Primeiro

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Enquanto eu passava as roupas na sala, uma onda de desespero crescente inundava meus pensamentos. Implorava mentalmente por um milagre ou uma solução mágica para os problemas que se amontoavam. O relógio parecia correr em um ritmo frenético, mas eu precisava me acalmar, mesmo com as mãos trêmulas, afinal, havia pessoas que dependiam de mim e eu não podia me entregar ao cansaço avassalador.

A batida na porta me arrancou de minha ansiedade, e reconheci a voz acolhedora de Hailee, minha melhor amiga, minha âncora em tempos difíceis. Tentei secar as lágrimas que teimavam em escapar antes de atender a porta, fingindo normalidade apesar do meu estado.

- Você sabe que pode contar comigo, lembra? - ela disse com um sorriso caloroso.

Suspirei profundamente, deixando escapar parte da tensão que me havia apossado, e abri um sorriso forçado ao convidá-la a entrar. No entanto, sabia que não poderia esconder nada dela.

Enquanto ela acomodava as sacolas na mesa de centro e se sentava ao meu lado no sofá, seus olhos perspicazes percorreram meu corpo, capturando minha vulnerabilidade. Era impossível esconder algo dela, e isso era reconfortante, sabendo que tinha alguém com quem podia ser verdadeira.

Hailee desfraldou sua generosidade diante de mim, revelando dois copos de café e uma caixa de donuts coloridos. Era impressionante como ela conseguia entender as necessidades mesmo sem eu dizer nada. Ao olhar para as sacolas, me dei conta do quão desatenta havia estado.

Com um sorriso brincalhão, ela fez questão de adentrar a sala e depositar tudo sobre a mesa de centro. Sentei-me ao seu lado, sentindo uma mistura de emoções enquanto nossos olhares se entrelaçavam. Era quase como se ela pudesse ler minha alma.

O clima se tornou descontraído quando Hailee demonstrou estar fazendo o mesmo que eu, observando-me discretamente. Essa troca de papéis momentânea nos fez rir e relaxar um pouco.

A conversa fluía naturalmente entre nós, como sempre acontecia. Meus problemas eram o foco central, e ela me ouvia com uma compreensão profunda, como só os verdadeiros amigos são capazes. Falar sobre o "cobrador" e a ameaça que ele representava me fez estremecer, lembrando-me da figura ameaçadora que se aproximava.

Hailee suspirou, parecendo entender cada palavra sem que eu precisasse dizê-las. Havia conforto em compartilhar os mesmos problemas repetidamente com ela, pois sabia que sua empatia genuína era um antídoto para minha angústia.

A menção de Kate, minha filha, trouxe um sorriso genuíno ao meu rosto, uma verdadeira fonte de alegria e luz em meio à escuridão. O pensamento dela na escola me acalmou, trazendo uma sensação de normalidade em um momento turbulento.

Ao observar a sacola novamente, senti um aperto no peito ao notar os itens de comida que Hailee havia trazido. A tentativa de cuidado dela era comovente, mas também tocava em minha própria negligência em cuidar de mim mesma.

Hailee era implacável em seu olhar crítico e amoroso, apontando minha tendência a ignorar minhas necessidades básicas, especialmente a alimentação. Brincamos sobre meu peso e a possibilidade de ser levada pelo vento, mas, por trás das risadas, ela tocava em uma verdade inegável.

A conversa se voltou para Zayn, o homem que já fora o sol de minha vida, agora aprisionado em um vórtice sombrio de doença mental. Minhas palavras obscureceram a realidade, pois dizer em voz alta o quão mal ele estava me doía profundamente. A ideia de interná-lo era um fardo que eu relutava em enfrentar, mesmo sabendo que podia ser a única saída.

A visão de Zayn, magro e ferido, passou diante de meus

olhos, fazendo-me engolir em seco. Era um retrato da devastação que a doença havia infligido. A cada dia, ele implorava para ser levado para casa, mas a complexidade de sua condição tornava impossível dar-lhe o cuidado que merecia.

CHANTAGEM - camren Onde histórias criam vida. Descubra agora