam.

Tirando o primeiro momento de surto ao ver que fui sequestrada e que estava numa maldita cela, meus sentimentos ficaram confusos muito rapidamente em relação à ela. Tudo porque Pamela tinha um comportamento contrário ao que se poderia esperar de alguém na sua posição. Porque é ela quem detém o poder. Nossa relação é desigual e eu estou sob o seu jugo para que Ivy faça o que bem entender comigo. Mas desde o início ela parece se importar mais com os meus desejos do que com os seus próprios.

Não quero defendê-la. Eu sei que a maldita tem sérios problemas na cabeça, que provavelmente sequestrou, estuprou e até mesmo matou todas as pessoas que vieram antes de mim. Só de pensar nisso tenho vontade de vomitar e sinto calafrios. Porém não posso negar que vejo algo de muito humano em Pamela e na forma como ela me olha e em como parece genuinamente se importar comigo. E isso me toca profundamente.

Eu nunca tive ninguém que realmente se importasse. Nem meus pais se importaram comigo. Mas agora havia alguém que sabia tudo sobre mim, e que queria saber cada vez mais. Alguém que se preocupava em me manter feliz, que realizava todos os meus desejos dentro das possibilidades dessa minha nova "realidade".

Neste filme que se passa na minha cabeça, vejo como Ivy me olha todas as vezes em que estamos juntas e como parece se controlar mesmo nos momentos de maior raiva quando eu a agredi para não me ferir de volta.

Ela me contou sobre Bruce, seu amigo. Foi sincera todas as vezes em que eu pedi. Ou pelo menos foi o que aparentou. Não sei se devo acreditar realmente em tudo o que Pamela me disse. Não depois de saber que ela me observava a partir de uma câmera escondida. Quem diabos faz algo assim?

Bom, eu não deveria ficar tão indignada com a câmera se praticamente ignoro o fato de ter sido sequestrada por ela e permito que Ivy se aproxime de mim. Parece uma grande hipocrisia. Mas eu odeio invasão de privacidade, por isso mesmo quebrei a câmera, tacando-a no chão e pisando em cima logo após sua saída.

Estou constrangida em pensar que Pamela me viu pelada várias vezes, inclusive que me viu me masturbando. Maldita pervertida e presunçosa! Mas ela tem razão sobre tudo, inclusive sobre mim. Sou uma garotinha patética que se rendeu aos encantos da sequestradora gostosona. Sou pirada da cabeça porque nunca recebi afeto dos meus pais e por isso estou aqui, presa debaixo da casa de uma maluca.

Já faz horas que Pamela se foi e não voltou nem para trazer outra refeição. Não que eu me importe com isso. Não sinto a menor fome diante de uma circunstância dessas, mas eu preciso vê-la novamente. Preciso saber que não serei abandonada aqui embaixo para morrer sozinha.

O que mais me preocupa é a ideia de não vê-la novamente. Eu nem ligo tanto com meu futuro, se vou viver ou morrer. Acho que nunca liguei para isso, não até ter sido trazida para cá.

A Caçadora [harlivy]Onde histórias criam vida. Descubra agora