O passado ⁴

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— Foi mal.

— Sem... — Hinata deu uma segunda olhada no cara que bateu nela ao se sentar em seu lado. Naruto Uzumaki. — ... problema — terminou sua fala com um pouco de dificuldade.

A Hyuuga logo se endireitou na cadeira e olhou para baixo, para ver o que ela usava. Jeans. Moletom. Rabo de cavalo. Que tédio. Bom, o que ela esperava? Era meio que difícil se esconder de alguém como Sasuke enquanto ainda tentava ser notada por alguém como Naruto. Ambos eram impossíveis, tinha
decidido nas três semanas desde o incidente de Toneri, porque parecia que ela sempre via Sasuke, e Naruto nunca lhe via.

Até hoje, quando, por um milagre, Naruto acabou se sentando ao seu
lado. O coração da morena estava acelerado com milhares de batidas por minuto, seu joelho não conseguia parar de balançar. Eba! Os cotovelos deles estavam praticamente se tocando.

Então ali estava a alegria a mais que sentiu quando ele tirou um caderno de espiral da mochila. Era um garoto que fazia anotações no estilo antigo! Demais! Isso foi quase suficiente para distrair Hinata da aula que Sasuke estava dando antes de Naruto chegar. Infelizmente, o Uchiha ainda lhe atraía de uma forma que ela não conseguia negar. Principalmente quando falava sobre questões que á deixava irritada, como a que estava discutindo hoje. desregulamentação na indústria financeira.

Por mais que ela acreditasse em regulamentação, sabia que, como
sempre, sua irritação quanto a Sasuke tinha muito menos a ver com o que ele estava ensinando e mais a ver com o que ele fazia com Hinata em seus pensamentos diariamente no quarto. O que ele estava até fazendo agora, por mais que odiasse admitir, que era se atrair por ele. Exigia sua atenção. Exigia seu foco.

Droga, ela o detestava.

— Babacão. — Hinata disse baixinho.

Naruto se mexeu na cadeira ao seu lado.

— O que disse?

Ah, meu Deus. O rosto de Hinata ficou vermelho.

— O quê? — Ele se aproximou para que ela pudesse ouvi-lo sem atrapalhar a aula.

— Acabou de chamar o Uchiha de babacão?

— Não deveria ter dito isso. — Mas, se era disso que precisava para Naruto se inclinar para ela e sussurrar em seu ouvido, então pensaria em falar de novo. Talvez. Depois que o constrangimento passasse. Tipo, no próximo século.

— Não se desculpe! — Naruto exclamou baixinho. — Foi incrível!
Adorei.

Hinata virou a cabeça para ele com um misto de dúvidas e curiosidade.

— Vocês não são amigos ou...? — Os olhos dele eram ainda mais
azuis de perto. E ele tinha marcas, clarinhas, nas bochechas.

— É mais como se fôssemos família, e eu o amo como um irmão. Mas
ele é um completo babacão. — Ele ergueu a sobrancelha. — E acho que
nunca o chamei disso. Tem uma caneta para emprestar?

— Ahn... tenho. — Hinata procurou na sua bolsa. Naruto espiou por cima de seu ombro.

— Essa aí. Essa preta seria ótimo.

Eles pegaram a caneta ao mesmo tempo, roçando os dedos, e Hinata teve que morder o lábio para não arfar.

— Obrigado — ele disse, sorrindo apenas o suficiente para mostrar
aquela covinha provocante. Jesus, ela poderia cair naquela covinha e nunca mais sair. Aquela covinha seria seu fim.

Observou conforme ele folheou seu caderno. As folhas tinham palavras
únicas escritas em letra grande, todas em formato de paisagem. Mala, Merdinha, Imbecil, Cretino, Bundão, Cuzão. Ele parou em uma página em branco e segurou a parte de cima da Sharpie preta com a boca. Então ele
começou a escrever: Babac...

— O que vai fazer? — perguntou Hinata, de repente tanto nervosa quanto empolgada, como se ela fosse virar cúmplice de alguma coisa que poderia ser meio ruim, mas não tanto a ponto de se falar em expulsão ou polícia. O tipo de ruim que sempre parecia poder ser divertido, mas também viciante.

