Capítulo 2

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Acordei com um barulho leve de uma campainha, abri a porta e uma garota igualmente jovem e muito bonita sorria. Trazia consigo uma prancheta e usava um jaleco branco, perfeitamente engomado como o médico usava.

- Bom dia minha Vitória! Eu sou a Joana, técnica em nutrição, tudo bom? - Sorri de volta também, mas sem conseguir proferir nenhuma palavra, apenas balancei a cabeça. Posso entrar?

Uma mulher bonita daquela e aparentemente inteligente? Ela podia tudo! Dei espaço pra ela entrar, e ela sentou-se numa cadeirinha, sentei na cama e percebi que a porta acabou se trancando sozinha.

- Bom, pode deitar se você quiser, caso se sinta cansada. - Ela sorriu - Eu vim aqui te trazer esse questionário aqui pra saber o que você gosta de comer.

- Eu, no momento não tô gostando de comer nada.

- Sabemos da falta de apetite, mas antes de tudo acontecer, não tinha nada que você achasse especial? Algo que te chamasse atenção, que você ficava animada só de saber que ia comer?

Essa pergunta me fez lembrar de tempos felizes, de idas a restaurantes e e brincadeiras sobre a quantidade de comida que eu e os meus amigos comiam.

- Naquela época eu gostava de comer muitas coisas.

- Então, pense em como você é de verdade, certo? Prefere que eu preencha ou você? Sei que os dedos estão um pouco inchados.

- Mas dá pra escrever. - Ela me entregou a prancheta e comecei a ler as perguntas, na verdade era um questionário simples, assinalei as opções que me eram viáveis e relatei um pouco sobre a minha falta de apetite. Entreguei o formulário para ela que analisou minuciosamente as minhas anotações.

- Comeu algo hoje, Vitória?

- Tomei meio copo de leite com achocolatado.

- Iremos preparar o seu almoço, trarei pontualmente as suas refeições. - Ela sorriu. - Bom, vou deixar você descansando, talvez outros colegas meus apareçam para te incomodar.

- Tudo bem, é bom um cárcere privado animado.

- Você vai amar os seus dias aqui, confie em mim. Temos streamings e acesso a internet. Apenas aproveite.

Ela saiu e novamente a porta se trancou sozinha.

Peguei novamente os folhetos na minha bolsa, já que eu tinha livre acesso a internet, joguei no buscador o nome do instituto. A foto do doutor Fernando aparecia bastante, acabei caindo no currículo Lattes dele, tinha tanto curso, tanta palestra dada por ele, prêmios. Parecia incrível como um jovem tinha tanto prestígio e conquistas.

Acabei por assistir um vídeo onde uma ex paciente do projeto contava os benefícios do seu tratamento. Ela sorria o tempo todo. Ela era uma paciente terminal de leucemia e entrou no projeto antes de realizar o transplante de medula. O transplante foi realizado com a equipe do doutor Fernando e teve uma recuperação acima do esperado. Os cabelos cresceram de forma rápida e a recuperação foi muito boa. Em menos de 3 meses ela já estava apta para voltar ao trabalho e estava a 10 anos sem problema nenhum na vida dela.

Era justamente aquilo que eu queria. Ser saudável novamente, poder trabalhar e ter sonhos que seriam potencialmente reais. Uma vida menos vazia e mais animada. Tudo que eu precisava naquela fase de incertezas na minha vida. Acabei por ver outros relatos de pacientes que deram certo e de outros que ainda estavam em tratamento. Ali eu estava decidida, precisava daquilo, era uma chance, era vida ou morte.

E sinceramente, eu preferia morrer tentando do que morrer sofrendo e ocupando a vida dos meus pais.

Como era o esperado, a campainha soou novamente, pelo jeito o meu dia realmente seria muito animado, fui até a porta e me deparei com o rapaz negro de mais cedo, ele carregava consigo uma maletinha e vestia um jaleco também perfeitamente engomado. De perto ele parecia mais bonito, o sorriso era impecável e as feições do seu rosto pareciam milimetricamente desenhadas. Mais uma vez fiquei sem palavras para tanta beleza, particularmente naquele homem.

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