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Pov. Nico di Ângelo

Mergulhar nas sombras sempre me deixou excitado e feliz, mas não hoje. Deixar Will foi, de longe, a coisa mais difícil que eu tive que fazer em toda a minha vida. Vê-lo chorar me implorando pra ficar, mesmo que isso significasse nunca lembrar do nosso início me fez amá-lo ainda mais. Eu não poderia correr o risco de perdê-lo ou vê-lo machucado, permitir que ele viesse era um risco alto demais, que eu não estou disposto a correr.

Pensei no castelo do meu pai e desejei que toda a escuridão me levasse ao reino dele, quando senti o vento frio se dissipar tive a certeza que havia chegado. O mundo inferior permanecia do mesmo jeito, almas, muitas almas perambulavam juntas em várias direções enquanto seguiam seus caminhos, Cérbero latia e rosnava pra qualquer um que tentasse mudar de rota, o calor característico do local deixava uma camada fina de suor na minha testa e as fúrias sobrevoavam todo o pátio se certificando que nenhuma alma escapasse da sua condenação.

– Meu senhor. – Alecto me cumprimenta se curvando.

– Fúria. – Digo. – Onde está meu pai?

– Nosso senhor está em seu castelo, creio que deve estar jantando com a lady Perséfone.

– Obrigado. – Respondo e caminho na direção do enorme castelo a minha frente.

Observo a construção a minha frente enquanto caminho, o mundo inferior não era tão assustador quanto se imagina, pelo menos não para mim. O Castelo do meu pai era todo decorado com pedras preciosas, sua estrutura era de obsidiana e ouro, havia um rio que margeava o castelo e um enorme jardim cultivado pela minha querida madrasta.

Entro na sala gigantesca e vazia sabendo que meu pai tinha total consciência da minha presença aqui. Depois de atravessar a sala, caminho por um corredor com as paredes cheias de quadros de mortes terríveis, exceto por um porta-retratos que chama minha atenção. Paro imediatamente ao ver duas crianças sorrindo na foto, Bianca estava com um vestido branco e parecia ter por volta de seis anos, ela segurava um bebezinho nos braços que eu julgo ser eu com uns dois anos de idade, as duas figuras eternizadas na imagem sorriam parecendo muito felizes. Aquela foto não estava ali na última vez que vim nesse lugar.

– Maria adorava fotografar vocês dois. Ela amaria toda a tecnologia que temos hoje! – A voz do meu pai surge de algum lugar no final do corredor.

Se fosse há alguns anos atrás eu teria me assustado, mas agora a figura dele não me parece mais tão horrível assim. Talvez eu tivesse me acostumado a ser filho do deus do mundo inferior ou talvez eu tivesse percebido o quanto me pareço com ele.

– O que o tráz aqui, meu filho? – Ele pergunta e aponta para o seu escritório numa espécie de convite.

Caminho com ele até a porta alta no final do corredor a direita e entro no cômodo escuro.

– Preciso da sua ajuda, pai.

Os olhos de Hades se arregalam minimamente com a minha declaração. O homem de terno negro senta na poltrona de couro da mesma cor e indica o sofá para mim. Sento observando meu pai erguer uma sobrancelha negra enquanto me analisa.

– Me sinto honrado, meu filho. Acho que em quinze anos essa é a segunda vez que você me pede ajuda. Algum problema com o filho de Apolo?

– Como você sabe?

Meu pai dá um meio sorriso assustador, diga-se de passagem, e eu me pergunto se quando sorrio fico mais parecido com ele.

– Ah meu filho querido, conheço você mais do que imagina. Você jamais viria até o meu reino pedir algo para si mesmo. Você sempre foi muito orgulhoso, mas também muito altruísta. Ainda lembro o quanto você me atormentou para ajudar meu sobrinho menos favorio na guerra contra Cronos.

Sempre foi vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora