1- A correspondência

33 7 0
                                    

Alya Miller

Sexta-feira, o segundo dia mais feliz da semana. O primeiro é o sábado.

Belle, irá passar aqui em uns vinte minutos para irmos ao presídio, ou escola, como você preferir chamar. Bom, não querendo reclamar, as escolas daqui deixam o Brasil na sola.
E olha só, só eu posso falar mal do meu país.

— Aly, anda logo, nós vamos chegar atrasadas, e você ainda está usando meias!— Belle disse impaciênte adentrando meu quarto.

— Não consigo achar o outro par do meu tênis!

Fiz menção de empurrar a cama para conseguir ver melhor, e pedi ajuda para a garota que me olhava no batente da porta.

— É sério, vamos! Sua mochila está pronta?

Droga, a mochila...

— Ah, ainda tem isso. Coloca na minha bolsa os cadernos e livros de física, biologia, matemática, história e literatura.— Pedi ainda a procura do meu tênis. Eu podia jurar que o devolvi na sapateira.— Lembrei!

Desci as escadas correndo indo até a sala. Havia o deixado lá quando voltei do colégio ontem.

Estávamos indo para o colégio no carro de Belle, que tem uma das melhores playlists, obviamente com a minha ajuda né, tenho um ótimo gosto musical.

I'm drunk in the back of the car, and i cried like a baby coming home from the bar!— gritavamos no carro quase não ouvindo nossa voz devido o volume alto do rádio.

Said, "i'm fine" but it wasn't true, I don't wanna keep secrets just to keep you!

Belle batia loucamente no volante de acordo com as batidas da música, enquanto eu gritava a letra com todo o meu fôlego.

Era lover é quase uma das favoritas, ela passa muito a vibe garota Californiana. Eu amo isso.

****


A última aula só não havia me deixado com uma profunda tristeza e uma grande e eterna vontade de morrer, pelo fato de eu não ter prestado atenção em nem um segundo da aula.

Irônico para quem estuda todos os dias para tentar ter uma vida melhor, não? Mas eu prefiro passar a matéria em casa, com vídeos de professores que não tenham a mesma voz monótona do professor de física, sua voz é parecida com a de um mosquito. Muito irritante.

— Você entendeu algo na última aula?— questionou Belle guardando suas coisas em seu armário.

— Não, na aula daquele professor, a única coisa em que eu consigo pensar é em um mosquito calvo de terno e gravata borboleta.— dei de ombros fechando meu armário.

— Gostei do conceito de mosquito calvo.

Fomos em direção ao seu carro preto que por um acaso era o único no estacionamento. As pessoas vão embora cedo.

— Filme em casa amanhã?— perguntou a morena ligando o carro.

— Óbvio, tenho centenas de filmes em mente!

— Se você disser os filmes "Como se fosse a primeira vez" ou "Esposa de mentirinha" eu mato você.

Ok, eu ia dizer. Mas idai que é o terceiro final de semana seguido que assistimos "Esposa de mentirinha"? O filme é incrivel!

— Eu obviamente não ia falar isso... Eu ia pedir para maratonarmos "Invocação do mal" mas você nem me deixa terminar.

— Isso é bom.

— Esposa de mentirinha e Como se fosse a primeira vez tambem são!— exclamei indignada.

O caminho de volta não foi tão intenso quanto a ida, mas ainda assim com muita música.

****

Tirei minha roupa de antes e a troquei por um pijama largo da Hello Kitty, um dos mais confortáveis que eu tenho.

— Aly, vai lá fora e dá uma olhadinha no correio pra mim, por favor! Acho que meu relógio chegou!— meu pai grita para mim lá de baixo.

Eu? Mas ele está lá embaixo! Qual a dificuldade de dar dois passos!?

Desci as escadas e fui para fora dar uma olhada na caixa, a noite estava fria, sinto a brisa gelada e cortante sobre o meu rosto e meus cabelos bagunçados. Nunca recebemos cartas ou algo assim, geralmente são panfletos sobre as atrações da cidade. Mas meu pai? Meu pai vive comprando relógios. Não são coisas para o trabalho, coisas para a casa, ou para seus filhos. Relógios!

E como se pode esperar, não tem nada na caixa, bom, nada que me interesse. Pego as correspondências e as levo para dentro, as deixo em cima da mesa e volto ao meu quarto.

No exato segundo em que me deito novamente, ouço minha mãe gritar. Mas será possível!?

Quero ver o dia que eu não estiver aqui, quem vai trazer as coisas pra dentro dessa casa? Minha mãe? Meu pai? O Theo? Não!
Vão comprar outra Aly pra me substituir.

Saio da cama num salto e vou reclamando até o andar de baixo, de novo.

Ela tinha lágrimas nos olhos, me deixando aflita, e uma carta nas mãos,  me deixa mais aflita ainda.
Ela me entregou a carta com um sorriso.

Virei a carta e caralho. Tinha o meu nome.

Senhorita Alya Miller

   É com grande prazer que lhe escrevemos e anunciamos.
Você foi aceita na Califórnia Lutheran University!
Aguardamos sua resposta em e-mail.

.
.
.
.
.
.
.
.

Esses pontos podem descrever muito bem minha reação. Pois é, não tive nenhuma.

— Mas o que!?— gritei depois de minutos.

— Você conseguiu meu amor! Você entrou!— exclamou minha mãe.

Meus pais me abraçaram forte enquanto eu ainda tentava processar a ideia de ter realmente passado.

Aí Deus! Eu consegui! Eu nem consigo acreditar!

Que estranho, entrei. E agora? O que vem depois? Tive esse esforço por muito tempo, muito mesmo. Mas e agora que consegui?

Saio em disparada para o meu quarto. Abro minha janela e pego minha lanterna.

Direcionei minha lanterna na janela do quarto de Belle que era em frente ao meu, e por minha sorte as luzes estavam apagadas.
E sem demorar muito, a garota apareceu na janela.

"O que?!" fez o jesto com as mãos.

— Desce, eu te encontro na frente da sua casa!

Ela voltou para dentro, e eu fui a frente de sua casa, e a mesma já estava ali.

— O que houve? espero que tenha um bom motivo, está frio aqui fora.— encolheu-se.

— Eu consegui!

— Conseguiu o que?

— Olha o seu correio!

Ela com toda certeza havia sido aceita, ela uma das garotas mais esforçada que eu já conheci.

Ela vai passar.


°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°°

Não esqueça de deixar sua estrelinha!!

Obrigada por ler😁

𝐏𝐑𝐎𝐁𝐋𝐄𝐌𝐀𝐒 𝐄𝐌 𝐂𝐀𝐋𝐈𝐅Ó𝐑𝐍𝐈𝐀Onde histórias criam vida. Descubra agora