Capitulo 10

42 3 53
                                    

- Você não acha que precisa descansar filha? Tem certeza que já quer se arriscar hoje?

- Pai, eu tô bem, fique tranquilo. Me sentir útil também faz parte do tratamento.

- Eu posso te arrumar um emprego na loja, assim posso te supervisionar.

- Pai, não! Eu já disse que estou bem! Eu sei que eu voltei ontem, mas acredite em mim, eu quero seguir a minha vida da melhor forma possível.

- Eu ao menos posso levar você ao trabalho como nos velhos tempos?

- Claro pai! - Ele deu um cafuné na minha cabeça.

Sentei a mesa para tomar café, o João estava certo, a comida não tinha mais o mesmo sabor, eu sabia que estava saborosa mas eu não me sentia tão incentivada a comer como antes, pelo menos as coisas doces ainda eram doces e isso me atraia de mais.

Eu tinha um encontro, UM ENCONTRO, eu tinha convidado a Clara para ir, mas ela disse que não iria de jeito nenhum. Então seria eu e ele, sozinhos. Não sei se ele enxergava as coisas como eu estava enxergando, mas eu estava disposta a tentar, conhecer ele, demonstrar interesse. Tudo sem parecer invasiva ou desesperada.

Entrei no carro e o meu pai colocou um rock antigo que preenchia o silêncio do carro. O caminho familiar me trazia sensações engraçadas, já teve um passado que aquilo era a minha rotina. Chegando no prédio ele beijou a minha testa e me desejou boa sorte. Entrei no local familiar e não demorou pra uma pessoa me reconhecer e fazer comentários como "caramba, você voltou!". Nunca me senti tão sufocada em um elevador.

Cheguei no andar da empresa e me anunciei na recepção. Por sorte a moça era nova, o que me poupou mais comentários idiotas. Aguardei um pouco sentada e me perguntei se a Clara já tinha chegado, não demorou muito e vi aquela ser humana entrando no local.

- Veio cedo! Bom dia!

- É... Se for pra começar hoje ao menos estou dentro do horário.

- Tá aí esperando por que?

- Esperando ser chamada.

- Ahhh Vitória, você trabalhou aqui, venha comigo, vamos entrar!

A recepcionista fez uma cara de confusa e eu segui a minha amiga pelo caminho conhecido. Incrível como nada tinha mudado, até o cheiro do produto de limpeza era o mesmo. Fomos para a área dos armários das meninas e os comentários temidos foram soltos enquanto eu só sorria. Assim que ela terminou de guardar as coisas, fomos para a copa, que por sorte só tinha uma pessoa, que não me conhecia.

Não demorou muito e o cara que eu queria falar bateu na porta.

- Nem acredito que você está aqui! Nossa, alguém já te disse que você está bem de mais?

- Acho que vocês se acostumaram a me ver doente! - Apertei a mão dele com firmeza.

- Vamos até a minha sala? Se tudo der certo quero você começando amanha!

Ele encheu o como com café e o conduzi para a velha sala do chefe. Lembrei de uma época feliz, olhei para a sala de espera onde muitas vezes o Leonardo me esperava terminar o dia de trabalho. Ao lembrar disso, a imagem vivida do rapaz abraçando a mãe dele. Mesmo perfume e mesmo tamanho.

Ele ofereceu a cadeira para que eu pudesse sentar e ele se acomodou logo depois. Lembro de muitas vezes entrar nessa sala pra entregar relatórios e pensar na pessoa dele, tão jovem, tão responsável e na inspiração profissional que ele representava.

- Bom, primeiramente você nem imagina o quanto significa pra mim te ver bem, saudável, eu pensei que nunca mais a veria, mas que bom te ver assim!

- Eu tive uma segunda chance boa de certa forma.

Tratamento de RiscoOnde histórias criam vida. Descubra agora