Finalmente eu tinha enterrado um defunto.
Cheguei em casa sorridente, os meus pais fizeram poucas perguntas e fui direto para o banho. Eu sentia as minhas pernas leves e a sensação da água quente pelo meu corpo tornava tudo mais agradável ainda.
Que noite!
Que noite!
Fechava os olhos e lembrava do rosto dele, o olhar quase de adoração que ele tinha pra mim. Não podia esquecer a sensação de poder que tomava conta de mim. Que homem era aquele?
Mesmo com a vergonha passada de quase ter o chamado de namorado, cada pedaço da noite foi perfeito. Ele era perfeito. Deitei e não foi difícil pegar no sono.
Sono tranquilo, sem sonhos.
Acordei sentindo ainda o toque dele, sentindo o cheiro dele, relembrando o jeito dele de quem sabe onde quer chegar e a minha quase derrapada em um primeiro encontro. Eu estava tão rendida que se ele tentasse fazer algo a mais talvez eu deixasse acontecer. Sim, estava indo rápido de mais e eu prometi que não seria rápido de mais.
Não ir rápido de mais.
Fui para a cozinha tomar um achocolatado com um bolinho fresco, a minha mãe amava fazer bolos e aquele cheirinho que tomava conta da casa era sensacional.
Bolo mármore, o meu predileto.
Tinha calda? Sim! Tinha calda.Tomei o meu café e fui ao trabalho, fiz o velho percurso com o meu pai, ele não costumava falar, o único som que estava entre nós era o do rádio, tocava CPM22, e cantarolei enquanto a minha mente me traia, me relembrando a extinta existência do Leonardo.
Eu amei o Leonardo, eu sempre pensei que aquilo que eu tinha conhecido era a forma de amor mais pura, simples e forte que o ser humano podia sentir por outro. Era como realmente eu tivesse que correr contra o tempo pra arrumar mais um tempinho com ele.
Incrível como ele era o centro do meu mundo, depois da minha família não existia outra pessoa senão o Leonardo. Ele me fazia sonhar ao lado dele coisas inimagináveis, éramos companheiros um do outro em tudo. Mas mesmo assim, toda e qualquer experiência que eu tive com ele não é semelhante ao que vivi com o João no nosso breve momento.
Foi intenso, não numa intensidade de 1000 km/h, foi profundo, pude sentir cada camada do momento, como se eu tivesse embriagada após um breve afogamento na sua existência. Não tinha como, eu estava loucamente afim do João.
Dei tchau ao meu pai e me dirigi ao prédio, a minha amiga estava na portaria me esperando, claro que eu teria que contar detalhes para ela antes de subirmos. Mal entrei no prédio e ela me atacou com um abraço, ela realmente se jogou contra mim e percebi a hora que o meu corpo rígido foi atingido pela maciez do seu corpo, ela fez uma cara como de dor mas manteve o sorriso nos lábios, apenas se afastou um pouco mas me olhou desconfiada.
- Você voltou forte desse tratamento hein? - Ela comentou, passando a mão de leve no queixo que bateu no meu ombro.
- Nos chocamos amiga, apenas isso. Física.
- Nerd! - Ela revirou os olhos. - Mas vem cá, como foi ontem com o Dr Bonitão?
- Chame de João! Doida! Ahhhh... foi legal ué.
- Detalhes, nós duas só trabalhamos com de ta lhes.
- Ahh fomos ao rodízio, o serviço lá é ótimo, mal tu tá terminando o pedaço de pizza e o garçom vem trazendo, um sabor atrás do outro...
- Sim sim... é assim que um rodízio costuma funcionar, vamos a parte que interessa antes que eu morra! Tu não quis me contar por mensagem, o mínimo que eu mereço é alguns detalhes. - Ela fez bico. Sorri e continuei.
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Tratamento de Risco
RomanceA grande procura pela cura da sua doença faz a Vitória aceitar algumas situações para se livrar da dor e dos sintomas que pouco a pouco faziam a sucumbir. Mal sabia que o possível sonho da cura poderia mostrar um caminho tortuoso, cheio de novidades...