— Sempre escrevo recados para Sasuke quando ele dá aula para avisá-lo de como está indo. Nunca escrevi babacão. — Quando ele terminou de escrever a palavra, ergueu o caderno como se estivesse pontuando um evento. A Hyuuga ficou realmente indignada.

— Você faz isso toda aula?

— Quando Shikamaru não está aqui. Bom, às vezes, quando ele está,
tento enviar um bilhete também. — Alguns outros alunos na fileira do outro lado do corredor sinalizaram para Naruto mostrar para eles o recado de hoje.

Como ela nunca tinha visto isso?
O Uzumaki voltou o caderno à sua frente e o acenou algumas vezes para Sasuke, que nem piscou na direção deles. Se estivessem sentados em
um lugar mais alto, imaginaria que ele não conseguisse ler, mas não
estavam tão longe da frente, e a caneta preta tinha ficado bem legível. Genial.

— Alguma vez ele falou alguma coisa? — perguntou a hyuuga, admirada em como Sasuke permanecia impassível.

— Não. — Naruto fechou o caderno e o guardou na mochila. — Mas nunca me canso. Devo ter o senso de humor de um garoto de nove anos. É como se eu fosse para a galeria senju e tentar fazer os seguranças sorrirem, sabe?  

O mais longe que já tinha ido de casa era ali.

— Nunca fui a galeria senju.

Ele olhou para Hinata, depois realmente lhe analisou. Julgando, talvez, por nunca ter ido à uma galeria de artes — Um dos lugares mais básicos do mundo para os ricos. Isso importava para alguém como ele?

Um sorriso se abriu em seus lábios.

— Então vou ter que te levar lá. — Ele se inclinou para perto de novo e
puxou o rabo de cavalo da morena. — Sou Naruto.

Hinata quase se esqueceu de respirar.

— Sei quem você é. Vou às suas festas. — Ou ela costumava ir. — Sou Hinata.

Quase que simultaneamente enquanto se apresentava, o nome de Hinata soou do outro lado do corredor com o timbre grave de Sasuke.

— Hinata. Quer compartilhar sua opinião sobre regulamentação e
ética?

Hinata sabia que tinha algumas.
Seu estômago caiu. Detestava falar diante da classe, mas, mais importante, o Uchiha nunca chamava os alunos. Nunca. Qual era o problema dele? Não eram os
primeiros flagrados conversando durante a aula dele, com certeza.

— Babacão. — Naruto sussurrou ao lado de Hinata, provocando risadinhas nervosas na Hyuuga.

Felizmente, Sasuke viu na hora.

— Salva pelo gongo imaginário. Parece que a aula acabou. — O
ressentimento era claro em seu tom. — As notas para o trabalho de estratégia corporativa e consciência ética de vocês estarão no portal até o fim da semana. Lembrem-se de que esse trabalho vai contar metade da nota de vocês. — Ele pareceu estar lhe encarando ao falar isso, muito provavelmente porque ainda estava magoado por Hinata ter interrompido sua aula.

Fez uma careta. Detestava quando ele lhe olhava daquele jeito, mas ficou pensando se sentiria falta se de repente parasse. Tinha a sensação
que sim. Pensou se ele sentiria falta se ela parasse de encarar de volta.

— Você tem outra aula agora? — O loiro ao seu lado perguntou.

Hinata se obrigou a parar de fitar o olhar perfurante de Sasuke e viu
Naruto segurando sua bolsa já de pé.

— Obrigada. E não. Intervalo até as duas. — Saiu para o corredor, atrás
dele. — E você?

— Normalmente me encontro com um amigo para almoçar.

Hinata assentiu. Tinha pensado, por um instante, que ele quisesse chegar a algum lugar com a pergunta. Achava que só estava sendo educado. Mas então ele inclinou a cabeça na sua direção.

— Quer ir junto?

The beginningOnde histórias criam vida. Descubra agora