Tratamento de Risco

Capítulo 6

Pra falar a verdade eu nem reparei no que eu estava comendo, reparei na mudança corporal do João, depois que eu assinei o contrato ele relaxou, senti como se um peso tinha caído das costas dele. Ele puxou uma cadeira de escritório e sentou-se do meu lado e sorriu.

- Bom, já que serei eu a te falar tudo, bom... Antes de mais nada, quero que saiba que tudo que você souber daqui pra frente pode te abalar e eu vou entender se você ficar com medo e querer sair correndo.

- João, por favor, deixe de enrolação!

- Enfim... A cura basicamente consiste em mudar a programação do seu corpo. Você lembra dos conceitos básicos para os seres vivos que aprendemos na escola? Lá nas primeiras séries, em ciências, a ordem natural das coisas?

- Que o ser vivo nasce, cresce, se reproduz e morre?

- Exatamente! Digamos que você acabe morrendo porque teve essa doença, todos vão dizer que você tinha a vida toda porque você apenas nasceu e morreu, ou seja, pulou a ordem natural das coisas, correto?

- Sim, eu acho.

- Então, o seu corpo foi criado para seguir a ordem mesmo que a ordem não seja seguida, então é nessa programação que o tratamento interfere. Você receberá uma transfusão, com um sangue compatível com o seu, só que terá uma modificação genética, tipo um vírus. Ele entrará nas suas células, se replicará e em algumas horas o seu corpo será impedido de morrer e de promover sintomas de doenças. E isso te impedirá de morrer também.

- Como assim? Eu não morrerei?

- Eu sei, é chocante, mas é a maior verdade. Você não terá mais a capacidade de morrer, pois o seu corpo será forte. Tudo funcionará de forma correta.

- Por isso você tinha falado sobre os efeitos colaterais que eu teria? Mas... Como assim não morrer? É tipo não envelhecer?

- Não envelhecer, não ficar doente, não sentir dor, ser imutável, não se machucar, não morrer. Temos uma alta taxa de recuperação corporal. Por exemplo, se eu pegasse uma faca e decepasse o meu dedo, cresceria novamente.

- De forma instantânea?

- Claro que não né Vitória? - Ele sorriu - Quanto maior o local da lesão, maior o tempo para regeneração. Porém precisamos nos alimentar. Claro que não morremos de doenças ou de dor, porém se não tiver energia recorrente a máquina falha, as regeneraçoes começam a ficar mais lentas, você se sentirá fraca e dormirá até que o seu corpo se alimente dele mesmo e você apodreça aos poucos.

- Então temos uma forma de morrer?

- De certa forma...

- E qual o tipo de coisa que terei que comer? Gorduras em geral, carboidratos?

- O que é a nossa essência?

- Não entendi...

- O que transporta os nossos nutrientes, células de defesa? O que te faz ficar viva?

O meu cérebro não estava rápido o bastante para pensar, mas aos poucos a ideia veio direto pra minha lingua.

- Sangue? - Fiquei boquiaberta.

- Exatamente. Você pode comer pra continuar vivendo sem chamar a atenção, comer pra comemorar, confraternizar, terá absorção dos nutrientes, mas não será a mesma coisa. Mas caso você queira se sentir firme e forte terá que tomar sangue.

- Você bebe sangue?

- Calma, não somos vampiros, mas já chegamos a tomar, numa necessidade maior. Mas geralmente colocamos o sangue diretamente na veia. Mais prático.