OITO

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Na manhã seguinte, o despertador toca às seis horas. Antes que eu pudesse desligar ele, alguém já faz isso por mim. Estranho que ele tenha se desligado sozinho, mas sei quem pode ter sido. Quando abro os olhos, Soobin estava do lado da cama, observando como eu dormia, o que acabou me assustando. Nem sei há quanto tempo ele deve estar ali, mas ele ainda parece estar do mesmo jeito que esteve ontem, no domingo. Hoje está parecendo mais disposto e menos reclamão por algum motivo. É como se ele estivesse feliz por dentro. Mas o que eu queria mesmo saber era como ele abriu a porta do quarto e entrou, mas me lembro que devo ter deixado ela encostada e me esqueci de trancar à noite.

     — Bom dia, bela adormecida — disse ele. — Assustei você?

     Bom dia?, penso. Acho que é a primeira vez que ele me dá bom-dia em meses e isso já é um grande passo. Afinal, ele nem sequer havia me desejado um bom dia quando me viu ontem de manhã depois que acordei. Só se lembrou agora?

     — Eu fiz para você — ele diz, mostrando na bandeja em suas mãos a sopa de algas que eu gostei. Tem também peixe e um suco de laranja. Tudo da mesma maneira que foi ontem, mas ele não precisava ter se incomodado. E porquê isso agora?

     Por acaso isso é um sonho?

     Esfrego os olhos para ver se acordo, mas nada acontece. Essa é a realidade e tudo isso está acontecendo de verdade.

     — Que porra é essa? — É o que eu digo incrédulo, enquanto me levanto e me sento na cama.

     Seja lá que bicho mordeu ele, parece que foi tudo feito com muito carinho.

     E mais uma vez, ele sorriu largo. O sorriso mais bonito de todos que já vi e não me canso. É hipnotizante. Devo ter ido dormir e vindo parar num universo paralelo, e se realmente estiver em um, eu não quero mais sair.

     — Você fez tanta coisa por mim — disse ele. — Acho que chegou a hora de começar a retribuir por tudo.

     Depois da chuva, o sol sempre volta a surgir. É o mesmo que dizer que depois de todo o climão que tinha entre a gente se dissipou agora. Espero que isto seja um milagre e não apenas uma fase boa.

     — Certo — digo, pegando a bandeja e pondo no meu colo. — Você já comeu?

     — Ainda não. Quis fazer primeiro para você.

     — Sabe que eu podia ter ido comer lá, né?

     — Sim, mas eu quis fazer isso por você pelo menos uma vez. Aceite, por favor.

     Ele faz uma mesura e se retira do meu quarto para me deixar comer.

     Como tudo que estava na bandeja sem deixar nada para trás. Me levanto e levo as coisas para a cozinha e ponho a bandeja em cima da pia. Eu poderia deixar para limpar tudo isso mais tarde, mas o Soobin vem e começa a limpar os pratos.

     Ele olha para mim com a mão cheia de espuma.

     — Pode deixar que eu lavo a louça hoje. Você não precisará fazer nada. — disse ele.

     Primeiro ele faz para mim café e ainda serve na cama, e depois diz que vai lavar a louça hoje? Ele só pode ter batido com a cabeça em algum lugar. O que foi que o deixou assim? Será que pode ter sido o filme de romance que vimos ontem que deve ter mexido com ele?

     Deixo a louça ali com ele e vou para o quarto me aprontar. Visto o meu uniforme e pego a minha mochila.

     Soobin sai primeiro que eu e vou logo em seguida dele. Consigo alcançar ele à medida que vou andando. Demora um pouco até eu perceber que estava caminhando bem ao lado dele e ele também percebe.

Dois Sob o Mesmo TetoOnde histórias criam vida. Descubra agora