Já era o meu quarto dia e de uma certa forma eu me sentia melhor, talvez como diziam por aí, a esperança também curava. De certa forma, só de pensar em estar bem num futuro próximo, eu dormia feliz, acordava feliz. Tudo era uma questão de objetivos, eu queria ser um bom objeto de estudo e precisava provar isso.
Os exames tinham se intensificado, mas eu não me incomodava, tinha feito de RX a tomografias, exames diários de sangue, urina, fezes. Se bobear até os lençóis que eu usava eram examinados. Não tinha pra onde correr, de um jeito oi de outro iríamos saber o que estava maltratando o meu corpinho. De bônus eu ainda tinha feito amizade com o João, certo, isso era feio, mas eu não podia negar que estava feliz em ter ele por perto.
Os meus pais faziam ligações de vídeo regularmente, mas eu não contava a eles tudo que acontecia ali e nem contei sobre a possibilidade de eu ser um ratinho de laboratório e nem da possibilidade de me curar. Eu tinha tanta certeza sobre o sucesso do tratamento que só pensava em aparecer saudável e abraçar os dois. Depois eu iria reaver o meu trabalho e talvez esfregar na cara de algumas pessoas que eu sobrevivi.
Coletei a minha urina e as fezes e coloquei as amostras na caixinha destinada a elas. Tomei um banho rápido e coloquei um roupão limpo. Em alguns minutos eu sabia que o meu Biomédico preferido iria aparecer. As dores estavam fortes mas eu iria aguentar um dia, eu precisava aguentar.
O som da campainha fez o meu coração pular, deitei na cama pois as dores realmente estavam me matando e eu precisava estar com uma cara menos feia. Apertei o botão e tentei fazer uma cara relaxada.
- Bom dia! Que cara de dor é essa? - O meu teatro tinha falhado.
- Acordei um pouco estranha, as minhas articulações estão me matando.
- Vou pedir pra alguém vir te examinar, ao menos pra te medicar.
- Eu já tomo remédio para dor, se você não se lembra.
- Me refiro a algo mais forte, Vitória.- Ele sorriu. - Bom, vou deixar o meu material aqui e vou pegar uma medicação para você e vou administrar.
Ele estava levantando quando senti a minha voz saindo antes do meu pensamento.
- Por que você me trata tão bem? É o seu jeito ou tem algo?
- Eh... Bom, eu gosto de cuidar de você.
- Não venha com esse assunto de novo que eu fui gentil e não sei o que. Você tem pena de mim ou lá no fundo vc sabe que já estou próxima da morte?
- Vitória, eu não tenho pena e não acho que voce esteja morrendo ou próxima disso. Que loucura. Apenas gosto de cuidar de você, só isso. Não me entenda mal.
- Perdão, fui indiscreta. As vezes as pessoas são tão irritantes que acabo descontando em quem não precisa.
- Tudo bem Vitória. Vou atrás de algo que alivie a sua dor.
E ele deu as costas. Será que eu tinha estragado as coisas? Como eu fui burra! Uma das poucas coisas boas dali e eu estava afastando por ser idiota. O meu coração só batia batia batia e as dores deram lugar para a ansiedade. Fiquei ali minutos e minutos olhando para a porta, no medo de outra pessoa aparecer ali para cuidar de mim, seria uma catástrofe pois as minhas veias já estavam tão acostumadas a ele. Ouvi o som da malvada campainha e liberei, fechei os olhos para não me decepcionar. Mas a voz, me acalmou e aos poucos o coração foi acalmando, acalmando.
- Ué, dormiu moça?
- Não, meio que eu fiquei, é... com medo de você mandar outro no seu lugar.
- Eu disse que gosto de cuidar de você Vitória e não é por pena.
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Tratamento de Risco
RomanceA grande procura pela cura da sua doença faz a Vitória aceitar algumas situações para se livrar da dor e dos sintomas que pouco a pouco faziam a sucumbir. Mal sabia que o possível sonho da cura poderia mostrar um caminho tortuoso, cheio de novidades...