Capítulo 1

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Atravesso o corredor em direção à biblioteca o mais rápido possível, mas tentando não correr. Se eu pudesse poupar o mundo da possibilidade de me ver caindo eu pouparia. Eu sabia que não devia ter acionado o botão de soneca do despertador, mas a preguiça falou mais alto e o resultado é o meu atraso. Não que seja um hábito. Na verdade sou bem pontual, mas o aluno em questão que pediu monitoria de literatura me desanimou totalmente para dar a aula de reforço. Eu não tenho nada contra os atletas e me surpreendi quando, ao chegar na faculdade, perceber que na realidade cada um cuida da própria vida. Claro que gente inconveniente tem em todos os lugares, mas já tendo tido experiências ruins especialmente com pessoas populares, ver que eles vivem na própria bolha aqui, deixando nós, pobres mortais, viver em paz foi um alívio. Mesmo sabendo que estamos em um momento, teoricamente, mais maduro da vida, ainda prefiro manter a distância. Sei que qualquer coisa que aconteça, hoje sou capaz de me defender de qualquer um que falar ou fizer alguma gracinha mas, na maioria das vezes, meu sentido de autopreservação fala mais alto me mantendo distante dessas pessoas. Aliás, se não fosse pelas aulas de reforço que eu dou, tal aproximação nem seria feita. Meu ciclo de amizades é pequeno, mas me basta e sempre consigo novos colegas nessas aulas particulares e em outras aulas.

Chegando à biblioteca, tento parar para recuperar meu fôlego e me organizar minimamente antes de encontrar o aluno. Ofegante e carregando uma bolsa, minha pasta e uma garrafa d'água, tento me acalmar antes de me aproximar do aluno em questão. Avisto de longe um espécime forte, loiro e de cabeça baixa mexendo no celular parecendo bem despreocupado por estar esperando a pelo menos 15 minutos. Me aproximo devagar me preparando para a provável irritação que me espera.

– Boa tarde, desculpe o atraso. As coisas estão muito corridas, está esperando a muito tempo?– Digo apressada, já tentando emendar uma desculpa, mesmo que esfarrapada, para justificar meu atraso. O loiro na minha frente parece não se incomodar com minha fala rápida e me olha com humor

– Calma, respira – Ele diz sorrindo e movimentando as mãos para cima e para baixo, simulando uma respiração lenta e longa – Não se preocupe, eu também atrasei um pouquinho! –

Sua resposta deveria me irritar. Eu sei que é hipocrisia, mas é ele quem precisa de ajuda. Não deveria atrasar, mas o sorriso dele é tão contagiante que me faz soltar um suspiro de alívio

- Então... Adam não é?? O que especificamente te trouxe aqui ? Não sabia que os jogadores precisavam de aulas de reforço– A última parte foi sussurrada, mas não o suficiente para que ele não ouvisse, mas não pareceu se importar com a alfinetada. Todos sabem no campus como os jogadores têm as melhores notas, mas sabem também que nem todos são dignos dessas notas. Verdade seja dita: os professores são levemente persuadidos para favorecer os atletas. O loiro puxa uma respiração longa e revira os olhos ainda mantendo o humor na sua voz.

– Não vou poder jogar os jogos de futebol da próxima temporada, a menos que minhas notas em literatura subam.– Ele reclama, mas não parece realmente estar zangado – Para ser sincero só me inscrevi nessa aula porque precisava de créditos extras e achei que o conteúdo seria fácil, mas o professor parece não ter alma e passa uns livros longos e chatos toda a semana. Então eu estou aqui para fazer o mínimo, tirar a nota mínima e nunca mais cruzar com a literatura na minha vida! –

Sua fala é tão sincera e tão despreocupada que minha gargalhada sai antes que eu segure e sai mais alta do que deveria. Algumas pessoas me olham de cara feia e tento me controlar ao máximo quando Pamela, a bibliotecária, me repreende com olhar e faz sinal de silêncio com o dedo

– Já que é assim – respiro fundo, tentando tomar fôlego depois de rir. O loiro me olha com atenção e me espera terminar de respirar – Eu vou te ajudando na interpretação dos textos que o professor for passando em aula, só o suficiente para que você se saia bem nas provas. Pode ser ? – Já que ele foi tão direto, não pretendo disfarçar minha intenção de apenas cumprir com minha obrigação e me livrar do atleta que dá um estalo em conformação.

Reconhecendo o AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora