Capítulo 17

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Dizem por aí que nada doeria mais do que um coração machucado e seja lá quem tivesse soltado essas palavras ao vento, tinha toda a razão. Escutar aquele coração batendo, aquele cheiro que vinha daquela casa, algo que era tão familiar pra mim, causava grandes rajadas de dor física por todo o meu corpo. Não conseguia mensurar o tamanho da minha dor.

O João tentava falar algo comigo mas eu não conseguia assimilar, enquanto estávamos no caminho, tudo parecia tão surreal, como se fosse uma grande brincadeira do Fernando, parecia que em algum momento ele iria estar a nossa espera e bum! Pegadinha. Mas não, era real.

O Leonardo estava vivo, dentro daquela casa, assistindo televisão, respirando, com o coração batendo repetidamente, com a vida intacta. A cada batida do coração dele eu sentia algo quebrando dentro de mim, eu ia me perdendo, como se uma outra consciência quisesse tomar conta de mim.

Em um instante senti como se o meu corpo fosse explodir de tanta dor, me envolvi com os meus próprios braços e acabei fincando as unhas em mim. Eu não podia perder o meu controle, não agora, eu tinha algo pra resolver, eu poderia surtar sim e ia surtar, mas não naquele momento.

Alguns lampejos de consciência vinham até mim, eu ouvia o João chamar o meu nome e eu nem sei como a minha voz saia de mim. Em uma tentativa boba de oxigenar o meu cérebro, respirei fundo e de certa forma aquele gesto tinha funcionado. Conseguia assimilar as coisas que estavam a minha volta. A dor física e emocional ainda me corroia, mas ao sentir que o João estava ali pra me apoiar, achei um pouco de sanidade dentro de mim e decidi realizar finalmente o meu objetivo ali.

Apertei a campainha e acompanhei o coração dele, percebi o salto que o coração dele deu, alguns segundos depois o barulho da televisão tinha parado. Talvez ele quis transparecer que não tinha ninguém em casa, essa tática funcionaria para mortais como ele, mas pra mim não. Uma onde de prazer me engoliu, percebi o quão fraco ele seria e dei um discreto sorriso. Passaria o resto do dia brincando com o medo dele.

Apertei novamente a campainha e mais uma vez o coração dele vacilou, outra onda de prazer e poder me engoliu. Mas era só isso que eu ouvia, não tinha nenhum movimento dele. Eu precisava fazer ele sair da toca dele. Precisava fazer ele me explicar o motivo de tanta palhaçada.

Aquele maldito coração batendo...

A cada batida, algo em mim ia mudando, eu sentia as minhas veias gelarem e quando mais o meu corpo esfriava, mais vontade eu tinha de quebrar aquele portão, quebrar a porta e esganar aquele maldito, mandando ele pro inferno, junto com o pai dele. O pensamento dele morto, com a garganta cortada me fez salivar.

Como ele tava se fazendo de morto, um ato de fúria explodiu em mim e apertei a campainha sem parar, pra ele entender que quem estava ali fora sabia que ele estava lá dentro. Finalmente ouvi o corpo dele se movimentando, os passos em direção a porta e finalmente o portão se movendo.

- Surpreso ao me ver, amor? - Não conseguir controlar o desprezo em cada palavra que saia da minha boca. Ele estava parado, não estava em choque,  mas estava parado, como se admirasse o que estava vendo.

- Você... - ele sorriu - é, sabia que mais cedo ou mais tarde você iria me achar.

- Sinceramente, se esconder em Cubatão não é bem a melhor estratégia.

- Acontece que escolhi me esconder aqui porque essa cidade me lembrava você, Vitória.

Ouvir o meu nome saindo da boca dele parecia errado, como aquele ser imundo ousava falar o meu nome?

- Patético, sempre patético. Enfim, não vai me convidar para entrar no seu esconderijo?

- Está sozinha?

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⏰ Última atualização: Jul 22 ⏰

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